Ciência

Univasf registra patente de "curativo inteligente" para lesões como o pé diabético

Pesquisa foi desenvolvida entre 2013 e 2014 pela universidade pernambucana, mas somente agora o INPI concedeu a patente

Brasil de Fato | Petrolina (PE) |
Além desta primeira patente, a Univasf possui 56 pedidos em análise pelo INPI no momento - Reprodução

A Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) obteve, esta semana, patente para os "curativos inteligentes", destinados a impedir a proliferação de bactérias em feridas e lesões. A tecnologia foi desenvolvida entre 2013 e 2014 por professores e pesquisadores da instituição, mas só agora, seis anos depois, obteve Patente de Invenção (PI), concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).  

O "curativo inteligente" tem baixo custo e poderá ser utilizado para tratar lesões como o pé diabético, que é uma série de alterações e ferimentos persistentes em pessoas que possuem diabetes e têm dificuldade de controlar a doença, o que gera infecções e inflamações de feridas nos pés que não cicatrizam. O projeto contou também com a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Concessão de patente seis anos depois

A pesquisa foi desenvolvida entre 2013 e 2014 e foi patenteada com o título “Nanofibras com ação bactericida à base de poli (ácido metacrílico, metilmetacrilato) 1: 1 e ácido úsnico”. Coordenada pelo professor da Pós-Graduação em Ciência dos Materiais Helinando Pequeno de Oliveira, o trabalho foi realizado também pelos professores da Univasf Mateus Matiuzzi, pesquisador da área de Microbiologia, e Evando Araújo, pesquisador das Ciências dos Materiais, que à época era estudante de doutorado na Universidade. O projeto contou também com a colaboração de pesquisadores da UFPE, como a então discente da graduação em Medicina Veterinária da Univasf Carolina Machado e os professores Eugênia Pereira e Nicácio da Silva. Além desta primeira patente, a Univasf possui 56 pedidos em análise pelo INPI no momento. Entre eles, 34 são titulares, ou seja, depositados pela própria Universidade, e 22 são co-titulares, em parceria com outras instituições.

O professor Helinando explica que o processo para receber a patente é burocrático, mas tem uma função de reconhecimento e proteção das pesquisa feitas pela Universidade. “O processo de solicitação de patente requer que você tenha desenvolvido algo inédito e que seja aplicado a um produto. Se eu divulgo esse controle de patente, pode vir uma empresa, copiar e receber os lucros de um investimento público, porque o estudo feito pela universidade é financiado por uma agência de financiamento, os salários são pagos com o dinheiro do povo. É justo o fruto de investimento público ir para a iniciativa privada?”, questiona.

O curativo

O invento patenteado é feito a partir do ácido úsnico, um produto natural e que pode impedir a proliferação de bactérias em ferimentos. O produto é incorporado a uma rede de tecido feita de nanofibras de forma encapsulada, lançando o ácido sob as bactérias com o tempo, prolongando sua ação bactericida. A tecnologia de baixo custo pode ser licenciada para a comercialização, gerando renda por meio de royalties para a Universidade e também para os pesquisadores. Assim, os valores arrecadados são revertidos em investimentos para pesquisas e inovação tecnológica. 

Apesar desse ciclo de financiamento da pesquisa, que gera renda para novos investimentos na ciência, Helinando destaca que o financiamento público é essencial para o desenvolvimento de outras pesquisas. “Existe uma falácia de que as universidades se sustentam através de patentes, mas isso é uma falácia, porque elas são financiadas pelo Estado. Esse discurso que corta o financiamento, inclusive das pesquisas de ciências humanas e sociais, é para destruir a universalidade de conhecimento. O financiamento de pesquisas em todo mundo é feito com recursos públicos. Agora, nesse momento de pandemia, a gente vê como é importante que o estado esteja investindo constantemente nas pesquisas, e não só no momento da crise. O caminho que o Brasil está tomando é perigoso, porque não se privatiza pesquisa. Nós não podemos abrir mão da ciência”, pontua.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Monyse Ravena e Vivian Fernandes