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Diversas barreiras atravessam o futebol feminino

Na Bahia, apenas dois times femininos são consideradas equipes profissionais

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
As mulheres estão, cada vez mais, reivindicando esse espaço como uma arena que elas podem estar e atuar.
As mulheres estão, cada vez mais, reivindicando esse espaço como uma arena que elas podem estar e atuar. - Arquivo pessoal.

O futebol foi tido por muito tempo, de forma preconceituosa e machista, como um esporte exclusivamente masculino. Os pais incentivam os filhos homens desde pequenos a gostarem, dando presentes como bolas, blusas de times e chuteiras. Além de todo um ritual de assistir aos jogos nos fins de semana reunidos em casa, bares ou nos estádios. Mas, as mulheres vem, cada vez mais, reivindicando esse espaço como uma arena que elas podem estar e atuar tão bem quanto os homens. 

De acordo com Lizandra Nunes, atleta de futebol e estudante de Educação Física, no Brasil, muitos times da série A do campeonato brasileiro, passaram a “adotar” o futebol feminino após as novas demandas da FIFA, juntamente com o novo regulamento da CONMEBOL. "Estes documentos determinam que os Clubes da América do Sul precisam ter e manter um time de futebol feminino para jogar a Copa Libertadores da América. No entanto, há alguns clubes que ainda não cumpriram com essas exigências e outros estão tentando estruturar suas equipes, seja criando uma ou realizando parcerias com equipes amadoras existentes", explica.

Quanto ao estado da Bahia, existem alguns times de futebol feminino, como o São Francisco do Conde, Bahia, Lusaca, Galícia, Olímpia, Flamengo de Feira e também havia a equipe do Vitória até o mês de setembro de 2019. Das equipes citadas anteriormente, apenas o São Francisco e o Bahia são consideradas equipes profissionais. "Temos diversas equipes amadoras e profissionais, treinadoras, árbitras e atletas de referência da Bahia atuando e sendo conhecidas no Brasil e no mundo", afirma Maria Angélica Lima, professora de Educação Física, e membro da Comissão técnica de futebol feminino sub-20 da Associação Desportiva Lusaca-BA.

Apesar do grande potencial, diversas barreiras atravessam o futebol feminino. Maria Angélica afirma que começa com o discurso preconceituoso e machista atrelado a ideia de que mulheres não podem jogar futebol, e culmina com a falta de investimento em estrutura, falta de trabalho de base (através de escolinhas, divisão de base etc.). "Há falta de compromisso dos clubes esportivos, cumprimento das leis trabalhistas, renda salarial, carteira assinada, apoio de saúde. Ausência, obstrução ou o pouco espaço ofertado para a participação das mulheres nas comissões de arbitragens e técnicas (treinadoras, preparadoras físicas, assistentes técnicas, fisioterapeutas, massagistas), visibilidade midiática com ações que promovam a publicidade e propaganda do futebol feminino, coberturas de jogos, notícias em canais esportivos, incentivo as torcidas irem prestigiar nos campos oficiais ou amadores", pontua.

Os principais desafios para o avanço e crescimento do futebol feminino, "serão superados a partir de uma mudança estrutural sobre o conceito e a presença da mulher na sociedade, sua importância para a história, para o esporte. Vai desde a desconstrução do papel da mulher como submissa, inferior, incapaz ou despreparada. O futebol reflete a sociedade, onde ainda o machismo, racismo, lgbtfobia, classissismo e outros preconceitos estão nas linhas de impedimento, interferindo no avanço dentro do campo", ressalta Maria Angélica.

Ainda de acordo com Maria Angélica, há a necessidade de um “avanço organizativo e estratégico pensados para fazer o contra ataque, vencer o machismo e fazer o gol, não de um time ou de uma seleção, mas o gol que dê vitória à toda a modalidade, toda menina-mulher, de todos os grupos profissionais ou amadores e de toda sociedade”, finaliza.


 

Edição: Elen Carvalho