Rio de Janeiro

CULTURA

“Nunca pedimos atestado ideológico a ninguém”, diz Lula a artistas no RJ

Ex-presidente foi recebido em grande ato pela cultura, no Circo Voador, na noite da última quarta

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
"A tentativa de acabar com a cultura é uma vingança de Bolsonaro contra vocês que gritaram ‘Ele não’”, disse Lula
"A tentativa de acabar com a cultura é uma vingança de Bolsonaro contra vocês que gritaram ‘Ele não’”, disse Lula - Eduardo Miranda

O ex-presidente Lula foi recebido por artistas, intelectuais, movimentos populares e o público, que lotou o Circo Voador, no Rio de Janeiro, na última quarta-feira (18). Durante o ato “Lula abraça a cultura, a cultura abraça Lula”, o petista fez duras críticas ao desmonte da cultura empreendido pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL).

“Bolsonaro chamou Paulo Freire de energúmeno, mas eu tenho certeza que ele nem sabe o que é isso. Como disse o Fábio Porchat, Bolsonaro não governa, ele se vinga. A tentativa de acabar com a cultura é uma vingança contra vocês que gritaram ‘Ele não’”, afirmou Lula, anunciando que fará uma caravana pela cultura no país.

Ao mencionar a perseguição de Bolsonaro a artistas e à cultura, Lula disse que seu governo “nunca pediu atestado ideológico a nenhum artista”. Ele mencionou as ofensas do governo Bolsonaro à atriz Fernanda Montenegro. “Fernanda Montenegro olhando 30 segundos para uma câmera fez muito mais pelo Brasil que Bolsonaro em 30 anos [como deputado no Congresso Nacional]”.

Durante um discurso de mais de 30 minutos, o ex-presidente revelou que houve muita pressão para que ele deixasse o país ou se refugiasse em alguma embaixada quando sua prisão foi decretada. “Mas eu tinha que me entregar para provar que [o então juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio] Moro é um mentiroso. E eu não poderia provar isso, se não me entregasse. Eu seria tratado como foragido”.

Lula e outras lideranças que falaram durante a noite do Circo Voador mencionaram o colapso da saúde e dos serviços públicos na capital fluminense. “A fome, que tinha acabado nesse país, voltou às ruas do Rio de Janeiro, de São Paulo e de várias cidades brasileiras”, afirmou.

Absolvição

Ao lado da também ex-presidenta Dilma Rousseff, Lula lembrou que a mídia noticiou com pouco destaque a absolvição do processo do “quadrilhão do PT”. “A Justiça me absolveu, absolveu a Dilma naquele ‘power point’ do [procurador Deltan] Dallagnol, mas o juiz deveria também ter decretado a prisão do Dallagnol”.

Em sua fala para o público, Dilma pontuou as ações de Bolsonaro para acabar com a soberania e as riquezas do país, citou os massacres de negros, indígenas e demais povos nativos e os ataques a importantes nomes da cultura brasileira. A ex-presidenta disse que Lula saiu da prisão mais forte para cumprir uma missão.

“Ditadores esquecem que a prisão vira o contrário daquilo que eles fizeram a nós, Lula saiu mais forte, mais criativo. Quando um juiz se presta ao papel que Sergio Moro prestou, ele ataca o fundamento da justiça, que é a igualdade de todos perante a lei. É ruim, é perigoso porque eles destroem o cimento social do país”, afirmou a petista.

Bolsonarismo

O ex-prefeito Fernando Haddad lembrou que o primeiro ano de governo Bolsonaro produziu grande desigualdade social e pobreza para os mais pobres da população. “Falam em pacificação, mas não vejo condições de ter paz sem ter justiça social. Estamos pedindo ao Supremo que deixe Lula em paz e vamos resolver isso nas urnas, em 2022”.

Haddad disse que Bolsonaro é “democrático” ao distribuir ofensas contra todos os artistas, incluindo os internacionais, como foi o caso do ator Leonardo Di Caprio. “Não vivi um dia desse governo sem que Bolsonaro e seus ministros não tenham ofendido uma pessoa. Mas um xingamento a Paulo Freire vindo dele é, na verdade, um elogio”.

Sob muitos aplausos, Haddad pediu à população do Rio de Janeiro que derrote o movimento de extrema-direita que nasceu no estado e elegeu Jair Bolsonaro. “Se o bolsonarismo nasceu aqui no Rio de Janeiro, é aqui que esse projeto tem que começar a morrer”.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) lembrou a perseguição sofrida por artistas que gritaram “Ele não” durante as eleições e depois apoiaram o “Lula livre”. “Artistas arriscaram suas carreiras, perderam contratos de TV, perderam espaços no teatro, tiveram filmes vetados. Jornalistas foram demitidos porque lutaram não pelo PT, mas pela democracia”.

Já a deputada Benedita da Silva (PT) defendeu que sem cultura não há revolução, liberdade e democracia, por isso o governo atual persegue artistas. A parlamentar homenageou a cantora Beth Carvalho, amiga de Lula, conhecida como a “madrinha do samba” e falecida em abril deste ano.

Ao lado de Luana Carvalho, filha de Beth, a cantora Alice Passos cantou o samba da Mangueira do Carnaval de 2019 cujos versos citam a vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada em março de 2018. A mãe da vereadora, Marinete, e a irmã, Anielle, também estavam presentes no palco.

Unidade

O deputado federal Marcelo Freixo (Psol) contou que durante a prisão de Lula, “havia um projeto de país em cada pessoa que gritou ‘Lula livre’. Ele afirmou que o Rio de Janeiro, São Paulo e todo o Brasil precisam de um projeto para unificar o campo progressista para derrotar a extrema-direita.

“Eu sei que aqui a tragédia é tripla [com o prefeito Marcelo Crivella, o governador Wilson Witzel e Bolsonaro], mas essa cidade é muito maior. Temos que libertar a cidade e o país dessa mediocridade. Defender o PT é um compromisso com a democracia. É preciso grandeza para acabar com a barbárie nesse país”, afirmou Freixo, acompanhado em coro pelo público com o grito “Vai avançar, vai avançar a unidade popular”.

Edição: Mariana Pitasse