Neste período de crise econômica e sanitária, trabalhadores da coleta de material reciclável e suas famílias, em Curitiba, têm sido impactadas com a queda no preço de materiais, caso do alumínio e do papel. Ao lado dessa situação difícil, principalmente para os trabalhadores autônomos, sem proteção trabalhista, alguns produtos não têm comprador nesse momento. Há locais de compra dos materiais fechados.
“Ontem uma associação conseguiu vender depois de 20 dias cobre por R$ 19 reais e metal por R$ 11. A latinha, embora tenha onde vender, o preço caiu muito. Quem pagava em fevereiro R$ 3,90 agora quer pagar R$ 3,20” (o quilo), afirma a assistente social Vanda de Assis. Em conversa com trabalhadores da região do Novo Mundo, alguns falam em queda do preço para até R$ 2,80 o quilo.
Entre os setores mais impactados, encontram-se os trabalhadores que não estão em barracões envolvidos com a gestão municipal (caso do projeto Eco Cidadão, que contempla apenas 32 famílias). Vários deles também não estão em associações de classe, o que piora as condições de vida. Em um dos barracões visitados pela reportagem, que tem uma média de 30 carrinheiros trabalhando diariamente, cada trabalhador relata uma situação particular neste momento de ausência de políticas sociais amplas.
Há o risco de contágio no manuseio dos materiais, muitas vezes estocados na própria casa dos trabalhadores. “Material se consegue, mas nas lojas está mais difícil, o preço está igual, a latinha caiu”, afirma Israel, 50, carrinheiro há seis anos. “Estamos sobrevivendo, estou com medo, saio um dia sim, um dia não”, completa. O carrinheiro relata falta de alimentação necessária, situação constatada na região, ao que se somam situação de desemprego recente, impossibilidade de trabalhadoras e trabalhadores irem às ruas. A reportagem conversou com mais de vinte famílias na região, não apenas de catadores, e constatou esta situação.
A dificuldade de venda por parte das associações aos atravessadores é visível, dos pequenos aos médios. “Associações vendem para atravessadores, donos de médios barracões, classificam por tipo e vendem por preço maior do que compraram e menor do que a indústria”, afirma Vanda de Assis.
Prefeitura não atende carrinheiros autônomos
A assessoria de comunicação da prefeitura de Curitiba, questionada sobre quais são as medidas tomadas em benefício desse segmento de trabalhadores, afirmou que atende os que fazem parte do programa Ecocidadão. É fato que várias ficam ausentes da contratação municipal caso da associação Sociedade Barracão.
Afirma a prefeitura: “Algumas associações optaram por suspender temporariamente o trabalho. Das 40 contratadas, 32 seguem trabalhando com a coleta e com o recebimento do material que vem do Lixo Que Não É Lixo. Impreterivelmente, o resíduo reciclável deve ficar em quarentena de 24 a 72 horas antes de ser manuseado, para que haja eliminação de qualquer risco de contaminação pelo novo coronavírus.
O valor por tonelada que o município paga às associações é repassado a todas as 40 (ou seja, as que estão paradas também são pagas). Além disso, há campanhas de arrecadação de doações em andamento para auxílio dos associados”, diz a gestão.
Sobre os catadores autônomos, principal tema desta reportagem, a prefeitura diz que “devem buscar auxílio do governo federal, como é orientado aos demais trabalhadores autônomos do país”
***Como medida de segurança, as entrevistas foram feitas com as medidas de prevenção necessárias. O nome completo dos trabalhadores foi preservado como forma de não exposição, pelos vínculos de trabalho já frágeis.