Rio Grande do Sul

CONSCIÊNCIA NEGRA

Marcha de denúncia contra o racismo e genocídio toma as ruas de Porto Alegre

A Marcha Zumbi Dandara, realizada nessa quarta-feira (20), teve como objetivo denunciar o racismo e genocídio latentes

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Concentração em frente ao Mercado Público, território negro da capital gáucha
Concentração em frente ao Mercado Público, território negro da capital gáucha - Foto: Luiza Castro/Sul 21

“Não é um dia, um mês, não é comemoração, são todos os dias, é a reafirmação da nossa existência”, essa é a síntese do dia 20 de novembro que marcou as manifestações realizadas em Porto Alegre. A capital do Estado, propulsora da data, gestada em 1970, que traz em diversos pontos da cidade a história do povo negro, não tem mais feriado, o que acontece em outras capitais do país. O Dia da Consciência Negra foi marcado por manifestações em defesa dos direitos das população negra em diversas cidades brasileiras.

A concentração para a Marcha Independente Zumbi Dandara iniciou às 17h, em frente ao Mercado Público da capital gaúcha, importante território negro da cidade, onde encontra-se o Bará do Mercado, que representa a entidade Bará, de bons caminhos. Com cartazes, acompanhados por ritmistas de escolas de samba, a caminhada iniciou às 19h e percorreu a Avenida Borges de Medeiros até o Largo Zumbi dos Palmares.

Para Onir Araújo, advogado que compõe a Frente Quilombola do RS, o ato é simbolicamente histórico em uma conjuntura tão complexa como a atual no Brasil de no conjunto da América do Sul e América Central. “É importante destacar que não é festa, não é negócio, estamos comemorando a data de uma morte e nós carregamos milhões de mortes conosco. Serve para nos preparar para enfrentar o cotidiano massacrante que a maioria afro-indígena vive no Brasil. Então se a marcha servir para o fortalecimento da ação cotidiana e comunitária contra o racismo, ela é muito importante”, afirma.

Ítalo Ariel, estudante de história da UFRGS, da organização da marcha, também ressalta a importância da unidade do movimento negro frente aos caos pelo qual passa o Brasil. “A gente vive um momento muito ruim, de desemprego, morte dos jovens negros. O movimento negro é muito diverso, não são só organizações políticas, mas organizações culturais, coletivos de dança, sobre a cultura negra. Há algum tempo a gente vem tentando construir a marcha como um momento de reivindicação política das pautas do povo negro brasileiro, que é mais de 50% autodeclarado negro. Nesse dia as pautas do povo estão nas ruas, pela reparação histórica, que é a luta do povo negro pelo direito a vida, saúde, educação e território”.

Para a servente escolar aposentada, Noemia Izolmira Medeiros, o mês da Consciência Negra é um momento único, especial, contudo não de comemoração. “Me vem na cabeça tudo o que meus antepassados passaram. Não é uma comemoração, mas uma lembrança que eu tenho, uma maneira de lembrar e manter viva a memória de quem já se foi, de quem deu a vida para estarmos aqui hoje”.

Diversas atividades marcaram o ato, entre elas a divulgação da literatura negra / Foto: Fabiana Reinholz

Além da denúncia contra o racismo, genocídio, e da ancestralidade, elemento forte para a comunidade negra, a caminhada trouxe a reivindicação por Marielle, assim como denunciou as políticas neoliberais de exclusão social e os projetos de privatizações, como os Correios, o Banrisul e o Mercado Público.

Ainda na concentração, foi montada uma banca com livros de escritoras e escritores negros.

Acompanhe aqui a cobertura do ato feito pela CUT RS:

Edição: Marcelo Ferreira