SAÚDE MENTAL

Organizações em Salvador (BA) promovem apoio psicológico em tempos de isolamento

Com ajuda da internet, as iniciativas promovem o acolhimento de pessoas em sofrimento mental

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
O atendimento na plataforma Psiu Acolhimento é on-line e gratuito para toda a população, sendo realizado por psicólogos voluntários - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ansiedade, medo e tristeza são sentimentos que têm sido cotidianos para muitas pessoas durante a pandemia da covid-19. Para aquelas que já dependiam de apoio psicológico, o distanciamento social pode aumentar ainda mais o sofrimento emocional. Algumas iniciativas, no entanto, oferecem alternativas para atender a demandas de saúde mental, driblando o isolamento com ajuda da internet.

É o caso do programa PsiU - Universidade, Saúde Mental e Bem-estar, que atende gratuitamente a comunidade da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Com a pandemia, o programa, que existe desde 2017 de forma presencial, tem feito atendimentos por meio do WhatsApp, pelo número DDD 71-987071041. A demanda, segundo o serviço, tem sido de oito a dez chamadas por dia. “Muitas vezes a gente recebe pessoas 11 horas da noite, muito tensas pela solidão”, conta Marcelo Veras, psiquiatra e coordenador do programa.

Para ajudar neste momento, ele indica alguns reposicionamentos. Veras explica que muitas pessoas estão com medo do desemprego, da morte, da doença e do futuro próximo, questões muito preocupantes, mas esse sentimento apenas aumenta a sensação de impotência. “Somos atropelados por um evento mundial e esquecemos que o modo como a gente vive esse evento é pequenininho. A gente tem que saber lidar com as pequenas ações”, propõe.

O psiquiatra sugere ainda que as pessoas aproveitem esse momento para “reinventar a intimidade de seus próprios espaços”, de estar em casa e de ali se relacionar. “Toda trama se passa no modo como a gente consegue atravessar esse período, que não é nem tão longo, quando a gente pensa na travessia de nossa existência, se servindo de outros modos de comunicação para chegar até o outro”, explica.

Acolhimento

A Prefeitura de Salvador, por sua vez, lançou a plataforma Psiu Acolhimento para acompanhamento psicológico on-line e gratuito para toda a população. O atendimento é feito por psicólogos voluntários, por meio de videochamadas com duração de até 20 minutos.O site foi desenvolvido em parceria com as empresas Cubos Tecnologia e Sanar, junto com as secretarias municipais de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (Secis) e de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre).

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, os serviços da atenção à saúde mental foram orientados a fazer a gestão dos casos dos usuários por telefone e outras formas de comunicação virtual. Quem precisa de atendimento presencial continua sendo recebido, como, por exemplo, nos casos de prescrição e renovação de receitas, entrega de medicamentos e admissão de novos usuários. As atividades em grupo e oficinas terapêuticas dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) foram suspensas, mas as unidades permanecem abertas em horário normal, das 8h às 17h.

Entre os mais vulneráveis

Laís Mendes, psicóloga e apoiadora da Associação Papo de Mulher, formada por mulheres de camadas populares atendidas nos Caps de Salvador, aponta que aspectos sociais também são parte desse cenário. “A gente vive em uma sociedade capitalista, racista, machista, lgbtfóbica e isso gera impactos na nossa saúde mental que vão emergir de forma ainda mais intensificada nesse momento que a gente está”.

A psicóloga explica que pessoas com transtornos mentais muitas vezes não têm acesso ao emprego formal e muitas estão à espera de doações e liberação de auxílios, o que, segundo ela, intensifica o sofrimento mental. Ela acrescenta que essas mulheres têm que lidar ainda com o medo e com o imperativo do confinamento. “A gente está nesse momento do ‘Fique em casa’, quando muita gente nem casa tem, ou quando ficar em casa significa uma exposição a diversas formas de violência”.

Para apoiar as usuárias, a associação têm buscado alternativas, como a realização dos cadastros de auxílio e a escuta, pela internet ou por ligações telefônicas. Laís, que também faz parte do Coletivo Baiano de Luta Antimanicomial (CBLA), conta que o grupo está preparando ações on-line para o mês de maio, dedicado à luta antimanicomial. Serão promovidos debates sobre saúde mental e a relação com temas como gênero, raça, pandemia e conjuntura politica. A programação será divulgada pelo Instagram.

Fonte: BdF Bahia

Edição: Elen Carvalho e Camila Maciel