Despedida

Morre João Felício, ex-presidente da CUT e do sindicato dos professores de SP

O professor foi o primeiro latino-americano a presidir a Confederação Sindical Internacional (CSI)

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João Felício iniciou a militância política e sindical nos anos 1970 - Arquivo pessoal

Morreu, na madrugada desta quinta-feira (19), em São Paulo João Felício, ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e da Confederação Sindical Internacional (CSI). O velório ocorrerá a partir das 10h no Cemitério do Araçá, em São Paulo, e o sepultamento será às 16h no mesmo local.

Formado em Desenho e Plástica, Educação Artística e História da Arte, pela Fundação Educacional de Bauru, Felício começou a lecionar como professor de Desenho em São Paulo, na rede oficial de Ensino Estadual, onde permaneceu até se aposentar.

Sua militância política e sindical iniciou ainda nos anos 1970, participando das mobilizações dos professores, na luta por melhores condições de vida e salário, contra a ditadura militar e pela conquista da Apeoesp.

Em 1980 foi eleito para o Conselho de Representantes da Apeoesp, pela região norte da capital. Participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), como delegado no congresso de fundação, no Colégio Sion na capital paulista.

Em 1981 venceu a eleição para diretoria da Apeoesp, como Diretor do Departamento Cultural. Neste período foi criada a Comissão de Mulheres e a de Combate ao Racismo do sindicato, vinculadas a este departamento. E também participou da organização de atividades culturais entre professores e alunos e formulação da concepção de educação e escola pública da Apeoesp.

Em 1983 participou do processo que resultou na fundação da CUT e da filiação do sindicato dos professores à central. Foi reeleito como Diretor do Departamento Cultural.

Em 1984 participou da Campanha das Diretas Já e da greve dos professores durante o Governo Franco Montoro, quando a Apeoesp realizou assembleias com mais de 50 mil professores. Em 1985 foi reeleito como diretor de sub-sedes da capital. Em 1987 foi eleito presidente do sindicato e, neste ano, a entidade realizou duas greves, uma em cada semestre.

Participou da luta por uma nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional e em 1989 foi reeleito presidente da entidade de professores com mais de 80% dos votos. Neste ano, ocorreu a mais longa greve da história da categoria, tendo durando 82 dias, resultando numa conquista de 126% de reajuste.

Em 1990, a Apeoesp lança a campanha “Educação no Centro das Atenções”. É eleito primeiro suplente do Senador Eduardo Suplicy (PT – São Paulo) e membro do Diretório Estadual do PT. Em 1991 foi reeleito para o terceiro mandato como presidente do sindicato. Em 1993 deixa a presidência e retorna à sala de aula, na Escola Estadual de 1º e 2º Graus Doutor Octávio Mendes, no bairro de Santana, zona norte de São Paulo. Naquele ano, a Apeoesp atingiu 122 mil associados, dos quais 70 mil participaram do processo eleitoral, na maior eleição na história da entidade, quando o professor Roberto Felicio foi eleito presidente.

Em 1994 foi eleito para Direção Executiva Nacional da CUT, indicado pelos professores do Brasil. Neste mandato foi responsável pela Comissão de Educação, Formação Profissional e da Previdência e membro do Coletivo Internacional da CUT, para questões relativas a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Direitos Humanos. Em 1997 foi eleito Secretário Geral Nacional da CUT e membro do Diretório Nacional do PT. Em 2000 assumiu a presidência nacional da CUT.

Em 2003 foi eleito Secretário Geral Nacional da CUT e Secretário Sindical Nacional do PT.

Foi membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social indicado pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva. Indicado pela CUT, atuou como representante da central no Conselho de Administração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Fez parte ainda da Direção do Instituto de Cidadania.

Em 2005, retorna à Presidência da CUT Nacional, após a saída do Luiz Marinho que assumiu o Ministério do Trabalho. Em 2006 foi eleito pelo 9º Congresso Nacional da CUT (CONCUT) como secretário de Relações Internacionais da CUT Nacional. Em 2009 reeleito Secretário de Relações Internacionais, mandato renovado em 2012 no 11º CONCUT.

Em 2014 foi eleito presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI). Felício foi o primeiro latino-americano a presidir essa importante central internacional.

Solidariedade

A ex-presidenta Dilma Rousseff disse, nas redes sociais, que o "o Brasil perde um dos mais bravos defensores dos direitos dos trabalhadores, fundador e presidente da CUT e criador do PT". Destacou ainda que João Felício "dedicou a vida ao povo brasileiro, sobretudo à educação". 
 

Em nota, o PT se referiu a João Felício como "um companheiro imprescindível". O texto, assinado pela presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e pelo Secretário Nacional Sindical do PT, Paulo Cayres, manifesta solidariedade à família e aos amigos do sindicalista. "João Felício estará sempre presente em nossa luta e na história da classe trabalhadora."