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Após cinco meses, Israel volta às urnas para decidir futuro de Netanyahu

Legislativas já haviam ocorrido em abril, mas Netanyahu não conseguiu obter maioria necessária para seguir governando

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Segundo pesquisas de intenção de voto, o cenário atual é parecido com o do primeiro semestre: um empate entre Likud e Azul e Branco
Segundo pesquisas de intenção de voto, o cenário atual é parecido com o do primeiro semestre: um empate entre Likud e Azul e Branco - Foto: Tomas Coex/AFP

Cerca de 6 milhões de israelenses vão às urnas nesta terça-feira (17) para a segunda eleição legislativa em cinco meses. O pleito decidirá o futuro do atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que em abril não conseguiu obter a maioria necessária para seguir governando o país.

Segundo pesquisas de intenção de voto, o cenário atual é parecido com o do primeiro semestre: um empate entre o partido de Netanyahu, o conservador Likud, e o Azul e Branco, legenda de centro liderada por Benny Gantz. 

Um levantamento encomendado pelo TV Channel 13 aponta que os dois partidos irão obter 32 das 120 cadeiras do Knesset, o Parlamento de Israel. O número, distante dos 61 assentos necessários para obter a maioria da casa, obrigará que Likud e Azul e Branco busquem apoio de outras legendas. 

Netanyahu, que já está no governo há dez anos consecutivos, ficou a um passo de conquistar a maioria em abril. O premiê, no entanto, sofreu um duro revés quando seu antigo aliado, Avigdor Lieberman, líder do partido Israel Nossa Casa, retirou seu apoio à coligação de Netanyahu.

Lieberman, que já foi ministro da Defesa e das Relações Exteriores, endureceu o tom contra seu ex-amigo, exigindo que fosse aprovada uma lei que desagradava aos ultraortodoxos. Diante da incapacidade de atender à demanda e de conquistar a maioria dos assentos, Netanyahu foi obrigado a dissolver o Parlamento e chamar novas eleições. 

Dificuldades no horizonte

Tanto o Likud quanto o Azul e Branco encontrarão dificuldades para conquistar a maioria do Knesset. Netanyahu terá que buscar alianças com partidos nacionalistas e ultraortodoxos. Gantz, por outro lado, terá que conquistar o apoio de legendas com um histórico difícil, como a Lista Árabe Unida, coligação formada por quatro partidos que nunca apoiaram nenhum governo desde 1948, ano em que o Estado de Israel foi criado. 

Outro aspecto pesa contra o atual primeiro-ministro: Netanyahu deverá comparecer à Justiça em outubro para responder pelos crimes de corrupção, abuso de confiança e malversação. Com uma vitória eleitoral, no entanto, ele pode conseguir imunidade.

O primeiro-ministro poderá ser salvo pela ascensão de um pequeno partido de extrema direita, o Otzma Yehudit. A legenda é herdeira política de Meir Kahana, rabino banido do Parlamento em 1988 por incitar o racismo. O grupo ganhou força nos últimos meses e poderá voltar ao Knesset. 

Há também a possibilidade de Likud e Azul e Branco se juntarem para um governo de união nacional. Nesse caso, cada partido indica um premiê para ocupar metade do mandato. Em um cenário como esse, Netanyahu comandaria o país por dois anos, entregando o cargo para Gantz, que governaria durante os dois anos seguintes.

Anexação 

A campanha eleitoral ficou ainda mais agitada na última semana, quando Netanyahu prometeu anexar um setor estratégico da Cisjordânia ocupada caso fosse eleito. Neste domingo (15), a apenas dois dias das eleições, o governo autorizou a legalização de um assentamento na região. 

O alvo da medida é a colônia Mevo'ot Yeriho, situada nas proximidades de Jericó, principal cidade palestina do vale do Jordão, perto do mar Morto. A localidade é considerada importante para a produção agrícola.

A colonização do leste de Jerusalém e da Cisjordânia ocupada cresceu nos últimos anos sob a administração de Netanyahu e com a chegada de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos. 

O domínio da Cisjordânia é um dos principais motivos de revolta na população palestina. Israel construiu 140 assentamentos na região, todos considerados ilegais sob o direito internacional. O governo israelense, no entanto, nega qualquer ilegalidade. 

A promessa de anexar parte da Cisjordânia gerou reações imediatas e, diversos países. Um porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que a medida “não teria efeito legal em nível internacional”.

Hanan Ashrawi, uma das principais lideranças palestinas dentro do Knesset, afirmou à AFP que a medida anunciada por Netanyahu destruiria qualquer possibilidade de paz na região. “[O premiê] não está apenas destruindo a solução dos dois Estados, mas também destruindo qualquer possibilidade de paz”, disse.

A Liga Árabe, organização formada por 22 Estados, qualificou como “perigosos” os planos de Netanyahu, e disse que a anexação é contra os fundamentos de paz. A medida também foi rechaçada por Rússia, Jordânia e partidos israelenses que fazem oposição a Netanyahu.

Edição: João Paulo Soares