Protesto

Contra governo Bolsonaro, estudantes realizam manifestação unificada na sexta-feira

“Urge a necessidade do Bolsonaro responder pelos seus atos irresponsáveis e irreparáveis", diz a convocatória do ato

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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“A implementação de um programa cada vez mais elitista de universidade que passou no último período de popularização.” - Evaristo Sá/AFP

Na próxima sexta-feira (8), a União Nacional dos Estudantes (UNE), outras entidades da educação e movimentos populares promoverão um ato unificado contra o governo de Jair Bolsonaro. Além da UNE, as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo também convocam uma manifestação virtual.

“Urge a necessidade do Bolsonaro responder pelos seus atos irresponsáveis e irreparáveis! A juventude está unida para um amplo ecoar das vozes da revolta. Participe das nossa ações, terá panelaços, tuitaços, um dia com ações virtuais para colocarmos para fora nossa indignação. Não dá mais”, afirmam os representantes da UNE em convocação para o ato. 

Élida Elena, vice-presidenta da UNE e integrante do Levante Popular da Juventude, afirma que o objetivo da manifestação, ainda que virtual, é expressar a opinião dos movimentos de maneira unificada e disputar a narrativa da educação na sociedade “denunciando esse projeto de morte que Bolsonaro vem implementando no nosso país”. 

“Desde o começo do governo, eles decidiram que a educação seria um dos inimigos principais do governo, e o [Abraham] Weintraub tem aprofundado esses ataques, perseguições e cortes. Como diria o saudoso Florestan Fernandes, um povo educado não aceitaria as condições de desemprego e de miséria que o Brasil vive”, afirma Elena, para quem o objetivo do governo é tirar o caráter crítico do processo educacional e a “capacidade de analisar a realidade”.

“A implementação de um programa cada vez mais elitista de universidade que passou no último período de popularização", pontua.

Esse propósito, segundo Elena, se concretiza na proposta do governo de seguir com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste ano, mesmo com as incertezas geradas pela pandemia do novo coronavírus. Em uma propaganda veiculada nas redes sociais do Ministério da Educação, a pasta pede que os estudantes do Brasil continuem a estudar, com o suporte de livros e computadores. “A vida não pode parar”, diz o ministério na propaganda. 

“Essa não é a realidade dos estudantes pobres do Brasil que estão querendo acessar a universidade. Todo mundo sabe, o Weintraub sabe disso. Mas ele está fazendo uma escolha, quer selecionar mais ainda quem vai entrar na universidade, quem tem mais condição financeira, tirando do povo a oportunidade de entrar na universidade”, afirma Elena.

Na mesma linha, Flávia Calé, presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), organização que também participa da manifestação, afirma que o Ministério da Educação tem sido um “vetor importante da guerra cultural” posta pelo governo.

Abraham Weintraub, ministro da Educação, “tem empreendido um conjunto de medidas contra as universidades de caráter anticientífico e obscurantista que colocou no alvo os professores, alunos, universidades, o pensamento crítico e as escolas como inimigos da nação”, afirma Calé. 

Para ela, isso tem atingido "fortemente" a pós-graduação no Brasil. Calé lembrou que a pasta reduziu o financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) em R$ 1 bilhão no orçamento, “que teve cortes de bolsas no ano passado que ainda não foram repostas integralmente. Então, tem um conjunto de iniciativas que buscam desnutrir a pós-graduação”.

Para Élida Elena, o momento é de aprofundamento da crise econômica, impactada pela crise sanitária, exacerbando as desigualdades sociais brasileiras. Ao mesmo tempo, “Bolsonaro cada dia mais atesta que seu projeto não está a serviço de resolver os problemas do povo. Pelo contrário, ele tem dado resposta apenas aos lucros dos grandes empresários” ao defender que a população volte à normalidade. 

Edição: Leandro Melito