América Latina

Venezuela faz operações para combater ações de paramilitares colombianos na fronteira

Forças de segurança venezuelanas combatem contrabando de gasolina e drogas de grupos paramilitares de extrema direita

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Exército da Venezuela desmantela esquema de contrabando de gasolina
Exército da Venezuela desmantela esquema de contrabando de gasolina - Foto: Ministério Defesa

O estado venezuelano de Táchira, na fronteira com a Colômbia, foi declarado como “zona de alto perigo por presença de paramilitares colombianos”, afirmou o representante do governo nacional da Venezuela no estado, Freddy Bernal.

Continua após publicidade

Segundo ele, as forças de segurança da Venezuela estão em guerra contra as máfias de contrabando de gasolina e narcotráfico, controladas por grupos paramilitares colombianos. O combate a esse tipo de crime foi intensificado no último mês.

Continua após publicidade

Na semana passada, o governo venezuelano fez mais uma investida contra grupos que faziam contrabando de combustível na fronteira com a Colômbia. Oficiais venezuelanos desmantelaram o esquema de criminosos que usavam tubulações para escoar combustível de duas termoelétricas do estado de Táchira. Estima-se que chegavam a roubar mais de 4 milhões de litros por dia, segundo informou o ministro do Poder Popular para Interior, Justiça e Paz, Néstor Reverol.

Continua após publicidade

“Demos um golpe certeiro contra o contrabando de gasolina. Foram presos 17 gerentes regionais da petroleira venezuelana PDVSA, da estatal de eletricidade Corpoelec e funcionários da Guarda Nacional”, relatou Bernal, que foi nomeado pelo presidente Nicolás Maduro para dirigir as políticas do governo nacional em Táchira, já que esse é um estado governado pelo partido opositor Ação Democrática.

Continua após publicidade

Os funcionários das estatais recebiam suborno para pedir combustível além da demanda das termoelétricas e o excedente era desviado para o contrabando. “Esse esquema que desmantelamos era um negócio que equivalia a 24 milhões de dólares por mês. Com esse dinheiro financiavam os grupos paramilitares. Então estamos combatendo o contrabando, mas também destruindo as estruturas econômicas dos paramilitares, porque esse dinheiro é usado para comprar armas, explosivos e logísticas”, explicou Freddy Bernal.

Em agosto, um total de 62 paramilitares colombianos foram presos -- em flagrante com granadas, minas antipessoais, explosivos, fuzis, uniformes do exército colombiano e com panfletos alusivos à violência.

Durante enfrentamentos com a polícia venezuelana, 19 paramilitares colombianos foram mortos, sendo sete deles esta semana, assim como outros sete "sicários" (matadores de aluguel). “Eram criminosos procurados na Colômbia e na Venezuela por diversos crimes. Um deles com mais de 15 homicídios registrados nos antecedentes penais”, descreveu Freddy Bernal.


Freddy Bernal lidera ações contra contrabando e narcotráfico (Foto: Yepfri Arguello)

Do lado colombiano, o estado de Norte Santander é uma zona de influência de grupos paramilitares como Los Rastrojos e o Clan del Golfo, que surgiram a partir das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), criadas nos anos 1990 e legalizadas pelo ex-presidente Álvaro Uribe, em 2002.

As AUC foram desarmadas em 2006, mas seus principais líderes formaram esses novos grupos paramilitares, além de outros como Las Águilas Negras, Los Paisas e Los Urabeños, que hoje controlam boa parte da droga produzida no país, segundo relatório do Departamento Administrativo de Segurança (DAS) da Colômbia.

Os grupos paramilitares também estão envolvidos nas disputas políticas, tanto na Colômbia como na Venezuela. Ao longo dos últimos anos, os paramilitares colombianos estiveram diretamente envolvidos em ações de violência política contra os governos da Revolução Bolivariana, do ex-presidente Hugo Chávez e do atual presidente Nicolás Maduro.

Em 2004 foi descoberta a Operação Daktari. Autoridades venezuelanas deflagraram uma ação em uma chácara no estado de Miranda, localizada a sudeste de Caracas, chamada Daktari. Lá descobriram um grupo de cerca de 150 homens do exército colombiano, reservistas e paramilitares que estavam sendo treinados para invadir o palácio presidencial de Miraflores, sede do governo venezuelano, e assassinar o então presidente Chávez.

Em 2013, um grupo de nove paramilitares do grupo Los Rastrojos foi preso em Caracas, acusados de participar de um plano para matar Nicolás Maduro. Os acusados afirmaram que cumpririam uma missão em Caracas. O ministro do Interior da Venezuela na época, Miguel Rodríguez Torres, disse à imprensa que tudo havia sido planejado na Colômbia.

Mais dois casos foram a tentativa de golpe de Estado do último dia 30 de abril e as ações violentas que seriam executadas em junho desse ano. Os dois planos foram desmantelados pelo governo venezuelano e foram encontrados indícios de participação de paramilitares colombianos.

“O paramilitarismo é o instrumento da burguesia colombiana usado para fazer o trabalho sujo que o exército não pode fazer. São os paramilitares que eliminam os jornalistas, líderes sociais, lutadores de direitos humanos na Colômbia e que atacam permanentemente a Venezuela, tentando desestabilizar o país”, ressaltou Freddy Bernal.

Narcotráfico, paramilitarismo e política

O contrabando de gasolina venezuelana e o tráfico de drogas caminham lado a lado na região fronteiriça de Táchira. Segundo a Agência Antidrogas dos Estados Unidos, a Colômbia produz 900 toneladas de cocaína por ano. Nas contas feitas pelo representante do governo venezuelano, para produzir um quilo de cocaína são necessários 10 galões de gasolina, o que equivale a 36 litros de gasolina.

“Isso quer dizer que a Colômbia utiliza 36 milhões de litros de gasolina por ano para produzir cocaína. O que significa que existe um rio de dinheiro que permite comprar funcionários públicos de diversas instituições”, ressaltou Bernal.

Além disso, houve um aumento nas plantações de coca (matéria prima da cocaína), que passou de 188 mil hectares de cultivo em 2016, para 205 mil hectares no ano seguinte, de acordo com o Escritório de Política Nacional de Controle de Drogas da Casa Branca.

Na Venezuela, o preço da gasolina é simbólico, custa menos de R$ 0,01 o litro, enquanto que na Colômbia o valor atual é de R$ 3,19.

Os dados estatísticos tanto do governo venezuelano como de agências de combates às drogas dos Estados Unidos e da Colômbia mostram que a Venezuela não é produtora de cocaína. O país funciona como uma ponte para as ilhas do Caribe e a Europa. Neste ano foram apreendidas 12 toneladas de cocaína e maconha na Venezuela, sendo 3 toneladas somente em Táchira, estado limítrofe com a Colômbia, no mês agosto.

Atualmente, a Colômbia produz cerca de 70% de toda a cocaína produzida no mundo, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes. E a produção cresceu cerca de 25%, entre 2016 e 2017, que são os últimos dados oficiais fornecidos pela ONU.

No que tange ao combate ao tráfico, o representante do governo Maduro no estado de Táchina relatou que: “Somente este ano foram neutralizadas cerca de 20 aeronaves pela força aérea venezuelana, por ingressar ilegalmente em território venezuelano”. Freddy Bernal explica ainda que existe um protocolo de atuação nesses casos, onde os pilotos são orientados a pousar e, caso recusem, são abatidos.

Comando de Defesa Aeroespacial Integral (Codai) divulgou uma foto de um avião neutralizado (Foto: Codai)

Edição: Rodrigo Chagas