MEMÓRIA E JUSTIÇA

Argentinos recordam assassinatos de trabalhadores pela polícia, há 17 anos

Darío Santillán e Maxiliamo Kosteki tinha entre 21 e 23 anos e foram mortos durante um protesto de piqueteiros

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Darío Santillán e Maximiliano Kosteki foram homenageados pelos movimentos populares na Argentina nessa quarta (26)
Darío Santillán e Maximiliano Kosteki foram homenageados pelos movimentos populares na Argentina nessa quarta (26) - Emergentes

Como fazem todos os anos no dia 26 de junho, integrantes de movimentos populares e organizações sociais da Argentina organizaram uma jornada de protestos para recordar o assassinato de Darío Santillán e Maximiliano Kosteki, mortos pela polícia militar há 17 anos. 

O crime, ocorrido em 26 de junho de 2002, ficou conhecido como Massacre de Avellaneda, em referência à estação ferroviária que atualmente leva o nome dos militantes. 

Darío y Maxi, como são recordados pelos manifestantes, faziam parte do movimento de trabalhadores desocupados, também chamados de “piqueteros”, e no dia do assassinato participavam de uma marcha na Ponte Pueyrredón, em Buenos Aires, no auge da crise econômica argentina (1998-2002) que levou a um desemprego massivo.

Nessa quarta-feira (26), manifestantes e familiares marcharam novamente para reivindicar, desta vez, o julgamento e a condenação dos responsáveis pela repressão que culminou no assassinato dos dois jovens militantes. 

Durante o ato, eles recordaram seu legado e também denunciaram a perpetuação no poder de representantes políticos que perseguem e criminalizam a luta social. O lema da marcha foi: “Os assassinos de ontem não podem ser os salvadores de hoje”.

Familiares de outras vítimas da violência policial também participaram da jornada. Entre eles, estavam o pai de Darío, Alberto Santillán, seu irmão, Leo Santillán, e Sergio Maldonado, irmão de Santiago Maldonado, desaparecido e morto após uma repressão policial a uma comunidade mapuche em agosto de 2017. 

Camila Parodi, do portal argentino Marcha Notícias, comenta que durante a mobilização foram realizadas oficinas e outras atividades culturais, mas que a tradicional ação dos manifestantes foi impedida pela polícia pela primeira vez.

“Pela noite, ao fazer o que historicamente fazemos, interromper o trânsito na ponte, encontramos um bloqueio policial que não possibilitou que as famílias de Darío e Maxi pudessem subir na ponte e realizar o cortejo com velas. E na manhã deste 26 também fomos impedidos de subir na ponte”, diz.

Para a militante, esta é uma decisão política do governo, sobretudo de Patricia Bulrich, ministra de Justiça, que enviou um forte aparato policial para o local. “Demos as costas para a ação do governo e não reagimos, mas isto não quer dizer que no ano que vem eles poderão continuar fazendo isso, encontraremos outras estratégias para subir na ponte e continuar recordando a luta de nossos companheiros”.

Estação Darío Santillán e Maximiliano Kosteki | Foto: Marcha Notícias

Impunidade

Pelas mortes de Santillán e Kosteki, foram condenados à prisão perpétua o então superintendente da Polícia de Buenos Aires Alfredo Fanchiotti, que estava à frente da operação policial, e o cabo Alejandro Costa. Outros cinco policiais receberam penas menores.

Os familiares das vítimas pediram que também fossem investigadas as responsabilidades do então governador de Buenos Aires, Felipe Solá, e de seus auxiliares, mas isso nunca acontecer.

Na quarta-feira passada (19), foi realizada uma Audiência Pública no Congresso da Nação Argentina, convocada por organizações sociais e de direitos humanos, junto com os familiares, para novamente exigir o julgamento de Solá, segundo Parodi, "por ter enviado a ordem de fechar a ponte e disparar contra os manifestantes". 

Solá foi apresentado como possível candidato presidencial nas eleições de outubro deste ano pelo Partido Justicialista. Diante disso, foi organizada uma campanha contra sua candidatura, nomeada “Com eles não”. 

Vidas interrompidas

Ao ser assassinado, Maximiliano Kosteki tinha 23 anos e iniciava sua militância nos projetos do Movimento de Trabalhadores Desocupados (MTD). Nascido em Lomas de Zamora, na grande Buenos Aires, Kosteki era artista e se dedicava a projetos como a construção de restaurantes populares, hortas e bibliotecas populares, para as quais doou seus livros.

Darío Santillán tinha 21 anos. Sua atuação política começou aos 16 anos no movimento secundarista na cidade de Cláypole, na grande Buenos Aires. Em 2000, sua organização integrou-se ao recém-formado Movimento de Trabalhadores Desocupados (MTD). Uma das organizações surgidas no contexto das intensas mobilizações dos piqueteiros entre o final da década de 90 e início dos anos 2000 leva seu nome, a Frente Popular Darío Santillán.

Bandeira e faixa da Frente Popular Darío Santillán no ato do último 26 de junho | Foto: Emergentes

Edição: João Paulo Soares