Paraná

Solidariedade

Acampamento do MST em fazenda da família Rocha Loures doa 1,5T de alimentos no PR

Área é da família do ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures, indicado por Temer para receber propina e favorecer JBS

Curitiba (PR) |
Com a contribuição das famílias da comunidade Claudete Vive, o MST chega à marca de 84,540 toneladas de produtos doados em todo o estado - Arquivo MST

Mais de 1,5 tonelada de alimentos colhidos no acampamento Claudete Vive foram distribuídos a famílias de baixa renda em Boa Ventura do São Roque, região centro-oeste do Paraná, na sexta-feira (24). A iniciativa das 65 famílias da comunidade faz parte de uma campanha nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em solidariedade a quem já encara a fome como consequência da pandemia do novo coronavírus.

O acampamento está localizado na antiga fazenda Rocha Loures, que pertence à família do “homem da mala”, o ex-deputado federal pelo Paraná Rodrigo Santos Rocha Loures (PMDB). O parlamentar ganhou o noticiário brasileiro em maio de 2017 como pivô do escândalo que abalou o governo Michel Temer (PMDB), após delação dos donos da JBS à operação Lava Jato. Indicado por Temer para receber propina e favorecer a empresa, o paranaense foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley Batista, da JBS.

Desde que iniciaram o acampamento, em 10 de julho de 2018, os trabalhadores e trabalhadoras se dedicaram a produção de alimentos para consumo próprio e de excedentes para comercialização e geração de renda. Enquanto ainda não era possível garantir comida na mesa a partir do que se colhia na roça, os camponeses puderam contar com o apoio urbano. Por isso as doações feitas nesta sexta-feira serviram como agradecimento.

“Nós conversamos na comunidade e entendemos que agora seria o momento de retribuir tudo aquilo que recebemos quando entramos na área. Conseguimos reunir muitos alimentos. Foi muito gratificante”, explica Vanderleia de Oliveira, integrante da coordenação do MST na região.

Mandioca, arroz, feijão, abóbora, moranga, milho-verde e frutas. A diversidade e a fartura de alimentos doados mostram a transformação ocorrida na área desde a ocupação. “Nós ficamos muito felizes por ver que um ano e nove meses em que as famílias estão na ocupação já podem contribuir com essa alimentação. Foi bem significativa, pelo tempo do acampamento”, garante a coordenadora.

Esta é a segunda doação feita por famílias do MST em Boa Ventura de São Roque. A primeira ocorreu no dia 20, a partir da organização dos agricultores e agricultoras do assentamento Novo Paraíso, com o volume de 1,5 tonelada de alimentos e 80 litros de leite. As duas comunidades planejam fazer novas doações nas próximas semana.

Família tradicional e casos de corrupção

O “homem da mala” pertence a uma família tradicional do Paraná, que inclusive está na linhagem dos fundadores de Curitiba, os Carrasco dos Reis e os Mateus Leme. As terras da comunidade Claudete Vive estão em nome da Agropecuária Belarrisa, de propriedade de Rodrigo Costa da Rocha Loures, pai de Rodrigo Rocha Loures.

O pai do ex-deputado ocupou cargos de peso, entre eles a presidência da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) de 2003 a 2011. Neste período, Rodrigo Costa da Rocha Loures foi indiciado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por supostas fraudes na gestão. A maioria das denúncias estava relacionada a despesas não justificadas, repasses de R$ 265 mil e R$ 561 mil ao Instituto Paraná de Desenvolvimento (IPR), presidido por Rodrigo da Rocha Loures, entre outros gastos com familiares sem qualquer comprovação ou justificativa.

A fazenda Rocha Loures foi ocupada para denunciar a corrupção praticada pelo ex-deputado. “A decisão de ocupar ela foi como forma de denunciar a situação do proprietário. A área também estava abandonada, com pastagem suja e maquinário abandonado”, diz Antonio Cardoso, integrante da coordenação da comunidade. A quantidade de bovinos encontradas na área também era bem menor do que o declarado pelo proprietário, o que reforçou a avaliação do Movimento de que a fazenda estava improdutiva.

Balanço das ações de solidariedade do MST no Paraná

Com a contribuição das famílias da comunidade Claudete Vive, o MST chega à marca de 84,540 toneladas de produtos doados em todo o estado, desde o dia 9 de março - diversidade de alimentos frescos, mais de sete mil litros de leite, 500 marmitas e uma pequena parte de sabão líquido caseiro e álcool 70%.

Ao todo, 19 acampamentos e 28 assentamentos do MST participaram das ações de solidariedade, envolvendo 32 cidades de todas as regiões do estado.

Edição: Lia Bianchini