Incógnita

Discurso privatista e embate ideológico: o que esperar do novo ministro da Educação?

Economista Abraham Weintraub fez parte da equipe que esboçou a PEC da Previdência do governo Bolsonaro

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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"Quando você for dialogar, não pode ter premissas racionais", já defendeu o novo titular da pasta
"Quando você for dialogar, não pode ter premissas racionais", já defendeu o novo titular da pasta - Divulgação / Casa Civil

Sucessor de Ricardo Vélez no comando do Ministério da Educação (MEC), a trajetória do economista Abraham Weintraub divide-se entre a atuação profissional no mercado financeiro e a adesão às ideias de Olavo de Carvalho, um dos "gurus" do governo Bolsonaro. Antes de assumir o posto, ocupava a Secretaria Executiva da Casa Civil, segundo cargo mais importante da pasta. 

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Na equipe de transição, fez parte da equipe que esboçou o projeto da PEC da Previdência, que seria proposto em 2019. Ainda em 2018, na Cúpula Conservadora da Américas, defendeu as visões de Olavo de Carvalho no combate ao “marxismo cultural”, afirmando ser preciso vencer o comunismo no Brasil. “Faz como o Olavo de Carvalho diz para fazer. E quando você for dialogar, não pode ter premissas racionais", afirmou na ocasião. 

Carvalho chancelou a escolha do governo e os alunos do guru recentemente demitidos da pasta devem ser reintegrados. Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha pelo Direito à Educação, afirma que o nome de Weintraub poderia ser considerado técnico, desde que para área distinta da que irá comandar. Ele também entende que a gestão Vélez foi marcada por tensões dentro do próprio governo, o que pode se repetir. 

“De um lado vai ter uma corrente que puxa a privatização da educação. Do outro, vai ter o Olavo de Carvalho, que tem defendido que a privatização não é o caminho. [Mas] vai ser um ministro. O resultado dessa divisão vai fazer com que o Brasil fique ainda mais distante de consagrar o direito à educação”, acredita. 

A primeira corrente seria capitaneada pelos ultra-liberais que circundam o ministro da Economia, Paulo Guedes, defensor da desvinculação do orçamento para áreas sociais. Guedes, na visão de Cara, pode constranger os repasses a estados e municípios, agravando a situação das escolas e facilitando o discurso privatista de que o mercado é melhor “e mais barato”. A vertente olavista, ao contrário, defende o investimento e controle sobre a educação pública, na perspectiva do embate ideológico com seus supostos inimigos. 

Lisete Arelaro, professora da Faculdade de Educação da USP, afirmou que é preciso alguns dias para entender que rumo Weintraub pretende dar ao setor, mas avalia que seu currículo não é o ideal para chefiar a área. Manifestando preocupação, entende que o perfil do novo ministro “não nos dá nenhuma perspectiva de que o direito à educação -- pública, estatal, laica e de qualidade -- tenha relação com a história dele".

“De fato, apesar de ele ser um colega professor universitário, não parece ser voltado para o serviço público e entende muito pouco de educação. É uma pena que o presidente, ao tirar um ruim, ponha um que pode até ser pior. Na verdade, ele é um investidor”, diz. 

Abraham Weintraub é mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas e professor na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

Edição: Aline Carrijo