Rio de Janeiro

Subnotificação

Falta de precisão nos dados dificulta controle da pandemia no Rio, aponta médico

Mudança do método de contagem dos casos de covid-19 pela Prefeitura do Rio revelou problemas de falta de transparência

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Detalhamento de dados auxilia no planejamento da área da saúde para tratar casos de covid-19 - AFP

Nos últimos dias, a Prefeitura do Rio de Janeiro recebeu críticas pela mudança de metodologia de contagem das mortes por coronavírus que só levava em conta os dados dos cemitérios. Enquanto o Painel Rio Covid-19 exibia 1.801 mortes na segunda-feira (25), o levantamento da Secretaria de Estado de Saúde (SES) apresentava 2.978 vítimas, uma diferença de 1.177 casos entre os dois relatórios. Uma decisão liminar do Tribunal de Justiça (TJ-RJ) obtida pela Defensoria Pública do Rio (DP-RJ) e pelo Ministério Público Estadual (MP-RJ) obrigou a prefeitura a voltar atrás e apresentar os óbitos contabilizados nos hospitais.

O caso polêmico da Prefeitura do Rio visibiliza um problema que especialistas alertam desde o início da pandemia: as subnotificações. Além da falta de testagem da população que não permite um mapeamento detalhado do avanço da doença no território nacional, a subnotificação pode ser agravada por medidas como a manipulação de dados pela gestão executiva de municípios, estados e União.

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Ao Brasil de Fato, Rogério Valls, médico do Instituto Nacional de Infectologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explicou que é preciso ter acesso a dados de qualidade e mais detalhados para realizar um planejamento adequado para lidar com a covid-19 na área da saúde.

“A informação é fundamental para planejar, ter os dados de como está a qualidade do atendimento, a letalidade naquele ambiente que os pacientes estão sendo tratados, que lugar que está precisando de uma maior capacitação, de médicos mais bem treinados, isso é que é fundamental”, detalhou. 

Defasagem

Os problemas de notificação de casos e óbitos em decorrência do coronavírus não se restringem ao município do Rio - que tentou estabelecer a mudança de metodologia na semana em que o prefeito Marcelo Crivella (Republicano) debate a flexibilização do isolamento social e a abertura de parte do comércio em plena ascensão da curva de casos de covid-19 no município. Os dados fornecidos pela Secretaria de Estado e Saúde do Rio de Janeiro também não reportam a realidade da situação. 

Os números apresentados pelo painel do estado apresentam uma defasagem em relação aos dados dos municípios. Por exemplo, enquanto o painel do coronavírus covid-19 aponta que na quarta-feira (27), o município de Niterói, na região metropolitana, possui 1.692 casos da doença e 92 óbitos, a prefeitura informa que a cidade possui 1.798 casos e 99 óbitos. 

Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado e Saúde do Rio de Janeiro, a discrepância dos números ocorre, pois não há um protocolo estabelecido entre estado e municípios que determine um horário limite para subir os dados para a plataforma do governo federal. Outro problema seria a instabilidade do sistema do Ministério da Saúde. 

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“A subsercretaria de vigilância da SES é responsável pela contagem de casos. Os municípios inserem os seus dados no Ministério da Saúde. A subsecretaria da SES entra nesses canais e coleta os dados. A partir deles são gerados os boletins. Quando há discrepância, entramos em contato com as secretarias municipais para saber o que aconteceu. O sistema do Ministério possui instabilidade e isso pode gerar alteração, outro fator é a hora que o dado foi inserido pelo município, pois não há um horário determinado para publicar os números”, explicou o órgão. 

Para Valls, a informação disponibilizada ainda está longe do ideal para proporcionar uma melhor organização do sistema de saúde. "Se você conseguir estabelecer uma relação de quantos sintomáticos para assintomáticos, melhorar o dado. A capacidade de diagnosticar para não perder a informação é importante para o planejamento", afirmou.

Edição: Mariana Pitasse