Impasse

Exército sudanês suspende negociação com civis por 3 dias após ataque a manifestantes

Organização civil que negociava governo de transição após queda de Bashir considerou decisão “lamentável”

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Forças civis lamentaram a suspensão das negociações e afirmaram que vão continuar mobilização
Forças civis lamentaram a suspensão das negociações e afirmaram que vão continuar mobilização - AFP

Depois de afirmar que havia chegado a um acordo para um governo de transição com grupos civis organizados, o Conselho Militar de Transição (CMT) que assumiu o comando do Sudão após a queda de Omar Al-Bashir suspendeu por 72 horas as negociações na quinta-feira (16).

As Forças da Declaração de Liberdade e Mudança (FDLM), que organizam os diversos grupos mobilizados para exigir um governo civil no país, afirmaram em nota que a suspensão das negociações é “lamentável”. O movimento afirmou que continuará realizando manifestações de massa, barricadas e piquetes.

O anúncio dos militares aconteceu pouco depois de manifestantes desarmados serem atacados durante um protesto massivo para exigir que a junta militar transfira o poder para autoridades civis. A ação aconteceu nas barricadas erguidas para proteger a vigília permanente realizada em frente à sede do exército na capital sudanesa, Cartum, e deixou 14 pessoas feridas.

Os participantes do ato denunciaram que os tiros com armas de fogo partiram de membros das Forças de Apoio Rápido (FAP), grupo paramilitar conhecido por ter participado do genocídio de Darfur. O líder da FAP é vice presidente do Conselho Militar de Transição.

Foi o segundo ataque contra manifestantes nesta semana. Na segunda-feira, um ataque também atribuído às FAP matou quatro manifestantes civis e um major do exército.

Acordo frustrado

Na noite de quarta-feira (15), civis e militares tinham chegado a um acordo sobre um período de transição de três anos em que ambos teriam poder no governo até a realização de eleições. Foi definido um conselho legislativo com 300 membros, sendo dois terços das FDLM, implicando que a escolha dos demais assentos seria supervisionada pela junta militar.

Após o ataque de quarta-feira, pouco antes da finalização do acordo, o CMT suspendeu as negociações e exigiu a remoção das barricadas montadas pelos manifestantes em locais estratégicos da cidade e a abertura das pontes que conectam a capital com outras regiões.

A exigência, no entanto, deixaria as mobilizações de massa vulneráveis a ataques pelo exército e por milícias que teriam mais facilidade de se deslocar. O chefe da CMT, general Abdel Fattah al-Burhan, insiste na necessidade para criar “uma atmosfera adequada para concluir o acordo”.

Resistência popular

Sem se abalar com a advertência do general sobre não “provocarem as forças de segurança”, os manifestantes civis redobraram os esforços para proteger as barricadas de forma mais sistemática. As FDLM convocaram “comitês de supervisão” para os pontos de controle para impedir a entrada de armas e membros do regime de Omar Al-Bashir, deposto em 11 de abril, nas áreas de mobilização.

Os manifestantes estão se revezando em grupos para proteger as barricadas e foram instruídos a não responder a provocações e ameaças feitas pelas forças de segurança e milícias.

Na terça-feira (14), juízes, advogados e conselheiros do Ministério da Justiça e da Procuradoria Geral do Sudão fizeram um protesto em frente ao prédio da Suprema Corte do país condenando o ataque contra o protesto de segunda-feira, caracterizando-o como um “massacre”. Eles exigiram a reestruturação do Judiciário para dar tratamento adequado às violações em julgamentos justos, segundo a rádio Dabanga.

Centenas de moradores de Wad Madani, capital de El Gezira State, fizeram uma marcha e uma vigília em frente à secretaria de governo do estado em solidariedade. Na semana passada, muitos manifestantes da cidade ficaram feridos durante repressão das forças de segurança para destruir as barricadas.

Também estão sendo realizadas marchas e atos em cidades de outros estados, como Cordofão do Norte, Darfur do Sul, Mar Vermelho e Cassala.

Edição: Peoples Dispatch