Meio Ambiente

Rio Doce pode ser atingido novamente, caso barragem em Barão de Cocais (MG) se rompa

Bacia hidrográfica foi duramente impactada em 2015, depois do crime sócio-ambiental em Mariana (MG)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Moradores protestaram durante treinamento de evacuação na cidade de Barão de Cocais (MG) no sábado (18)
Moradores protestaram durante treinamento de evacuação na cidade de Barão de Cocais (MG) no sábado (18) - Divulgação

Um possível rompimento da barragem Sul Superior da mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), pode contaminar novamente a bacia do Rio Doce, de acordo com comunicado oficial divulgado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad).

A bacia já foi afetada em novembro de 2015, após o rompimento da barragem da mineradora Samarco (controlada pela Vale e pela BHP Billiton) em Mariana (MG). Na época, a lama escoou até o litoral, impactando dezenas de municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo. 

Já com o provável rompimento da barragem em Barão de Cocais -- anunciado pela própria Vale e pela Agência Nacional de Mineração (ANM), a lama deve chegar a quatro córregos que atingiriam o Rio Santa Bárbara, afluente do Rio Piracicaba, que, por sua vez, é afluente do Rio Doce. A água desses mananciais se tornaria imprópria para o consumo humano e, devido a redução do oxigênio, peixes e outras espécies aquáticas podem morrer.

Além disso, "Os cursos d’água podem ter redução da vazão decorrente do assoreamento da calha principal e deposição do rejeito", informa a nota da Semad. O comunicado também diz que os rejeitos devem destruir cerca de 383 hectares de mata atlântica e pode, ainda, ter impactos energéticos, pois atingiria a Usina Hidrelétrica de Peti, em São Gonçalo do Rio Abaixo (MG). 

Rompimento iminente

Moradores das proximidades da mina vivem dias de angústia, desde fevereiro, quando cerca de 400 pessoas foram evacuadas da chamada Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem (comunidades de Piteiras, Socorro, Tabuleiro e Vila do Gongo).

Em março, o nível de alerta dessa mesma barragem, que possui 85 metros de altura e 5 milhões de m³ de rejeitos, subiu para nível 3. O prazo previsto pela ANM para rompimento do talude era o último sábado (25). Em um documento enviado ao Ministério Público de Minas Gerais pela Vale, a engenheira Rafaela Baldi reconheceu que "com as vibrações típicas da atividade minerária, esta estrutura vai se desestabilizando e pode cair sobre a cava”.

No domingo (26), um dia após o prazo final anteriormente anunciado, a ANM anunciou que a barragem pode se romper a qualquer momento. Em alguns pontos, a movimentação do talude da barragem (espécie de "paredão" que fica acima da cava de mineração na mina de Gongo Soco) chegou a  20 centímetros por dia – o ritmo considerado normal é de 10 centímetros por ano. O rompimento do talude pode causar uma reação que levaria a barragem ao colapso. 

Em nota, a Vale afirma que tem tomado todas as medidas preventivas para garantir a segurança dos moradores, e que "tanto o talude da mina de Gongo Soco como a Barragem Sul Superior estão sendo monitorados 24 horas por dia e as previsões sobre deslocamento de parte do talude, revistas diariamente".

Edição: Aline Carrijo