GOLPE

Ex-militar venezuelano revela plano de assassinato de Nicolás Maduro

Cliver Alcalá afirmou que tem um contrato com Juan Guaidó e assessores estadunidenses

Brasil de Fato | Blumenau (SC) |
Ex-militar venezuelano também havia coordenado tentativa de magnicídio contra Maduro, em agosto de 2018. - Divulgação

Nesta quinta-feira (26), o ex-major-general da Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) Cliver Alcalá Cordones deu uma entrevista e publicou uma série de vídeos na sua página na rede social Twitter revelando um plano de assassinato ao presidente Nicolás Maduro, elaborado por ele junto com o deputado opositor Juan Guaidó e assessores do governo dos Estados Unidos. 

Alcalá – opositor ao chavismo desde 2013 –, é um dos 13 cidadãos venezuelanos acusados pelo procurador geral dos Estados Unidos, William Barr, por supostos crimes de narcotráfico, lavagem de dinheiro e tráfico de armas. A denúncia foi apresentada nesta quinta-feira (26) ao Departamento de Justiça estadunidense e incluiu, no mesmo texto, nomes de outras autoridades do governo bolivariano, como o presidente Nicolás Maduro, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello e o presidente do Tribunal Supremo de Justiça, Maikel Moreno.

Apesar de não apresentar provas, o Departamento de Estado dos EUA ofereceu uma recompensa de US$ 10 milhões pela captura de Clíver Alcalá, Diosdado Cabello, Hugo Carvajal, ex-diretor de inteligência da Fanb e Tarek El Aisami, vice-presidente de Economia da Venezuela.     

Em uma transmissão em cadeia nacional na noite desta quina, Maduro negou as acusações. "Quem sai prejudicado nessa situação é o próprio governo de Donald Trump. Temos 15 anos de história de combate ao narcotráfico, desde que expulsamos a DEA [Departamento Antidrogas dos EUA] daqui". 

Plano golpista

Na última quarta-feira (25), o governo venezuelano havia denunciado a detenção de um veículo com 26 fuzis AR-15, de fabricação estadunidense e sem número de série, 28 visores noturnos e silenciadores. Armas que, somadas, custam cerca de US$ 500 mil e foram encontradas em uma caminhonete na rodovia que liga Barranquilha à Santa Marta, na Colômbia.

 

O condutor do veículo confirmou que estava transportando o armamento de Barranquilla à cidade de Riohacha, localizada a cerca de 80 km da fronteira com a Venezuela. As armas seriam entregues a 'Pantera', como é chamado Robert Colina Ibarra, suposto líder de um dos acampamentos de treinamento paramilitar, onde um genro de Alcalá, estaria sendo treinado para o atentado contra Maduro. 

Segundo o vice-presidente de Comunicação, Turismo e Informação da Venezuela, Jorge Rodríguez, grupos paramilitares são treinados em território colombiano. A inteligência venezuelana já havia identificado, através de drones,  no ano passado, a existência de ao menos três acampamentos de treinamento paramilitar na Colômbia.
 


Durante entrevista à W Rádio, o ex-militar Cliver Alcalá Cordones destacou que a operação estava sendo planejada pela oposição venezuelana, sem participação do governo colombiano. Ele explicou que coordenava um grupo de 90 oficiais e que participou de sete reuniões com assessores estadunidenses junto a Juan José Rendón Delgado,  conhecido como JJ Rendón, empresário venezuelano, residente nos Estados Unidos.

Alcalá também confirmou a versão do governo chavista sobre as armas confiscadas na Colômbia. "As armas que foram encontradas na Colômbia pertenciam ao povo venezuelano. Tudo isso, dentro de um convênio assinado pelo presidente Guaidó, o senhor JJ Rendón, o senhor Vergara. Estamos trabalhando num plano de liberdade para Venezuela.Acordamos, em uma reunião com assessores estadunidenses, eliminar, de maneira cirúrgica, os objetivos criminais que geraram desastre no nosso país."

O vice-presidente de Comunicação venezuelano, Jorge Rodríguez desconfia da afirmação sobre o desconhecimento dos planos por parte do presidente colombiano, Iván Duque. Segundo Rodríguez, a Venezuela já denunciou, em mais de uma ocasião, a presença de acampamentos de treinamento paramilitar com cidadãos venezuelanos em território colombiano.

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"Temos informação, com pessoas infiltradas dentro da inteligência colombiana, que esse tipo de situação acontece com frequência", afirmou o ministro venezuelano.

Traído

Alcalá disse que decidiu divulgar os planos do atentado depois de receber a notícia de que havia sido incluído na lista da denúncia do Departamento de Estado estadunidense e por ter recebido informações de que poderia ser alvo de um novo caso de "falso positivo". "Tínhamos tudo preparado, mas houve infiltrações dentro do seio da oposição. Por essa oposição que quer seguir convivendo com o governo de Nicolás Maduro."

 

"Por que fracassou? Por que fizemos esses planos fracassarem. Essa foi uma vitória da estabilidade e da paz da Venezuela", assegurou Maduro durante coletiva de imprensa.

O governo venezuelano afirma que há três semanas já havia identificado  três campos de treinamento paramilitar na cidade de Riohacha e que, há 48h, o presidente colombiano Iván Duque havia autorizado uma ordem de prisão para o ex-militar venezuelano por posse ilegal de armas.

Ainda de acordo com o serviço de inteligência militar venezuelano, parte do grupo liderado por Alcalá também participou da tentativa de magnicídio contra o presidente Nicolás Maduro, em agosto de 2018.

Quem é Cliver Alcalá?

Foi major general do Exército venezuelano durante o governo do ex-presidente Hugo Chávez. Fez parte do primeiro levantamento militar liderado por Chávez em fevereiro de 1992. Em 2002, logo depois do golpe de Estado contra o comandante chavista, liderou a reforma da Polícia Metropolitana de Caracas, parte central do sequestro do ex-presidente. 

Desligou-se da Força Armada Nacional Bolivariana em 2013 e do chavismo, depois do falecimento do ex-presidente, em seguida, somou-se à oposição ao governo de Nicolás Maduro. Em 2016, colaborou com o movimento que exigia um referendo revogatório para anular o mandato presidencial de Maduro.

Vive em Barranquilla há dois anos e foi acusado em mais uma ocasião de narcotráfico. 

Processo judicial 

Diante das revelações, o procurador geral da República, Tareck William Saab anunciou que o Ministério Público abriu uma investigação contra Juan Guaidó, Clíver Alcalá e outros cidadãos venezuelanos envolvidos no plano golpista.

O chefe de Estado venezuelano, Nicolás Maduro garantiu que todos os envolvidos serão capturados. "A Fanb está alerta para o combate. Para tudo que faça falta. Somos de paz, mas somos guerreiros. Há que ser muito miserável para colocar em prática um plano golpista em meio à situação atual. Nós estamos preparados. Se um dia o imperialismo ou a oligarquia colombiana decidir tocar em um fio de cabelo nosso, terão que lidar com a fúria bolivariana", finalizou.

Edição: Rodrigo Chagas