Ameaça

Aumento da contaminação entre indígenas por garimpo ilegal preocupa ativistas

Dados e relatos apresentados no Acampamento Terra Livre mostram que a ação de invasores elevam risco de "novo genocídio"

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Invasões a terras indígenas têm sido mais frequentes no período de pandemia, relatam lideranças - Lidiane Ribeiro/Ibama

O vaivém de invasores em terras indígenas tem exposto aldeias ao novo coronavírus e provocado uma onda de contaminações e mortes, conforme dados no Acampamento Terra Livre (ATL).

O evento que discute os grandes desafios do momento para indígenas e indigenistas debateu nesta terça-feira (28) a vulnerabilidade e os impactos da chegada da nova doença às comunidades. Veja o debate completo.

Enquanto as populações indígenas tentam manter o isolamento contra a covid-19, garimpeiros, mineradores e religiosos aproveitam o afrouxamento nas fiscalizações para reforçar o trabalho de destruição, afirmou Sonia Guajajara, coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), organizadora do evento.

“Enquanto a gente está de quarentena, lutando pelos povos indígenas ficarem nos territórios, nós vemos o aumento das invasões. Em um mês, foi um aumento de 29,3% do desmatamento. Isso são dados do Inpe”, relatou.

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Sonia reforçou que, caso não sejam tomadas medidas para conter as invasões, a tendência é que haja um novo genocídio entre a população indígena.

“É um período que exige de nós estar com esse olho na pandemia, para evitar ainda maior contaminação – a entrada nos territórios indígenas representa um novo genocídio de nossos povos – e temos que ficar com o outro olho nas outras situações que nunca tiveram respostas, que o Estado brasileiro nunca se comprometeu a atender, que são as invasões, os ataques, os assassinatos”, diz.

A entrada nos territórios indígenas representa um novo genocídio de nossos povos.

O pesquisador Antonio Oviedo, do Instituto Socioambiental, analisou outras epidemias em terras da etnia Yanomami. A projeção foi de que cada invasor que entra no território pode provocar outros 1,6 mil casos de uma doença como a covid-19. A análise leva em consideração a atuação de 20 mil garimpeiros em terra yanomami.

“A gente percebe que é uma diferença, em 30 dias, considerando a população de garimpeiros, se pode esperar mais de 1,6 mil casos a partir de um único caso. Ao passo que, com as medidas de restrição, reduzindo em 50% a movimentação da população, você tem apenas dois casos após 30 dias, a partir de um único caso”, explicou.

A professora Marta Azevedo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), apresentou estudo em que analisa a vulnerabilidade das terras indígenas levando em conta fatores demográficos e de infraestrutura, como acesso a água, banheiro e proximidade de hospitais com UTI.

Conforme o mapeamento, 13 terras indígenas têm vulnerabilidade considerada crítica e 85 consideradas de vulnerabilidade intensa.

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Marta ressaltou que, além do risco sanitário, a covid-19 também põe em risco a riqueza cultural dos povos indígenas, já que os idosos, considerados sábios, são os mais vulneráveis.

“Para as sociedades indígenas, é uma coisa que impacta em termos de reprodução cultural dessa sociedade. Porque os povos indígenas já têm uma porcentagem de idosos menor, por conta de todas as epidemias que sofreram, por conta de todas as guerras. Esses idosos são os sábios, são os mestres. Como se diz no Japão, são os tesouros vivos dos povos indígenas”, comenta.

Povos indígenas já têm uma porcentagem de idosos menor, por conta de todas as epidemias que sofreram, por conta de todas as guerras. Esses idosos são os sábios, são os mestres.

O pesquisador Andrey Cardoso, ligado à Fundação Oswaldo Cruz, alertou para o fato de que as terras indígenas com maior risco à covid-19 estão próximas a grandes centros urbanos, como Manaus. Ele ainda elencou outra preocupação: “Com a interiorização da epidemia, que a gente está observando, haverá um aumento expressivo de indígenas em situação de alto risco da epidemia imediato”.

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Retificação

Em resposta à matéria do Brasil de Fato, o pesquisador Antonio Oviedo decidiu retificar por meio da assessoria de imprensa do Instituto Socioambiental, sua fala feita no seminário. Segundo ele, os estudos apresentados ainda não foram validados e foram usados "apenas como exemplo". Por isso, a informação está incorreta e não consta nos estudos concluídos pelo ISA.

Veja a nota na íntegra:

"A informação atribuída ao pesquisador Antonio Oviedo, do Instituto Socioambiental, "A constatação foi de que cada invasor que entra no território pode provocar outros 1,6 mil casos de uma doença como a covid-19" veiculada em https://www.brasildefato.com.br/2020/04/29/cada-invasor-em-terra-indigena-pode-gerar-1-6-mil-casos-da-covid-19-diz-pesquisador, está incorreta e não consta nos estudos concluídos pelo ISA.

O estudo realizado pelo ISA, e apresentado no seminário "vulnerabilidades, impactos e enfrentamento à covid-19 no contexto dos povos indígenas" apresentou resultados sobre a vulnerabilidade das Terras indígenas no Brasil, onde a Terra Indígena Yanomami apresenta um dos níveis mais altos de vulnerabilidade (noota de 0,7 onde quanto mais próximo a 1 é o grau máximo de vulnerabilidade). O estudo considera indicadores de vulnerabilidade social produzidos pela Fiocruz, dados sobre os casos da covid-19 e a estrutura de saúde nos municípios brasileiros. Para a Terra Indígena Yanomami, o estudo conclui que a região onde o território se localiza apresenta o menor número de leitos e maior distância às áreas de atendimento hospitalar. Essas são as informações validadas pelo estudo para a Terra Indígena Yanomami.

Durante o debate entre os palestrantes, foi abordado o tema do desmatamento e garimpo ilegal, e como essas variáveis podem pressionar por uma maior vulnerabilidade dos povos indígenas. Foi mencionado o interesse dos palestrantes para um esforço colaborativo para estudos futuros que devem avaliar a possibilidade de incorporação dessas variáveis de pressão. Porém, esses estudos não existem até o momento. Foi apresentado um gráfico demonstrativo, porém sem resultados validados, apenas como exemplo, sobre como esses estudos podem ser realizados. Durante a apresentação fica claro que são hipóteses a serem testadas em estudos que "queremos fazer no futuro e tentar avaliar coisas como o impacto da disseminação da doença". A nota técnica do estudo apresentado durante o seminário (em anexo) e disponível na plataforma de monitoramento do ISA (https://covid19.socioambiental.org/) não contempla dados quantitativos sobre infecção de garimpeiros ou da população indígena Yanomami e não podem ser tratadas como verdade conforme expressado na matéria em questão."

Edição: Rodrigo Chagas