EDITORIAL E CHARGE

Rir será nossa vingança

Neste Carnaval, a inexperiência da tropa que desembarcou em Brasília converteu-se em combustível para o humor

Brasil de Fato | Porto Alegre |
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Charge - Santiago

Onde começa a política e termina o Carnaval? Difícil saber no governo Bolsonaro. Por isso mesmo, houve uma irrupção espontânea de marchinhas carnavalescas em 2019, estimuladas pela atmosfera circense que tomou conta do Brasil com a posse da nova gestão.  A musa dos compositores e compositoras que inundaram as redes sociais com sua graça é o realismo fantástico da gestão mais mambembe, grotesca e boçal da história da República. É o que estamos mostrando nesta edição.

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Ao longo das décadas, o Carnaval sempre zombou dos poderosos, fossem de esquerda, centro ou direita. Mas dificilmente qualquer um deles inspirou tanto a veia satírica quanto Jair Bolsonaro, suas ideias, seus filhos, seu partido, seus assessores, seus ministros, seus aliados. Seu governo é um saco de risadas. 

A inexperiência da tropa que desembarcou em Brasília converteu-se em combustível de alta octanagem para o humor nacional. Para tanto, tudo colabora. O despreparo incapaz de enfrentar questões elementares, a predisposição à autofagia, a ignorância, o conservadorismo, as tropelias, as escolhas estapafúrdias na montagem do ministério que ostenta uma penca de processados. A convivência do presidente e seu clã com laranjas e a proximidade das milícias atiçou ainda mais o deboche. 

Além disso, um governo de militares, neoliberais e evangélicos, todos fundamentalistas, é uma tentação e tanto. Autoritários – todos sabemos – são um prato cheio para os espíritos livres. 

Nada disso, porém, oculta as dificuldades pela frente: o assalto aos direitos dos assalariados, o sequestro da previdência, a educação atacada, a saúde combalida, o meio ambiente agredido, as chacinas sob proteção legal. E a necessidade de combate à agenda medieval. Mas é Carnaval e ainda temos o direito de zombar do opressor. Rir será nossa vingança. 


Este conteúdo foi originalmente publicado na versão impressa (Edição 10) do Brasil de Fato RS. Confira a edição completa.

Edição: Marcelo Ferreira