Agrotóxicos

Acionistas votam por demitir a diretoria da Bayer, em crise após compra da Monsanto

Maior transnacional do setor de agronegócio herdou processos em decorrência de impactos de agrotóxicos e transgênicos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Compra da Monsanto, conhecida pela fabricação de venenos, aumentou as tensões internas na alemã Bayer
Compra da Monsanto, conhecida pela fabricação de venenos, aumentou as tensões internas na alemã Bayer - Divulgação

A primeira assembleia de acionistas da gigante alemã Bayer após a compra da Monsanto, na última sexta-feira (26), teve um resultado histórico no mundo corporativo europeu: 55,5% dos acionistas votaram pela demissão da diretoria da empresa, incluindo o atual CEO Werner Baumann, e 33,6% votaram pela demissão do conselho de administração. É a primeira vez que números dessa magnitude atingem uma empresa listada na bolsa de valores alemã. Em geral, os votos pela demissão não passam de 1%.

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Enquanto movimentos populares criticam a empresa pelos impactos causados por seus produtos – agrotóxicos, sementes transgênicas e remédios –, os grandes acionistas estão preocupados com a queda nas ações devido aos processos contra a Monsanto nos Estados Unidos, herdados pela Bayer. Em 2018, o valor total das ações teve queda de 38%, e a empresa foi rebaixada pela S&P para o grau BBB -- o último nível antes de ser considerada uma "ação-lixo".

A Coordenação Contra os Perigos da Bayer e a Articulação de Acionistas Críticos, em conjunto com uma série de movimentos, organizou um protesto em frente ao centro de convenções onde a assembleia de acionistas foi realizada, na cidade de Bonn, na Alemanha. O protesto contou com agricultores orgânicos, apicultores e ativistas do campo ambiental.

Cerca de 500 adolescentes que integram o movimento Fridays For Future marcharam do centro de Bonn até o local do ato, gritando slogans anti-capitalistas e contra a empresa. O movimento, iniciado pela jovem sueca Greta Thunberg, se espalhou pela Europa. Jovens de vários países deixam de ir à escola às sextas-feiras para protestar contra o aquecimento global e alertar a população sobre o risco das mudanças climáticas.

Além do protesto, que confrontou diretamente os acionistas no local, outra estratégia é a utilização de ações da empresa para participação crítica na assembleia. Trabalhadores aposentados ou pequenos poupadores que possuem ações da empresa cedem à Articulação de Acionistas Críticos o direito de fala na durante a assembleia. Assim, 34 militantes puderam expor suas críticas a atuação da empresa e pedir explicações diretamente à diretoria e ao conselho fiscal da Bayer.

Um dos ativistas que participou da assembleia foi Alan Tygel, integrante da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, convidado para o evento pela Misereor e pela Articulação de Acionistas Críticos. O Brasil, como um dos maiores mercados da Bayer no mundo, tem importância central nos resultados da empresa.

Tygel denunciou as intoxicações e envenenamento da água causados pelos agrotóxicos da Bayer, bem como o apoio ao governo de extrema direita vigente no país.

“Em 2018, o setor que defende os grandes empresários do agronegócio, incluindo as multinacionais do veneno, foram peça-chave para a eleição do presidente de extrema-direita que hoje governa nosso país. Em troca, somente nos 100 primeiros dias de governo, foram autorizados 152 novos agrotóxicos para venda no Brasil”, afirmou o representante brasileiro.

Uma das perguntas feitas por Alan, e não respondidas pelo CEO Werner Baumman, se referiu à reforma da Previdência: “A ABAG e o Sindiveg, associações de classe das quais Bayer e Monsanto fazem parte, apoiam a reforma da previdência do presidente de extrema-direita Bolsonaro, que dificulta a aposentadoria de trabalhadores rurais. A Bayer acha justo a retirada de direitos e o aumento da exploração dos trabalhadores rurais brasileiros?”, questionou.

O número de pessoas inscritas para falas chegou a 70, algo inédito neste tipo de reunião, o que fez com que a votação final acontecesse apenas às 23 horas.

Ainda que os motivos que levaram os acionistas a votarem contra a diretoria sejam puramente econômicos, o resultado final da assembleia foi comemorado pelos movimentos. A Coordenação Contra os Perigos da Bayer afirmou que “nunca antes houve protestos tão grandes nas ruas e no microfone dentro da assembleia”.

Como o Conselho de Administração não foi demitido, ainda há incerteza sobre a permanência ou não do CEO da Bayer no cargo.

 

* Com informações da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

Edição: Daniel Giovanaz