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Opinião

Artigo | Existência e Visiblidade Lésbica

A busca por invisibilizar as lésbicas na sociedade contribui para a negação de seus direitos como saúde, segurança, vida

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Somos um país enorme, com muitas riquezas culturais, linguísticas, naturais, e isso também reflete no nosso jeito de ser e amar, diverso
Somos um país enorme, com muitas riquezas culturais, linguísticas, naturais, e isso também reflete no nosso jeito de ser e amar, diverso - Foto: Mídia Ninja

“Ser lésbica, sapatão, amar outra mulher, é uma delícia!”. Essa frase tem sido ecoada pelos diversos lugares de Belo Horizonte e do Brasil nas atividades construídas para o mês da visibilidade lésbica. Mas é sabido, que historicamente e nos dias de hoje, as relações heterossexuais são tidas como normais e casais homoafetivos são considerados “fora da norma”. O controle da sexualidade das mulheres é uma forma de manter desigualdades de gênero. 

Para o mês da visibilidade lésbica, a tag #tsunamisapatao tem surgido nas redes sociais com o intuito de divulgar o trabalho e as atividades realizadas por coletivos, escritoras, cantoras e demais artistas de várias partes do Brasil. Afinal, a visibilidade é para além de tudo o nosso reconhecimento. Aliás, quantas lésbicas você conhece? No seu bairro, na escola ou universidade, atrizes, compositoras, governadoras, cientistas, quantos casais de mulheres você conhece? 

A visibilidade, para além de um esforço individual é uma luta muito maior e que deve ser travada de maneira coletiva. Na perspectiva da garantia de direitos por meio de políticas públicas, e também utilizando de ferramentas como os meios de comunicação para a diminuição de preconceitos, violências e como canal de informação. Comparada às perguntas anteriores, quantos filmes, novelas, propagandas, noticiários você vê conhece que abordem essa temática? Aliás, somos um país enorme, com muitas riquezas culturais, linguísticas, gastronômicas, naturais, e isso também reflete no nosso jeito de ser e amar, diverso.

Atualmente, cortes e censuras realizados pelo atual presidente #EleNão, tem retirados recursos e incentivos à produção e a temática LGBT em editais específicos do audiovisual e de outros setores voltados para a educação em diversidade e em direitos humanos. Princípios básicos de formação humana e social para incentivar o respeito, a igualdade, a transformação de nós mesmos, de nossos olhares sobre o mundo, nossos preconceitos e na construção de valores que coloquem a vida e o amor acima do ódio.

A busca por invisibilizar as lésbicas na sociedade contribui para a negação de seus direitos como a saúde, a segurança, a educação, a vida pública, a liberdade e a vida. O Dossiê Lesbocídio no Brasil indica que o assassinato de mulheres por conta da sua orientação sexual aumentou 150% entre 2014 e 2017. 

No início deste ano, a Ministra dos Direitos Humanos fez uma declaração de que “é uma nova era no Brasil, meninos vestem azul e meninas vestem rosa”. A partir disso a Caminhada das Lésbicas e Bissexuais vai às ruas no dia 31 de agosto, com concentração às 16h na Praça Sete com o tema “Meninas Vestem Lilás e Meninas Vestem Lilás”. O objetivo é retomar a cor de luta das mulheres, enfrentar o conservadorismo e dizer que tais padrões não devem ser impostos às mulheres.

Porque visibilidade?

O dia 29 de agosto é considerado o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica desde 1996, quando ocorreu a organização do 1º Seminário de Lésbicas (SENALE) do Brasil. Outro marco na história é o dia 19 de agosto, considerado o dia do Orgulho Lésbico, marcado pela distribuição do Jornal “Chana com Chana” no Ferros Bar. 

Por toda a história as mulheres se organizaram para reivindicar seus direitos. Na arte e na cultura as mulheres lésbicas e bissexuais tem construído a resistência na cidade, em meio a tempos sombrios de avanço do ódio. O bloco carnavalesco Truck do Desejo, o saparraiá, o sapaday, a Mostra de Arte Lésbica, rodas de conversa sobre saúde da mulher lésbica e bissexual e a Semana da Visibilidade Lésbica no Yanã Bar são atividades que somam e organizam mulheres em Belo Horizonte. 

Gisele Maia e Jéssica Marroques são militantes do Levante Popular da Juventude.

Edição: Elis Almeida