Rio Grande do Sul

RESISTÊNCIA NO RS

Defesa da educação e da Previdência: “Todo inverno é seguido por uma primavera”

Em Porto Alegre, cerca de 30 mil pessoas protestaram contra os ataques à educação pública e à aposentadoria

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Ato unificado percorreu a cidade, da Esquina Democrática até a Faced, encerrando o dia de lutas na capital gaúcha
Ato unificado percorreu a cidade, da Esquina Democrática até a Faced, encerrando o dia de lutas na capital gaúcha - Fotos: Marcelo Ferreira

Cerca de 30 mil pessoas marcaram presença no ato que encerrou as atividades em defesa da educação pública e contra a reforma da Previdência em Porto Alegre (RS), nessa terça-feira (13). O ato reuniu estudantes, integrantes de diretórios acadêmicos, dos movimentos sociais, de centrais sindicais, de partidos políticos, trabalhadores de variados setores ameaçados pelas políticas do governo federal como professores, petroleiros, do audiovisual e artistas, aposentados e desempregados.

O ato fez parte da Jornada de Luta Pela Educação, convocada pela União Nacional dos Estudantes (UNE) em seu congresso no mês de julho e aderida pelo movimento sindical e trabalhadores. Segundo levantamento da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), manifestações ocorreram em pelo menos 211 municípios brasileiros. No Rio Grande do Sul, centrais sindicais, movimento estudantil e movimentos sociais vinham construindo a ação com uma série de atividades durante o mês de agosto.

Na capital gaúcha, as atividades iniciaram ainda pela manhã com o salão nobre da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) lotado para o painel “O Futuro das Universidades Públicas e Institutos Federais no Brasil”, onde estiveram reunidos representantes de universidades e entidades educacionais. Às 14h, o funcionalismo público gaúcho e os professores da rede estadual ocuparam a Praça da Matriz, em frente ao Palácio Piratini, sede do executivo gaúcho, em protesto contra os desmandos dos governos Eduardo Leite (PSDB) e Bolsonaro (PSL).

Concentração na Esquina Democrática contou com carro de som  

Por volta das 18h, o ato unificado começava a ganhar peso na Esquina Democrática, até sair em caminhada em direção à Faced. O contingenciamento dos recursos à educação foi um dos pilares da manifestação, assim como o Future-se e a reforma da Previdência. O professor Alexandre Rocha da Silva, do departamento de Comunicação da UFRGS aponta que o Brasil nunca teve um governo tão desqualificado na pauta política de ataques à educação, à saúde, aos índios e aos direitos humanos. “É desqualificado no sentido de produção de política. Tem um ministro da economia que parece que parou de estudar na época do Pinochet, talvez fosse o menos exótico entre os ministros, parou de estudar nos anos 70”, disse.

Para o professor, a perspectiva é bastante crítica. “A oposição e a resistência no Brasil tem sido bastante complicada desde o golpe de 2016, e me parece que os estudantes têm sido a força mais efetiva de resistência”, afirma, lamentando a desarticulação pela qual passam os setores trabalhistas no país. “Os estudantes são os que têm efetivamente resistido nos últimos tempos e acho que eles funcionam como uma espécie de articuladores dos outros setores”, assinala.

Estudantes marcaram presença em peso na manifestação 

Formada em jornalismo e integrante do Levante Popular da Juventude, Carolina Lima disse que o ato é importante para mostrar ao governo que o povo brasileiro está nas ruas e acredita na educação como uma forma de transformação da sociedade. “A gente quer que isso se concretize porque o acesso à educação é um sonho da periferia. Defendemos uma educação popular, precisamos de mais acesso e não de cortes”. Ela ainda destacou outros aspectos da luta: "Para nós, a educação é resistência nesse momento, mas a gente também é contra a reforma da Previdência, porque a gente sabe também que isso tira a vida da juventude. Nós seremos os principais afetados e as mulheres, principalmente. Por isso estamos nas ruas contra esse governo, contra todos os retrocessos”.

Trabalhadores do audiovisual e cinema gaúcho marcaram presença com cartazes afirmativos de que cinema também é educação. O grupo protestava contra as investidas do governo sobre o setor, que no país tem 350 mil profissionais. A realizadora de audiovisual Cris Reque, que trabalha há mais de 20 anos no setor, disse que já basta de ataques às iniciativa ligadas à cultura, à criatividade e à liberdade de expressão. “A gente veio aqui para dizer ‘fora Bolsonaro’. O audiovisual está parado, não sabemos o que vai acontecer, temos o conselho superior de cinema congelado, a Ancine andando muito lentamente. Se a Ancine está paralisada, nós temos todo o mercado paralisado, são mais de 300 mil empregos, não podemos deixar isso parar”, relata.

Diversos setores atingidos pelas políticas do governo federal também trouxeram suas pautas 

O ex-deputado pelo PCdoB, Raul Carrion, que atualmente é presidente da Fundação de Estudos do partido no Estado, avalia que o ato foi mais uma demonstração da capacidade de luta e resistência do povo contra “esse governo antipátria, antipovo e de cunho neofascista. Essa gente pensava que, com Bolsonaro no poder, eles levariam o povo a um processo de amedrontamento, um processo de recuo na luta, mas nós temos visto o contrário”.

Apesar do governo ter o controle da nação, atropelando o judiciário, o legislativo e a constituição, reflete o ex-deputado, a resistência não cessou e cresce. “Como eu disse no ato que houve em frente ao Palácio Piratini, todo inverno é seguido por uma primavera. Agora, não é uma luta de 100 metros, é uma maratona. Temos que estar preparados para essa ideia, é uma resistência firme e nós estamos pouco a pouco desgastando e enfraquecendo esse governo. Chegará a hora que vamos derrubá-lo para o país retomar o seu caminho, para construir a grande nação que o Brasil merece ser”, conclui.

Os manifestantes seguiram pela Avenida Júlio de Castilhos, passando pelo Túnel da Conceição. Diferente das manifestações anteriores em defesa da educação e da previdência, que encerravam Largo Zumbi dos Palmares, a caminhada que iniciou na Esquina Democrática foi finalizada na Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por volta das 20h, com a promessa de que a luta não vai parar.

Confira mais fotos da manifestação:

 

Edição: Marcelo Ferreira