62 mortes

Quatro presos de Altamira são mortos dentro de caminhão na transferência para Belém

Secretaria de Segurança Pública afirma que todos os transferidos eram da mesma facção; corpos tinham sinais de asfixia

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Com os óbitos registrados durante transferência, 62 pessoas que estavam detidas da penitenciária de Altamira já morreram desde segunda (31)
Com os óbitos registrados durante transferência, 62 pessoas que estavam detidas da penitenciária de Altamira já morreram desde segunda (31) - Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Um novo episódio de violência ampliou o número de mortes entre as pessoas que estavam detidas no Centro de Recuperação Regional de Altamira, no Pará, 830 km distante de Belém por estrada. Foi justamente durante a operação de transferência de 30 presos para a capital paraense que quatro deles morreram, totalizando 62 mortes desde segunda-feira (29). Eles estavam sendo transportados em um caminhão, divididos em quatro celas. 

Segundo a Secretaria de Estado de Segurança Públcia (Segup), os corpos tinham sinais de asfixia e foram encontrados na chegada do caminhão a Marabá, à 1h da madrugada desta quarta-feira (31). Ainda de acordo com a Segup, todos os presos transportados eram da mesma facção, viviam juntos nas mesmas celas e estariam algemados.

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Outros 16 líderes do confronto já haviam sido identificados e transferidos para Belém. Segundo o governo, dez deles irão para o regime federal e os demais serão redistribuídos nas penitenciárias estaduais.

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Dois meses atrás, no dia 20 de maio, uma manifestação de familiares de presos, na frente do Centro de Recuperação Regional de Altamira, no Pará, alertava para os riscos de um possível confronto entre integrantes de facções rivais, o Comando Classe A (CCA) e o Comando Vermelho (CV), que tentam controlar o presídio. Na manhã desta segunda-feira (29), 58 presos morreram, 16 deles decapitados, após uma rebelião na unidade prisional.

Questionada, a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe) afirmou, em nota, que possui “protocolos para a maioria dos casos, mas neste específico, não tínhamos informações sobre um ataque dessa magnitude".

Porém, em maio de 2019, a própria Susipe reconheceu que recebeu dos familiares um pedido de transferência dos presos de facções rivais.  O órgão se recusou a atender a demanda.

“Devido a divisão e dos internos, controle das ações e ações para prevenir atos de violência dentro do cárcere, a Susipe não visa - a priori - execução de transferências. A superintendência está acompanhando em tempo real todo o movimento da massa carcerária”, informou a Superintendência em seu site.

De acordo com relatório do Conselho Nacional de Justiça, divulgado na tarde desta segunda-feira (29), o Centro de Recuperação Regional de Altamira abrigava 343 presos, mas tinha capacidade para apenas 163. O órgão qualifica como “péssima” a condição da unidade.

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A Susipe informa que, por volta das 7h, presos da CCA, que estavam no Bloco A, invadiram o anexo vizinho, onde estavam internos do CV. Ato contínuo, as celas foram trancadas e incendiadas, provocando a morte por asfixia de parte das 57 vítimas. O órgão ainda não concluiu a perícia no local para precisar a cronologia dos fatos e nem mesmo a identificação dos cadáveres.

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"Foi um ato dirigido. Os presos chegaram a fazer dois agentes reféns, mas logo foram libertados, porque o objetivo era mostrar que se tratava de um acerto de contas entre as duas facções, e não um protesto ou rebelião dirigido ao sistema prisional", afirmou Jarbas Vasconcelos, secretário de Segurança Pública do Pará.

Edição: Rodrigo Chagas