Um ano

Brumadinho: por direito ao luto, atingidos trancam linha de trem da Vale

Manifestantes exigem que trem da mineradora não circule no dia 25, data que marca um ano do crime socioambiental

Brasil de Fato | Mário Campos (MG) |

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Manifestantes exigem que a mineradora paralise toda a circulação de minério ao longo de todo o dia 25
Manifestantes exigem que a mineradora paralise toda a circulação de minério ao longo de todo o dia 25 - Joka Madruga / MAB

Às vésperas de completar um ano do crime da Vale em Brumadinho, cerca de 350 atingidos que estão em marcha desde o último dia 20, fecharam a linha férrea da Vale na cidade de Mário Campos, região metropolitana de Belo Horizonte, a 15 km de Brumadinho. Os manifestantes exigem que a mineradora paralise toda a circulação de minério ao longo do próximo sábado (25) -- data que marca um ano do rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho - como forma de respeito à memória de todas as vítimas.

O rompimento da barragem B1 da mina Córrego do Feijão vitimou 272 pessoas e onze vítimas continuam desaparecidas embaixo da lama de rejeitos.

A ação, que durou toda a manhã, foi organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que entregou um ofício à empresa MRS, responsável pelo gerenciamento das linhas férreas na região. No documento, o movimento ressalta o impacto ambiental e social causado pelo crime e cita que o direito ao luto e à reparação integral das famílias é garantido por acordos nacionais e internacionais de direitos humanos.

 

Cerca de 350 atingidos que estão em marcha desde o último dia 20, fecharam a linha férrea da Vale na cidade de Mário Campos. Foto: Joka Madruga / MAB

Para Joceli Andrioli da coordenação do MAB, o ato é a única forma de garantir que a mineradora respeite a dor e o sofrimento das famílias. “É um pedido de respeito aos familiares que estão em luto, as pessoas que morreram e também as milhares de famílias que seguem sofrendo com esse crime em toda a bacia do Paraopeba.”afirma. 

Michelle Rocha é moradora de Brumadinho e perdeu uma prima, vítima do crime. Para ela a paralisação das linhas é o mínimo que a mineradora pode garantir às famílias. “Queremos que pelo menos um dia essa Vale criminosa deixe de lucrar. É uma questão de luto e de respeito, porque se mataram da forma como mataram, então pelo menos que eles respeitem o dia 25 e parem a produção” ressalta. 

A reportagem do Brasil de Fato entrou em contato com a empresa MRS e a mineradora Vale sobre a demanda dos atingidos. A MRS informou, em nota, que interromperá suas atividades na região das 7h às 19h de sábado e afirmou ser "solidária a todos os envolvidos nos eventos de janeiro de 2019", ocasião em que quatro trabalhadores da empresa morreram. A Vale não respondeu.

As atividades da jornada de lutas dos atingidos pelo crime da Vale em Brumadinho e na Bacia do Rio Doce seguem na tarde desta quinta-feira (23).

Os manifestantes seguem para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, onde será realizada uma homenagem às vítimas do crime socioambiental em Brumadinho. Na sexta-feira (24) está programado um seminário em Betim, com a presença do ex-presidente Lula. No sábados as caravanas seguem para Brumadinho e Córrego do Feijão.
 

Edição: Leandro Melito