Ásia

Partidos anunciam frente democrática e reivindicam vitória nas eleições da Tailândia

Junta militar que governa país desde 2014 também disputa pleito; resultado oficial só deve ser anunciado em maio

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Líderes do Pheu Thai e do Partido do Novo Futuro durante coletiva de imprensa sobre a nova frente democrática tailandesa
Líderes do Pheu Thai e do Partido do Novo Futuro durante coletiva de imprensa sobre a nova frente democrática tailandesa - Foto: Lillian Suwanrumpha/AFP

A Tailândia realizou no último domingo (24) as primeiras eleições gerais do país desde o golpe de 2014, quando passou a ser governada por um regime militar. Após o fechamento das urnas, a Comissão Eleitoral responsável pela contagem oficial dos votos divulgou uma série de informações desencontradas, até anunciar que só revelará o resultado final da apuração em maio. A junta militar alega ter conquistado maioria popular no pleito, mas, diante de incertezas e denúncias de irregularidades no processo eleitoral, sete partidos se uniram nessa quarta-feira (27) para formar uma coalizão pelo restabelecimento da democracia no país e reivindicar maioria parlamentar.

Os primeiros números não oficiais da eleição começaram a ser divulgados no domingo, mas a Comissão Eleitoral adiou o resultado final para duas datas: 94% da apuração deve ser conhecida na próxima sexta-feira, enquanto os outros 6% só devem ser revelados no dia 9 de maio. Além disso, observadores internacionais independentes apontaram inconsistências em várias zonas eleitorais, regiões onde foram registrados mais votos que eleitores e “pontos cegos” no transporte das urnas que poderiam prejudicar a credibilidade do processo.

Com as informações que já tinham vindo a público, a frente democrática anunciada hoje, encabeçada pelo Pheu Thai e mais seis partidos, teria 255 das 500 cadeiras da Câmara do país, o que garantiria a maioria para formar um governo. Mas o partido conservador Palang Pracharat, que apoia os militares, também reivindicou a vitória, por ter o maior número de votos totais, 7,9 milhões.

Apesar de tanto os partidos pró-militares quanto pró-democracia terem reivindicado o direito de formar coalizões e assumir o governo, a Comissão Eleitoral afirma que nada poderá ser confirmado até a divulgação do resultado oficial. O anúncio marcado para maio acontecerá alguns dias depois da cerimônia de coroação do rei Maha Vajiralongkorn, entre 4 e 6 de maio.

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Histórico

O regime militar que está hoje no poder na Tailândia derrubou o governo civil da então primeira-ministra Yingluck Shinawatra, filiada ao Pheu Thai, que hoje lidera a frente democrática, em 2014. Com o primeiro-ministro Prayut Chan-ocha, a junta militar do chamado Conselho Nacional pela Paz e a Ordem (NCPO) dissolveu o parlamento e suspendeu a Constituição, declarando inválidas as eleições realizadas naquele ano.

Uma nova carta magna foi elaborada para o país, dando à junta o poder de indicar os 250 nomes do Senado – com sanção do rei – e direito a voto para o cargo de primeiro-ministro, além de reduzir o número de assentos na Câmara e estabelecer que parte dos parlamentares da casa também devem ser indicados pelos militares. O novo texto constitucional, assim, passou a garantir a perpetuação da influência dos militares mesmo em um eventual governo civil.

Depois de muitos atrasos e adiamentos, novas eleições gerais finalmente foram chamadas para o dia 24 de março deste ano. O período eleitoral foi marcado por denúncias de que os candidatos e membros de partidos políticos que contestam o pleito são impedidos de falar com a imprensa, militantes passaram a sofrer com a vigilância do governo para evitar contato com veículos internacionais e comícios eleitorais sofreram com regras restritivas.

Ao mesmo tempo, o país assiste a uma mobilização popular para garantir a restituição da democracia, conseguindo atrair multidões para a campanha contra o governo militar. Existe uma grande insatisfação com o atual regime em toda a Tailândia, o que ficou evidente nos protestos realizados em janeiro, quando milhares saíram às ruas do país para protestar contra o sexto adiamento das eleições gerais.

Um dos grupos a integrar a nova frente democrática é o Partido do Novo Futuro que, apesar de ter apenas um ano, já é uma das maiores agremiações do país em número de membros, com mais de 50 mil partidários. Além da pauta democrática, a organização reúne também lutas de movimentos populares, sindicais e camponeses e atraiu uma geração jovem que exige mudanças no país.

*Com informações de Peoples Dispatch, ABC, The Guardian, The Straits Time e Asia Times

Edição: Aline Scátola