Pernambuco

SAÚDE

Por uma ciência cidadã

Curso de Especialização na área da saúde faz homenagem a Vanete Almeida

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Parte da turma, com profissionais de diversas áreas da saúde dos estados de Pernambuco, Paraíba e Bahia
Parte da turma, com profissionais de diversas áreas da saúde dos estados de Pernambuco, Paraíba e Bahia - Marcela Vieira

Após um ano e quatro meses de estudos, 49 pessoas dos Estados de Pernambuco, Paraíba e Bahia concluíram a Especialização em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho. A formatura foi realizada no último 30 de março, com um ato político, no Centro de Formação Paulo Freire, no Assentamento Normandia, em Caruaru (PE).

Ao todo, foram 14 encontros presenciais numa proposta interdisciplinar. A proposta é ampliar o olhar de profissionais da área da saúde junto aos movimentos populares, criando territórios saudáveis e sustentáveis. O curso surgiu como uma demanda da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, e contou com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a partir das unidades Brasília e Instituto Aggeu Magalhães.

“Trouxemos docentes convidados de várias instituições e tivemos também um apoio muito forte da Fiocruz do Rio de Janeiro, pela Escola Joaquim Venâncio, além de outros estados como da Paraíba e Santa Catarina, além de uma rede daqui de Pernambuco, como docentes da Universidade Federal de Pernambuco”, frisou Mariana Olívia, coordenadora pedagógica do curso.  

Considerando relações políticas ou profissionais dos discentes, foram selecionados diversos territórios para intervenção pedagógica, identificando desafios e potencialidades em áreas diversas como, por exemplo, medicina social, agroecologia e saúde coletiva. O método freiriano teve destaque no curso principalmente pela Pedagogia da Autonomia.

“Eu sou estudante da área da saúde, me formei em Farmácia. Meu curso é muito técnico e não vemos questões como a saúde coletiva, não temos aproximação com os movimentos sociais. Na graduação não vemos a saúde sob outra perspectiva [além da técnica]”, analisou Bismarques da Silva, que faz parte da Consulta Popular e mora em Juazeiro (BA).

Além de graduações na área da saúde, profissionais de outras áreas como pedagogia, geografia, história e jornalismo, por exemplo, concluíram a Especialização em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho. Houve também a modalidade de “curso livre” para quatro pessoas que participaram de todo o processo, mas não possuem graduação.

A proposta do curso diante do cenário político-ideológico do país esteve em pauta durante a formatura. Por um lado, foram levantados desafios como perdas em programas e políticas de saúde e exploração da saúde de trabalhadores e trabalhadoras. Por outro, solidariedade e articulações populares apareceram como antídotos para resistência de um projeto popular no país.

Às formandas e formandos, o dirigente nacional do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Jaime Amorim, destacou o avanço das ideias conservadoras e neo-fascistas influenciando o modelo de democracia no país, além das perdas no setor da saúde: “nos apropriar do conhecimento é determinante para que possamos nos impor e disputar. Então, façam bom uso desse conhecimento, não só para vocês, mas colocar o conhecimento à serviço da sociedade para olhar para frente e ver que ainda há esperança e perspectiva. Se há alguma tarefa que é determinante para nós é não perder a esperança e levar a possibilidade da sociedade sonhar”.

As evocações pela prática uma ciência cidadã, em contraposição ao modelo tradicional distante das vidas em comunidades, foi um fio condutor entre todas as falas públicas. Após citar os altos índices de acidentes de trabalho no país, o professor Danilo Costa (UFPB) falou que “precisamos criar uma ciência nova, que conta disso [modos de vida] que está adoecendo a sociedade”.

A atuação política nas comunidades foi um dos pontos ressaltados por Joelson Santos, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, como forma de construir um país com acesso à direitos na área da saúde. Valcler Rangel, chefe de gabinete da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz lembrou episódios de marginalização de projetos de pesquisa voltados para a área social.  

“Vocês têm a possibilidade de produzir uma ciência que promova e que transforme a vida. Esse é o desafio”, destacou Elionice Sacramento, do Movimento das Pescadoras e Pescadores Artesanais, no contexto de valorização dos conhecimentos populares e os desafios que o olhar colonizador traz para as comunidades.

Além de Pernambuco, a Especialização em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho também foi realizada no Estado do Ceará. A turma pernambucana carrega a homenagem a líder feminista e representante da luta de mulheres trabalhadoras rurais Vanete Almeida.

Edição: Monyse Ravenna