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Universidade fechada

Sem sala e com falta de professores, alunos de faculdade pública têm aula na rua

O protesto aconteceu em frente ao palácio do governo do Paraná, com pedido de solução urgente

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Salas interditadas, aula da FAP acontece na rua, em frente ao Palácio de governo do Paraná
Salas interditadas, aula da FAP acontece na rua, em frente ao Palácio de governo do Paraná - Ana Carolina Caldas

Um pedaço do teto de uma das salas do campus Cabral da Faculdade de Artes do Paraná (FAP) caiu na última terça, 12. Já a unidade de Pinhais, que abriga o curso de cinema, nem abriu desde o início do ano letivo. As duas unidades estão interditadas pela Paraná Edificações e a Defesa Civil. Além de risco de desabamentos, professores e alunos relatam que há ratos e cobras, além de mofo, apresentando risco de contaminação. O calendário dos sete cursos da FAP está suspenso e, até agora, o governador Ratinho Jr. não apresentou solução. 

Por esse motivo, os alunos de Cinema da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), campus Curitiba II, Faculdade de Artes do Paraná (FAP) resolveram realizar aula na rua, em frente ao palácio do governo e da Assembleia Legislativa. A aula pública aconteceu nesta segunda, 18, com a participação dos professores e do coordenador do curso de cinema. “Assim que foram começar as aulas, no início de fevereiro, devido às fortes chuvas, a diretoria nos informou que a sede estava inabitável e as aulas não poderiam começar. Mas sabemos que a falta de manutenção das sedes acontece há anos”, explica a aluna de cinema Viviane Freitas, uma das organizadoras do protesto.

Viviane informou que o protesto em forma de aula pública se dá também devido à falta de professores. “Todos os cursos da FAP estão com falta de professores. Concursos foram feitos, porém os professores não foram chamados. Estão aguardando o governador assinar.”

Descaso e corte de verbas

Para o professor de cinema da FAP Ulisses Galetto, o problema já era anunciado. “Desde 2011, nos governos do Beto Richa, a universidade estadual vem sofrendo cortes. Hoje temos orçamento 50% menor do que era em 2010. A universidade se expandiu com políticas de cotas, o curso de cinema é um dos mais procurados da Unespar, mas há grande descaso acumulado há oito anos”, explica. Em 2015, três campi da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) ficaram fechados.

A Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) fechou as portas por tempo indeterminado e a Universidade Estadual de Londrina (UEL) fechou as contas no vermelho. Em 2018, foi a vez da Unicentro e a UEL anunciarem a suspensão dos calendários de aulas porque o então governador Richa não autorizou a contratação de professores. 

Mais de 80% dos alunos são de fora da capital

São 200 alunos que estão sem aula e 80% dos alunos são de fora da cidade de Curitiba. O aluno de cinema Pedro Guebur Neto diz que amigos estão indo embora e desistindo da faculdade. “Um colega que passou agora já nos disse que vai embora porque sem aula a família não irá pagar aluguel.” Demian Garcia, professor do curso, relata que existe risco de evasão. “Os pais dos alunos estão nos perguntando o tempo todo se as aulas vão começar ou não, gastando dinheiro que não podiam para ficar com os filhos na cidade. Estamos correndo um risco sério de evasão por uma questão estrutural.”

Governo não tem solução e se mostra surpreso

Após a aula pública, alunos foram recebidos pelo líder do governo na Assembleia Legislativa, deputado Hussein Bakri, e por enquanto não há nenhuma solução. Para Gabriel Borges, do centro acadêmico do curso de cinema, a reunião trouxe uma promessa. “O que ouvimos do líder do governo foi que podemos garantir aos nossos colegas que as aulas serão retomadas. Mas não sabemos se essa boa vontade é real.” 

O coordenador do curso de cinema, Tiago Alvarez, esteve em reunião com a assessoria do governador e informou que existe ainda falta de conhecimento da real situação. “Os integrantes do governo se mostraram surpresos com fotos e materiais que levei demonstrando o grau de insalubridade em que a universidade está.” Tiago disse que levou fotos e uma carta aberta dos estudantes e do colegiado do curso solicitando uma resolução urgente. Uma reunião será chamada pela SETI nos próximos dias.

Edição: Frédi Vasconcelos