projeção

Brasil deve ter um milhão de contaminados, estima ex-ministro da Saúde José Temporão

Médico sanitarista advertiu que “maio será um mês dramático”, com escalada geométrica da pandemia no país

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Pesquisador da Fiocruz, Temporão participou de teleconferência da bancada do PT na Alergs - Divulgação

médico sanitarista e ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão afirmou, nessa terça-feira (28), que o Brasil deve ter, neste momento, um milhão de pessoas contaminadas pelo novo coronavírus. Assim, o país estaria praticamente junto aos Estados Unidos na quantidade de casos. As cifras oficiais — que assinalam 78.182 infectados nesta quarta-feira (29) — estão 10 ou 15 vezes abaixo dos números reais, na sua avaliação. Temporão advertiu que “maio será um mês dramático”, com escalada geométrica da pandemia no país. A projeção foi feita por Temporão durante uma teleconferência da bancada do PT na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul (Alergs).

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Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Temporão observou um movimento preocupante da covid-19: a interiorização. “Todas as cidades com mais de 100 mil habitantes têm casos. Oitenta por cento daquelas que possuem entre 50 mil e 100 mil moradores já registram casos. E 44% das que têm população entre 20 mil e 50 mil habitantes também”, acentuou. Como a doença implica, nos quadros mais graves, em internação de duas a três semanas, o avanço irá gerar uma pressão na escassa rede hospitalar dos pequenos e médios municípios e, logo, no das cidades maiores mais próximas.

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“Ilegal e imoral”

Em teleconferência promovida pela bancada do PT na Assembleia Legislativa, Temporão ponderou que 150 milhões de brasileiros dependem exclusivamente do SUS e defendeu a gestão integral da rede de Saúde. “No SUS, existem sete leitos de UTI para cada 100 mil habitantes, enquanto na rede privada, acessada pelos 50 milhões que possuem planos de saúde, são 35 leitos por 100 mil”. Se os dois sistemas forem integrados, haveria algo como 15 leitos por 100 mil, “o que é um número muito razoável no contexto de um país em desenvolvimento, mas para isso é preciso que seja tomada uma decisão política”.  Após citar uma frase do cirurgião e professor da USP Miguel Srougi, avisando que “os pobres irão morrer na porta dos hospitais”, Temporão classificou tal cena futura como “ilegal, imoral e eticamente insustentável”.

“Escalando a curva”

Em maio, o país estará “escalando a curva”, que será “mais ou menos íngreme” conforme a adesão ao isolamento social. Para Temporão, o índice deveria ser de 70%. O problema é que a adesão vem caindo nas últimas semanas, justamente quando se aproxima o pico da epidemia.

O ex-ministro também criticou a precariedade das medidas econômicas tomadas para proteger os 51 milhões de desempregados e trabalhadores informais. “A economia deveria estar preocupada em salvar vidas”, enfatizou. E o comando de combate à pandemia deveria ser “coeso, unificado, transparente e permanente, o que não há”. E o que existe “é um presidente que questiona as medidas da Organização Mundial da Saúde e, de maneira irresponsável, faz propaganda de remédios não testados e aprovados pela ciência e estimula que as pessoas saiam de casa”.

Isolamento é essencial

Temporão comparou o panorama atual com aquele que enfrentou em 2009 na pandemia da gripe H1N1 ou influenza A. Rapidamente obteve-se acesso à vacina e 100 milhões de brasileiros receberam a imunização em 2010. Ele observou que a covid-19 é mais grave, não tem vacina nem medicação e o melhor a ser feito para evitá-la é usar o rigor do isolamento, o distanciamento social e o uso de máscaras se for imprescindível sair à rua. Citou como exemplo Portugal que conseguiu cedo travar a disseminação, apelando para um isolamento rígido.

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Quanto às medidas sanitárias tomadas pelo governo federal, elogiou o fato do país ter cedo aderido ao isolamento. E censurou a lentidão na obtenção de equipamentos de proteção para os hospitais e profissionais de saúde.

Cinco questões para o Brasil

Na sua visão, o advento da covid-19 colocou cinco questões ao Brasil: chamou a atenção para a desigualdade social; evidenciou a importância do Estado, cumprindo um papel que o mercado jamais cumpriria; esclareceu a relevância da ciência; expôs as debilidades da política econômica neoliberal; e apontou o SUS como instrumento de proteção da coletividade e patrimônio intergeracional da Nação.  

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Sobre o panorama pós-pandemia, o ex-ministro da Saúde prognosticou que algumas coisas não voltarão ao que eram tão cedo. “Festas, futebol, cinema, teatro, locais com aglomeração. Isso não será possível logo. E bares e restaurantes deverão ser os últimos a reabrir”, avaliou. E fez outra previsão. “Este coronavírus – vaticinou – não será o último diante do processo de desequilíbrio ambiental brutal que está acontecendo

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Vivian Fernandes e Katia Marko