Rio de Janeiro

VIOLÊNCIA

Com recorde de mortos pela polícia, seminário discute memória e reparação no Rio

O evento é aberto ao público e terá participação de Anielle Franco; a programação acontece entre os dias 31 e 01

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
O seminário internacional “Memórias, Reparação e Direitos” acontece na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ)
O seminário internacional “Memórias, Reparação e Direitos” acontece na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ) - Cristina Marins

Caracterizada por confrontos, a política de segurança pública promovida pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), tem resultado recorde no número de mortos em operações policiais. Neste ano, foram 1402 casos, maior número registrado na série histórica do Instituto de Segurança Pública (ISP) em 21 anos. Desse total, cinco crianças e 19 adolescentes. O último caso envolvendo a morte de uma criança aconteceu em 21 de setembro, no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio. A menina Ágatha Félix, de oito anos, foi alvejada por um tiro de fuzil dentro de uma Kombi a caminho de casa com a mãe. 

Com objetivo de debater sobre a violência promovida pelo Estado, as políticas públicas de reparação e também a memória das vítimas, o seminário internacional “Memórias, Reparação e Direitos” acontece na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, região metropolitana do Rio, entre a próxima quinta-feira (31) e sexta-feira (1). 

“Nossa ideia é discutir memórias e reparação. Memórias no plural mesmo, para pensarmos na possibilidade de abrir o campo em diferentes pontos de vista. Já a reparação tem a ver com a demanda de direitos diante da violência do Estado.Sabemos que a reparação econômica apenas não produz uma forma de acabar com o ciclo de violência ao qual a sociedade está submetida. Se não se constrói memória, não se constrói reparação, não se constrói reflexão da sociedade como um todo”, explica Lucía Eilbaum, pesquisadora e professora do Departamento de Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), em entrevista ao Programa Brasil de Fato RJ. 

A programação do evento, que terá  transmissão online pela página do Facebook, conta com a presença de pesquisadores, professores e também parentes de vítimas de violência e militantes de organizações de direitos humanos. Entre eles, Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, assassinada em março do ano passado, e Rafael Motta, primo de um dos cinco jovens mortos após serem atingidos por 111 tiros em Costa Barros, na zona norte do Rio. 

“Trazer essas pessoas para serem ouvidas na universidade pública tem um sentido muito importante e contribui para produção de outras formas de conhecimento na universidade. Por outro lado, no contexto que estamos vivendo que desqualifica a luta pelos direitos humanos, torna a discussão duplamente importante. O Estado ainda tem muito a fazer em matéria de memória e reparação dessas pessoas”, acrescenta Lucía. 

O evento é organizado pelo Grupo de Pesquisas em Antropologia do Direito e Moralidades (GEPADIM/NUFEP), com apoio do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (INCT-InEAC) e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). 

Serviço

Seminário Internacional “Memórias, Reparação e Direitos”

Data: 31 de outubro e 1 de novembro

Local: Auditório do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, localizado no Bloco P do Campus do Gragoatá. 

Confira a programação completa aqui. 

*Entrevista: Denise Viola

Edição: Mariana Pitasse