Entrevista

Jurista Kenarik Boujikian comemora liberdade de Lula: "Vitória do povo brasileiro"

Desembargadora aposentada ressalta que não houve imparcialidade nos processos contra o ex-presidente na Lava Jato

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Kenarik Boujikian é cofundadora da Associação de Juízes para a Democracia (AJD)
Kenarik Boujikian é cofundadora da Associação de Juízes para a Democracia (AJD) - Juliana Gonçalves/Brasil de Fato

A desembargadora aposentada Kenarik Boujikian, cofundadora da Associação de Juízes para a Democracia (AJD), foi uma das convidadas da Rádio Brasil de Fato na noite desta sexta-feira (8), para comentar a libertação do ex-presidente Lula (PT). Para ela, o dia é de "vitória do povo brasileiro, que teve subtraída a possibilidade de participação de Lula no processo democrático" desde abril de 2018.

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"Há muito tempo, várias organizações e inúmeros juristas vêm denunciando o que significava esse processo [conhecido como caso triplex]. Ficou muito claro o que a gente chama de lawfare [guerra jurídica]. O Papa Francisco mesmo usou essa expressão para demonstrar a preocupação que ele tinha com esse expediente, com o uso de mecanismos judiciais para atentar contra a democracia", analisou.

Sobre os últimos meses, desde a prisão, Kenarik disse que "muito se perdeu nesse período, muita dor -- não só do Lula, mas do povo que perdeu a opção de contar com ele no debate público".

A jurista tem convicção de que a presunção de inocência deve ser defendida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e que não há margem para debate desse princípio. "São princípios constitucionais. Isso faz parte da estrutura de projeto de Estado desenhada na Constituição de 1988. Quando se rasga isso, automaticamente se ataca todos os direitos".

Antes de se despedir, Kenarik enalteceu a trajetória política de Lula e fez críticas à atuação do ex-juiz Sergio Moro. "A suspeição dele já estava clara antes mesmo das revelações do The Intercept. Depois, ficou claro para todo mundo o uso dos processos para finalidade pessoal. Os juízes não são neutros, nenhum ser humano é. Mas, no exercício da magistratura, ele tem que ser imparcial, e não foi isso que aconteceu nos processos contra Lula", finalizou.

Edição: Daniel Giovanaz