MOBILIZAÇÃO

80 mil nas ruas de Salvador em defesa da Educação

Atos aconteceram em mais de 20 cidades da Bahia contra os cortes na educação e a reforma da Previdência

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
Porfessores, estudantes, trabalhadores em educação, movimentos populares se mobilizam pela educação.
Porfessores, estudantes, trabalhadores em educação, movimentos populares se mobilizam pela educação. - Gabriela Barros

Milhares de pessoas saíram às ruas em todo o estado da Bahia nesta quarta-feira (15), em defesa da educação e contra a reforma da Previdência. Atos ocorreram em pelo menos 20 cidades do estado. Em Salvador, mais de 80 mil pessoas realizaram uma caminhada da Praça do Campo Grande até a Praça Castro Alves. Nem a forte chuva e depois o forte sol esmoreceram os manifestantes. Professores, estudantes e trabalhadores em educação do ensino básico e superior, movimentos sociais e sindicais, fizeram ecoar gritos de ordem, sons de batucadas, coreografias, apitos, palmas e cartazes em defesa da educação, contra a reforma da Previdência e pedindo a liberdade do ex-presidente Lula.

Intervenções artísticas de dança e teatro ocorreram por todo o trajeto. A intervenção construída por estudantes da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia chamou atenção: vestidos de preto, com as bocas vedadas e braços imobilizados, os estudantes seguravam livros em protesto.

Fábio Nunes, de Salvador, professor da rede estadual de ensino, diz que foi para a rua hoje defendendo a educação porque para ele é impossível conceber que um país com problemas como o Brasil vai cortar recursos da educação. “É com educação que se constrói um país novo, que se forma novos profissionais, que se constrói consciência crítica. Então estamos na rua hoje para defender a educação, não só pela educação em si, mas porque defender a educação é também defender o Brasil”, pontua. 

“O dia de hoje é extremamente representativo porque para nós qualquer ofensiva e retirada de direitos da classe trabalhadora é um momento de a gente reivindicar, lutar e dizer não. Nos somamos porque entendemos  que este ato não é só da educação, é da classe trabalhadora e do povo brasileiro. E  a gente tá na rua para dizer não a essa ofensiva, não a esse desrespeito contra nós, mulheres e homens, que precisamos da educação pública, que precisamos dos serviços públicos para sobreviver. Nosso direito à educação é nosso direito à soberania nacional. E é por isso que estamos nas ruas com tantos movimentos, para dizer não a esse desmonte”, ressalta Leia Nascimento, educadora e dirigente estadual do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos – MTD.

Renato Jorge, Coordenador Geral do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Universidades Federais do Estado da Bahia (ASSUFBA), acredita que é um grande dia para a educação. Hoje, as cinco universidades federais no estado paralisaram as atividades - UFBA, UFRB, UFSB, UFOB E UNILAB. Renato explica que a preocupação é que os cortes na educação comprometam o funcionamento de nossas universidades. “Nós temos os hospitais universitários, que fazem assistência e estão reduzindo o seu atendimento em função do corte, então é muito sério o que está acontecendo”. 

Renato afirma a importância da realização de um ato com uma construção coletiva de amplos setores para barrar o corte de 30% dos recursos das universidades federais anunciado pelo governo Bolsonaro. Mas também traz outras pautas nas reivindicações. “Viemos na rua cobrar o corte na educação, mas tem uma questão muito importante que é a reforma da Previdência. Essa reforma atinge diretamente a população pobre, negra e as mulheres em especial”, ressalta Renato Jorge.

Raquel Neri, Presidenta da APUB Sindicato - Sindicato dos professores e professoras das instituições federais de ensino superior do estado da Bahia, avalia que o ato realizado superou as expectativas das entidades organizadoras e é um começo. “Essa luta vai ter continuidade. As universidades estão mobilizadas. Na UFBA, onde atuo, em todas as suas unidades há movimentos espontâneos de auto-organização, de discussão, de debate e de ação política organizada e que têm nesse espaço aqui uma culminância. Nossa expectativa agora é aguardar os efeitos e a incidência política dessa movimentação no Executivo, no Legislativo”, conclui. 


Estudantes secundaristas e do ensino superior estiveram em peso no ato exibindo cartazes em defesa da ciência e tecnologia, filosofia e sociologia, em defesa de um futuro. Caroline Anice, estudante de psicologia e integrante do Diretório Central dos e das Estudantes da UFBA, falou sobre a importância do movimento estudantil historicamente estar nas ruas. “Nós estudantes organizados estamos para dizer que este governo Bolsonaro não entende nada de educação pública, gratuita e de qualidade. O movimento estudantil ao longo da história sempre esteve nas ruas nos momentos principais da conjuntura brasileira. Sem dúvidas esse é um momento histórico, um momento que nós precisamos estar em luta defendendo a educação pública, defendendo as universidades públicas e a organização estudantil. Nossa organização não começa no dia de hoje e nem termina no dia de hoje, nós precisamos seguir organizadas e organizados. Existe uma juventude organizada que não vai recuar e não vai deixar essas medidas passarem”, finaliza.

Os atos que aconteceram em todo o Brasil fazem parte da preparação para greve geral convocada para o dia 14 de junho. Professor Rui, Coordenador Geral da APLB Sindicato, Secretário Sindical da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação em Brasília, diz que esse foi o maior ato da educação que já ocorreu no estado da Bahia. “Não teve ato apenas em Salvador, teve atos em todas as grandes e médias cidades. Por isso estamos aqui dizendo a Bolsonaro que não adianta ameaçar, nós não vamos arrefecer e vamos construir a greve geral dia 14 de junho. Nós conseguimos parar o Brasil todo, rede privada, ensino superior, entidades da educação básica, movimento estudantil e vamos construir uma grande greve geral”, conclama.
 

Edição: Lorena Carneiro