A primeira mesa do seminário Brics dos Povos -- “Imperialismo, Geopolítica internacional, o papel dos Brics e dos Povos" – debateu na manhã desta segunda-feira (11) a necessidade de uma articulação internacional paralela às articulações oficiais entre Estados.
O encontro alternativo à Cúpula dos Brics acontece em Brasília, entre os dias 11 e 12 de novembro, antes da reunião dos governantes, que inicia dia 13, na capital federal.
Os painelistas apontaram como as dinâmicas políticas internas de cada país impactam no funcionamento dos Brics, observado como uma articulação que, de um lado, representou a exploração de uma brecha na hegemonia global dos EUA e da União Europeia e, de outro, a permanência do desenvolvimento capitalista como paradigma.
A existência de governos de extrema-direita no Brasil e na Índia foram como entraves para a consolidação do bloco.
O jornalista russo Konstantin Syomin identificou que há um cenário global de “grande apatia” e “despolitização das massas”, cujos efeitos são explosões sociais de diversas formas.
Destacando a necessidade de “solidariedade internacional” entre os povos, Syomin acredita que essa apatia não durará para sempre, já que avança a compreensão de que o capitalismo é um sistema que produz efeitos negativos, entre eles a guerra.
“As contradições estão se desenvolvendo rapidamente dentro das sociedades e entre as sociedades. O que estamos vivendo agora não é uma série de cataclismos isolados, mas uma profunda crise do sistema capitalista global como um todo. O mundo mudou, não há mais proletariado. Quantas vezes ouvimos essa música? O mundo pode parecer diferente, mas os fundamentos do capitalismo estão intactos”, defendeu.
Imperialismo destrutivo
Prasanth Radhakrishnan, jornalista indiano, seguiu na mesma linha. Realizando um regaste histórico, apontou como o capitalismo internacional no pós-Segunda Guerra ainda apresentava uma postura propositiva, o que foi abandonado a partir das décadas de 1970 e 1980 e, de forma ainda mais acentuada, nos anos 1990 do século 20.
“Cada vez mais, o imperialismo vem demonstrando ser incapaz de apresentar um projeto de construção. O imperialismo cada vez mais intensamente acredita que está tudo bem em destruir um país”, apontou Radhakrishnan, citando casos recentes como a Líbia, o Iraque e o Afeganistão.
Neoliberalismo 2.0
Mônica Bruckmann, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ressaltou o papel que a China vem assumindo no plano internacional. Um processo que representa um ascenso da participação dos países asiáticos na economia global em detrimento dos países centrais.
Nesse sentido, os defensores da “agenda neoliberal 2.0”, especialmente na América Latina, se mostram cada vez mais ineficientes politicamente – e agressivos na busca de saídas: “As direitas estão cada vez mais nervosas e cada vez mais desesperadas. O que aconteceu ontem na Bolívia significa a volta ao velho estilo dos golpes militares no século 20”.
Dessa forma, segundo ela, o enfraquecimento dos Brics por conta da reação de extrema-direita que tomou o governo brasileiro gera a necessidade de uma articulação em outro nível.
"Nesse momento, nós estamos com um espaço fundamental que é a integração dos povos como elemento central. Elemento não só de resistência mas de manutenção da agenda dessa visão. O principal desafio é pensar quais são as estratégias, a partir dos povos, que podem gerar impacto sabendo que estamos diante de direitas que estão se desmoralizando”, diz.
Mbuso Ngubane, integrante do Numsa, o Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul, afirmou que o Brics jamais rompeu com a lógica de “ser uma organização para a acumulação capitalista”.
“Se nós devemos lutar pela destruição do imperialismo, devemos ocupar as ruas em cada canto deste mundo. A unidade da classe trabalhadora e dos camponeses é a única força capaz de deter a atual e rápida marcha que pode destruir a todos nós”, disse.
Vice-presidente do Banco dos Brics até 2016, Paulo Nogueira Batista Jr. também participou do debate, lembrando como a mudança na política doméstica no Brasil significou uma reorientação do país na política externa, levando a uma posição nacional de menos destaque no interior dos Brics.
Edição: Rodrigo Chagas