Reformismo

No Chile, manutenção da estrutura burguesa favoreceu golpe de Pinochet

É o que defende o livro do mês da Expressão Popular, "O reformismo e a contrarrevolução: estudos sobre o Chile”

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Obra de Ruy Mauro Marini explora a relação entre o reformismo chileno e a ascensão do fascismo
Obra de Ruy Mauro Marini explora a relação entre o reformismo chileno e a ascensão do fascismo - Fundação Salvador Allende

“O reformismo e a contrarrevolução: estudos sobre o Chile”, de Ruy Mauro Marini, é o livro do mês de novembro do Clube do Livro da Expressão Popular. A obra traça um panorama histórico do que levou ao golpe militar encabeçado por Augusto Pinochet, em 1973, partindo de uma interpretação marxista sobre a dependência da América Latina e conciliando a crítica ao fascismo e ao reformismo.

O livro foi escrito durante a transição socialista do governo de Salvador Allende, de 1970 a 1973, e mostra o ponto de vista do Movimento Esquerda Revolucionária (MIR), do qual Marini era dirigente, sobre o processo. O escritor era crítico ao modelo de governo da Unidade Popular.

Marini argumenta que, quando não se estrutura o poder popular e a luta de classes ao mesmo tempo em que se investe em reformas que atacam o poder da burguesia, esta, por ainda possuir as instâncias de poder, contra-ataca mais violentamente -- como através de um golpe. Os anos de governo de Allende foram responsáveis por medidas como a nacionalização de setores estratégicos e o enfrentamento aos monopólios e ao setor financeiro.

O livro explora a compreensão de que o reformismo, por si só, não desmonta a estrutura do Estado burguês. Ao se manter as instituições de poder nas mãos das classes dominantes -- as forças armadas, a mídia e o judiciário, por exemplo --, cria-se um terreno fértil para um golpe e para um regime fascista. 

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O reformismo chileno defendido pela Unidade Popular fazia parte do que chamavam de “via chilena para o socialismo” e pretendia alcançar uma sociedade mais justa e a soberania popular gradualmente, transformando a ordem burguesa sem os confrontos de uma revolução mais incisiva.

Diógenes Moura, mestre em estudos latino-americanos e tradutor do livro para a versão brasileira, frisa a importância de chegar ao governo e deter o poder. O cargo executivo não significa ter o poder das instituições do Estado.

“Tomar o poder é muito diferente de chegar ao governo. Isso pode ser um campo de reflexão importante aqui no Brasil, no caso dos governos petistas, e na América Latina em geral, a ideia de chegar ao poder enquanto todos os outros elementos do sistema de dominação continuam na mão do capital”, afirma.

As consequências do reformismo podem ser observadas também atualmente, quando olhamos para a Bolívia, por exemplo. A insubordinação do país ao imperialismo dos Estados Unidos coloca o país como uma ameaça à dominação na América Latina, o que o torna mais suscetível a ataques. Se não se reconfigura a ordem burguesa também em instâncias de poder, como nas forças armadas, o ataque contrarrevolucionário é mais intenso.

Para minimizar o ataque burguês ao governo chileno, a Unidade Popular passa a fazer concessões, explica Moura. Mas as alianças, em vez de fortalecer o governo, dão mais poder às classes dominantes e assentam o terreno para o golpe de Estado. Essa é a principal crítica do MIR e de Ruy Mauro Marini. 

Todo o conteúdo do livro tem a ver com a resolução de problemas para a luta de classes daquele período, explica Diógenes. “É um exercício para que a teoria marxista ajude nos caminhos necessários para avançar na construção do socialismo”, conclui.
 

Edição: Cris Rodrigues