Mais de 30 anos na luta pela saúde feminina fizeram da enfermeira e doutora em saúde pública Alaerte Martins uma referência nessa área no Paraná. Em entrevista para o Brasil de Fato, conta que foi dentro da sua família que percebeu que desejava cuidar de quem cuida de todo mundo: as mulheres.
Primeira mulher de uma família com treze filhos homens, Alaerte tinha a função de cuidar da casa e de todos. “Na época não tinha água nem luz. Eu buscava água no poço para lavar roupa e fazia o fogo no forno à lenha para dar conta da comida”, conta.
Mais tarde, escolheu o curso de Enfermagem na faculdade. “Não foi por acaso. Queria poder cuidar das mulheres que cuidam de todos. São as mulheres que, feliz ou infelizmente, cuidam de toda a família. E delas, quem cuida?”, indaga.
Atualmente aposentada, faz parte da Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos e da Rede de Mulheres Negras do Paraná. Como servidora pública do estado, coordenou programas de saúde da mulher, saúde da população negra e indígena. Cita que atualmente os temas que mais circulam a saúde da mulher são o feminicídio, a mortalidade materna e a violência doméstica e sexual.
Mulheres negras e a saúde
Alaerte, com todos seus anos de estudo e militância, faz questão de destacar que a mulher negra e pobre é a que deve estar no centro das preocupações da saúde. Ela cita que, atualmente, no Brasil, só cresce a mortalidade materna e a maioria das mortes está entre as mulheres negras e pobres.
Defende também que a alimentação seja a base para garantir a saúde da mulher. “Precisamos muito aliar o debate da segurança alimentar, a boa alimentação, com as questões de saúde.” Para ela é preciso pensar na saúde da mulher, e não na doença. “Tendo boa alimentação a mulher se torna resistente, tem saúde para lutar. Para que a mulher possa lutar, ela precisa ter saúde”, conclui.
Edição: Laís Melo