Para governar, Bolsonaro precisa manter grandes inimigos, internos e externos, para dar unidade à sua base social, mantê-la ativa e dar sentido a um governo que, diante da crise do capitalismo, não tem saída ou projeto a não ser um programa que não tem capacidade de reerguer a economia e gerar empregos.
Esse inimigo precisa ser uma ameaça. Seja a ameaça da esquerda, materializada principalmente no PT, e também Cuba e Venezuela, no plano internacional.
Bolsonaro precisa de um inimigo a ser atacado diariamente e representado com rótulos. É um inimigo confrontado tanto até que não desperte mais empatia. Um inimigo que deve ser aniquilado. Esse é o perigo. O que se alimenta na sua base social mais fiel. Basta lembrar, por exemplo, os comentários de ódio sobre a jovem Ágatha nas páginas das celebridades que prestavam sentimentos à família. E também os comentários quando Lula perdeu o neto.
Bolsonaro escapou dos fatos e parecia estar delirando na Assembleia da ONU. Isso porque o “presidente” precisa de um inimigo que seja em parte um fantasma e que possa ser acionado no momento quando vende, no plano concreto, as empresas estatais, os recursos naturais e os direitos trabalhistas. Nessa hora, surgem ideias fantasmagóricas de “comunistas”, “kit gays”, “invasão sobre a Amazônia”.
Ao mesmo tempo, ele busca também se apropriar e esvaziar pautas da esquerda. Ou alguém acha que ele liga mesmo para a soberania nacional? Seu governo é o oposto disso.
Bolsonaro parece ser a cada dia o candidato a tentar acabar com os setores progressistas e democráticos. Certamente, não conseguirá. Mas os casos de criminalização já estão acontecendo pelo país. Da prisão de Lula à Preta Ferreira, a novos incidentes com a PM que vivenciamos em cada manifestação. O aumento de assassinatos de lideranças indígenas e crianças negras no Rio.
A guerra está posta na mesa.
Pedro Carrano é integrante do Brasil de Fato Paraná e da organização Consulta Popular