Cantando vitória

Às vésperas da eleição, Bolsonaro articula aliança conservadora na América Latina

Candidato de extrema-direita já conversou com Macri, da Argentina, Benítez, do Paraguai

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Da esquerda para a direita, Iván Duque, Mario Abdo Benítez, Jair Bolsonaro, Sebastián Piñera e Mauricio Macri
Da esquerda para a direita, Iván Duque, Mario Abdo Benítez, Jair Bolsonaro, Sebastián Piñera e Mauricio Macri - Reprodução

A cinco dias das eleições presidenciais do Brasil, o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro começou a articular estratégias políticas com outros líderes da América Latina, em busca de uma aliança conservadora no continente.

No último domingo (21), o candidato e deputado do Partido Social Liberal (PSL) ligou para o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez. Em sua conta no Twitter, o mandatário afirmou que Bolsonaro "transmitiu suas intenções de fortalecer as relações com o Paraguai, caso seja eleito".

Benítez não foi o único líder latino-americano a estabelecer conexões com o ex-capitão do Exército. No início de outubro, após o primeiro turno, o presidente da Argentina, Maurício Macri, também conversou com Bolsonaro e, segundo comunicado da imprensa oficial argentina, os dois "mantiveram uma conversa cordial no marco do processo eleitoral do Brasil".

Em 2016, o candidato de extrema-direita chegou a elogiar as práticas econômicas de Macri, afirmando que, após redução de impostos e gastos do Estado, a "inflação diminui na Argentina". Em 2018, o peso argentino sofreu desvalorização de quase 100% frente ao dólar, o que levou o governo a elevar a taxa de juros e pedir empréstimo ao FMI.

Chilenos

Bolsonaro ainda recebeu a visita de dois senadores chilenos do partido de direita União Democrática Independente (UDI), base do governo do presidente Sebastián Piñera. Jacqueline van Rysselberghe e José Durana estiveram na casa do deputado, no Rio de Janeiro, acompanhados pelo deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM) e do senador Magno Malta (PR), ambos cotados como possíveis ministros de Bolsonaro.

Após o encontro, Lorenzoni afirmou que o candidato agradeceu o "apoio" dos parlamentares chilenos e prometeu que, se eleito, "fará todos os esforços para viajar ao Chile antes da posse".

Por sua vez, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, elogiou as propostas econômicas de Bolsonaro, defendidas por seu principal assessor, o economista Paulo Guedes. Formado pela Universidade de Chicago, berço de economistas ultraliberais, Guedes foi professor da Universidade do Chile durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

A ditadura de Pinochet ficou marcada pelo forte caráter neoliberal e conhecida por receber os "Chicago boys", economistas recém-formados nos Estados Unidos, que foram responsáveis pelo plano de governo que privatizou de forma massiva serviços e empresas estatais chilenas.

Segundo fontes da campanha, se espera que nos próximos dias Bolsonaro converse com Piñera e também com o presidente colombiano, Iván Duque.

Cúpula Conservadora

Em uma tentativa de adiantar os direcionamentos em política externa de um possível governo Bolsonaro, a campanha do candidato está organizando a "Cúpula Conservadora das Américas".

O evento aconteceria em julho, mas foi cancelado para evitar problemas com a Justiça Eleitoral e remarcado para dezembro, depois das eleições.

O objetivo é reunir líderes de grupos de direita da América Latina para debater táticas políticas para as direitas em diversos países. São esperados convidados do Chile, Colômbia, Paraguai, EUA e também opositores dos governos da Venezuela e de Cuba.

De acordo com fontes da campanha de Bolsonaro, o candidato pretende impulsionar a criação de um bloco "liberal-conservador" no continente, articulado com governos de países vizinhos.

Apesar das promessas de permanecer no Mercosul, o deputado do PSL não é simpático com o atual configuração econômica e parece buscar em outros governos um possível apoio para a guinada do bloco à direita.

Edição: Opera Mundi