Paraná

Entrevista

O Parolin é “a cárie no sorriso da Curitiba feliz”

Militantes do movimento Negro, Giorgia Prates e Renato Freitas falam o que sofrem as populações negra e pobre

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
"Foi um grito mesmo de dor, de raiva, de angústias, de acúmulos", afirma a fotojornalista Giorgia Prates
"Foi um grito mesmo de dor, de raiva, de angústias, de acúmulos", afirma a fotojornalista Giorgia Prates - Giorgia Prates

Na série de entrevistas ao vivo que o BdF-Paraná faz em sua página do Facebook, foram ouvidos a fotojornalista Giorgia Prates e o advogado Renato Freitas, que acompanharam as manifestações no Parolin e contaram o que viram lá. Abaixo, alguns trechos de seus depoimentos. Para assistir na íntegra, acesse a página do BdF Paraná na rede social. 

Renato Freitas - A polícia, principalmente a polícia curitibana, vende uma ideia de civilidade, de polícia cidadã, numa cidade em que todos são descendentes de europeus, estão sorrindo e vivendo a realidade de um país nórdico dentro num Brasil tão desigual e violento. Em tese, porque na realidade a cidade é diferente... A polícia, aqui, também revela seu senso bélico, de violência, de higienização. A favela do Parolin é central e, como diz um morador do local, uma cárie no sorriso de Curitiba, o que, para eles, tem de ser removida a qualquer custo. E depois dessa ascensão da extrema direita, depois que Bolsonaro e suas ideias tomaram o poder, por voto, e a bancada militar foi das que mais cresceram aqui no Paraná, isso deu um empoderamento à instituição e aos indivíduos militares. E tudo aquilo que eles já faziam na calada da noite, agora ousam a fazer à luz do dia. 

Georgia Prates – Houve resistência da comunidade do Parolin, numa primeira manifestação, no sábado, que foi reprimida com violência, depois uma segunda. Foi um grito mesmo de dor, de raiva, de angústias, de acúmulos. Fui também aos enterros e, saindo do cemitério, encontrei três crianças, de 7, 9 anos, conversando, e um deles dizia: “Lá onde a gente mora pode morrer de facada, pode morrer porque alguém bate na gente, porque a polícia atira.” Quando você se depara com uma conversa dessas entre crianças vê que estamos fazendo tudo errado. E não tem outro caminho dentro da favela do que a resistência, de dizer não, basta! A gente não pode mais assistir a esse tipo de coisa. Eles estão se organizando, por isso fizeram as manifestações. 

Edição: Lia Bianchini