Perseguição

Ativista do movimento de software livre Ola Bini é detido no Equador sem acusações

Prisão é vista por amigos e ativistas como tentativa de reprimir comunidade que defende segurança e privacidade na rede

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Aeroporto de Quito, onde o ativista Ola Bini foi detido quando embarcava para o Japão
Aeroporto de Quito, onde o ativista Ola Bini foi detido quando embarcava para o Japão - Jordy Vaca/Wikimedia Commons

O ativista e pesquisador de segurança da informação Ola Bini foi detido pelo governo equatoriano em Quito nesta sexta-feira (12). Bini foi preso sem acusações formais e está sendo impedido de entrar em contato com um advogado e com os amigos. A prisão aconteceu poucas horas depois de a ministra do Interior do Equador, Maria Paula Romo, afirmar em entrevista coletiva que havia supostos “hackers russos” no país.

Bini é um nome importante do movimento software livre e pela privacidade digital, tendo desenvolvido um trabalho extenso na área de comunicação segura e anonimato com diversas organizações internacionais, além de ser autor de livros sobre tecnologia da informação. O desenvolvedor de softwares é cidadão sueco e tem visto para trabalhar e residir no Equador. A prisão do ativista está sendo vista como parte de uma ofensiva para reprimir a comunidade que defende uma tecnologia que permita maior segurança na comunicação.

No momento da prisão, Bini estava prestes a embarcar para o Japão para participar de um treinamento na organização internacional de artes marciais Bujinkan. Ativistas e amigos próximos questionam a prisão.

O acadêmico e ativista indiano Vijay Prashad afirmou que “Ola Bini é inocente e foi preso no Equador sem motivo”. Nas redes sociais, Prashad fez um chamado para pressionar o presidente Lenin Moreno pela liberação de Bini.

Martin Fowler, cientista-chefe da ThoughtWorks e antigo colega de Bini, também escreveu no Twitter: “Fico muito preocupado de saber que meu amigo e colega Ola Bini foi preso no Equador. Ele é um grande defensor e desenvolvedor na área de privacidade da informação e até agora não conseguiu falar com um advogado.”

Autoridades equatorianas citadas pela imprensa afirmam que Bini foi preso em uma operação para desmontar uma conspiração para chantagear o presidente Lenin Moreno. No entanto, a advogada e ativista Renata Ávila afirmou ao site de notícias indiano NewsClick que “a prisão de Bini é uma tentativa de Lenin Moreno de salvar a própria pele recriando o mesmo tipo de espetáculo judiciário que o sistema estadunidense fez com os hackers russos”.

Moreno enfrenta um grande escândalo desde o vazamento dos chamados INA papers, que revelaram casos de corrupção envolvendo pessoas próximas ao presidente equatoriano.

Em uma série de posts no Twitter, Y. Kiran Chandra, secretário-geral do Movimento Software Livre da Índia, falou da importância da contribuição de Bini para o desenvolvimento de tecnologias em segurança da informação e questionou por que “um dos melhores desenvolvedores que soluciona problemas da sociedade com a tecnologia está sendo tratado de maneira tão perversa”.

Antes da prisão, Bini comentou no Twitter sobre a declaração da ministra Maria Paula Romo a respeito da suposta presença de hackers russos no país, demonstrando preocupação com o que parecia uma “caça às bruxas”.

Edição: Peoples Dispatch | Tradução: Aline Scátola