GOLPE

Investigação aponta que OEA manipulou dados para acusar fraude em eleição na Bolívia

Um estudo sobre o pleito foi divulgado pelo Centro de Investigação em Economia e Política, com sede nos EUA

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Em outubro de 2019, um golpe de Estado derrubou Morales da presidência e instaurou um governo com características autoritárias no país - Pedro Pardo/AFP

Um novo e extenso estudo publicado pelo Centro de Investigação em Economia e Política (CEPR, na sigla em inglês) na última terça-feira (10), constatou que dados apresentados no relatório da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre as eleições da Bolívia, em outubro do ano passado, foram deturpados.

Segundo diagnóstico do CEPR, que tem sede nos Estados Unidos, o relatório foi escrito para respaldar alegações anteriores do órgão que acusaram as autoridades bolivianas de manipularem o processo eleitoral.

Convidada pelo governo boliviano para analisar o pleito, a OEA havia afirmado, à época, que teria havido fraude e recomendado a realização de um segundo turno. No entanto, um golpe de Estado derrubou Morales da presidência e instaurou um governo com características autoritárias no país.

A publicação Observando a los observadores: La OEA y las elecciones bolivianas de 2019 (Observando os observadores: A OEA e as eleições bolivianas”, em português), aponta que o documento se baseia em análises estatísticas errôneas e suposições incorretas.

“Está claro o relatório final da OEA, que a organização apresentou como a última palavra sobre o que aconteceu nas eleições da Bolívia, não possuem evidências necessárias para demonstrar que uma fraude afetou os resultados eleitorais”, disse o pesquisador Jake Johnston, um dos responsáveis pelo estudo. “Na verdade, parece haver a intenção de justificar acusações feitas pela OEA no dia seguinte as eleições, que foram apressadas, e, em últimas instâncias, indefensáveis, mas muito prejudiciais.” 

O estudo do CEPR foi feito após a divulgação de uma análise estatística dos resultados eleitorais do pleito e elaborado por Jack Williams e John Curiel, dois pesquisadores do Laboratório de Ciência e Dados Eleitorais do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, em inglês). 

A partir dos dados, o Centro alega que a OEA não apresentou informações que de fato tenham identificado problemas com a TREP (Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares) que tivessem afetado a contagem oficial de votos ou mostrado que eles haviam sido alterados.

Falsa narrativa de fraude

O estudo é enfático ao declarar que o órgão internacional corroborou para a falsa narrativa de que houve fraude nas eleições bolivianas. “O relatório final apresenta informações contraditórias em relação a TREP. Ele afirma que não havia razão tecnicamente válida para reter os dados da TREP, mas logo inclui dezenas de problemas técnicos que teriam surgido antes da retenção.”

De acordo com o estudo, o órgão ainda ignorou o fato de que a auditoria Ethical Hacking, contratada pela própria OEA, analisou os dados retidos na ocasião das eleições e determinou que os votos não haviam sido manipulados. Esse processo, por exemplo, não foi citado no relatório final. 

Para o CEPR, a OEA apresenta alegações que contradizem totalmente os dados públicos e não fornece suporte para confirmar que no dia 21 de outubro   havia algo inexplicável sobre a prévia que mostrava vitória de Evo no primeiro turno.

“Em vez da apresentação de um argumento, com base em estatísticas, a OEA, de forma decepcionante, atacar o mensageiro que está a avisando de seu erro”, disse David Rosnik, também pesquisador do centro.

Em vez da apresentação de um argumento, com base em estatísticas, a OEA, de forma decepcionante, atacar o mensageiro que está a avisando de seu erro.

Em dezembro, o Conselho Permanente da OEA impediu que o CEPR apresentasse suas análises junto ao relatório final, mesmo com solicitação do representante do governo mexicano para que isso fosse feito.

Edição: Rodrigo Chagas