Solidariedade

Camponeses doam 50 toneladas de alimentos para famílias do Paraná neste sábado (30)

Ação envolve mais de 30 comunidades de posseiros e povos faxinalenses, além de assentamentos e acampamentos do MST

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Alimentos vão para famílias moradoras da periferia de Guarapuava e Pinhão - Wellington Lenon

Agricultores do centro-sul do Paraná vão doar, no próximo sábado (30), aproximadamente 50 toneladas de alimentos para famílias moradoras das periferias das cidades de Guarapuava e Pinhão. A ação é em solidariedade às famílias urbanas que já enfrentam a falta de comida neste período de pandemia do novo coronavírus.

A organização da atividade vem acontecendo há pelo menos duas semanas. A coleta de alimentos doados pelas comunidades agrícolas está ocorrendo desde quarta (27) e segue até sexta-feira (29). A ação envolve mais de 30 comunidades situadas em áreas de posseiros e povos faxinalenses, além de assentamentos e acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A diversidade das doações vai desde o feijão e arroz, que não podem faltar na mesa do povo brasileiro, até o pinhão e a erva-mate, típicos da cultura do sul do Brasil. Também serão doados quirera, fubá, farinha de milho, batata-doce, mandioca, moranga, abóbora, derivados de leite, hortaliças, batata, limão, laranja, banana e sabão caseiro.

:: Para combater a "pandemia da fome", MST já doou mais de 600 toneladas de alimentos ::

Comunidade de Alecrim, em Pinhão (PR)

Entre as comunidades que irão doar alimentos está o Alecrim, de Pinhão. A vila de posseiros ficou conhecida no Paraná e no Brasil após a repercussão do despejo violento e repentino ocorrido em 1º de dezembro de 2017. Naquele dia, máquinas destruíram uma igreja, casas, um posto de saúde, uma padaria comunitária e outras estruturas comunitárias construídas ao longo de 23 anos de ocupação da terra.

As 20 famílias do local viveram dias de desespero, sem tempo de tirar seus pertences das casas ou de colher a produção da roça. Uma semana depois, realizaram um protesto na rodovia PR-170, em articulação com famílias assentadas. No dia 14 de dezembro, decidiram voltar a ocupar a área e iniciaram a reconstrução da comunidade. Em fevereiro de 2018, a Justiça determinou a suspensão da reintegração de posse. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já manifestou interesse em comprar a área.

Regularização fundiária e conflitos

Assim como a comunidade do Alecrim, cerca de metade dos 30 mil habitantes de Pinhão vivem em terras tomadas pela família Zattar desde 1940. Desde os anos 1990, o Estado reconhece a existência de conflitos que demandam a regularização fundiária das áreas na região, porém, a demora na efetivação coloca milhares de famílias em situação de ameaça de despejo. Estudos acadêmicos apontam a obtenção ilegal de terras por parte dos Zattar, donos de uma madeireira, bem como os malefícios que suas práticas geram à sociedade brasileira, inclusive com altas dívidas fiscais.

O artigo acadêmico “Madeira sem lei: memória de um conflito fundiário no Paraná”, publicado em 2010 pela pesquisadora Dibe Salua Ayoub, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), aponta que a empresa comprava madeira dos posseiros e faxinalenses entre as décadas de 1950 e 1980. Na época, a maior parte da população rural era analfabeta, e a madeireira ficou conhecida por se aproveitar disso para enganar as famílias moradoras da região. Enquanto imaginavam estar assinando contratos para a venda da madeira, na verdade, formalizam a venda dos próprios terrenos, situação que dá origem a parte dos conflitos por terra na região.

Doações do MST

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) de todo o Brasil está em campanha permanente de solidariedade e já doou mais de 1.200 toneladas de alimentos. No Paraná, 28 acampamento e 36 assentamentos doaram cerca de 100 toneladas de comida saudável desde o início da pandemia até o dia 21 de maio. Também foram produzidas 2.200 marmitas agroecológicas e 400 máscaras de tecido.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Vivian Fernandes e Lia Bianchini