Os servidores públicos do Recife estão em pé de guerra com o prefeito João Campos. As profissionais de enfermagem iniciaram uma greve nesta quinta-feira (8), já com protesto em frente a uma criticada unidade de saúde. Na tarde desta sexta-feira (9) é a vez dos professores da rede pública municipal deliberarem, em assembleia geral, se mantém ou não a greve – deflagrada na terça-feira (6), mas agendada para começar nesta sexta. Ambas as categorias criticam o descaso da prefeitura do Recife com as mesas de negociação, com cancelamentos e ausência de propostas.
Os professores do município teriam uma reunião com a prefeitura nesta quinta-feira (8), mas a ausência do enviado de Maíra Fischer, secretária de Administração, resultou no cancelamento do encontro. “A mesa foi adiada com uma justificativa aceitável, mas a secretária Cecília Cruz (Educação) poderia ter mantido e avançado em algumas questões”, avalia Jaqueline Dornelas, presidenta do Sindicato dos Profissionais da Educação do Recife (Simpere). “Temos um histórico negativo de mesas anteriores, improdutivas e marcadas por ausências de secretários e de propostas”, completa.
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A principal reivindicação da categoria diz respeito ao reajuste de 6,27% no piso do magistério, garantido por lei federal, e que os professores esperam que tenha rebatimento para todas as faixas da carreira da educação municipal do Recife. O valor deveria estar sendo pago desde janeiro. Também é reivindicado o aumento de 50% no ticket alimentação, subindo de R$ 22 para R$ 33 por dia, e o pagamento em conta do valor referente ao transporte. A gestão municipal ofereceu R$ 1 de aumento no ticket.
Uma nova reunião acontece na manhã desta sexta-feira (9), prevista para as 9h da manhã. Pouco depois, às 14h, centenas de educadores devem se reunir na quadra do Clube Português, onde podem deliberar por uma greve. “A frustração é inevitável porque já estamos em maio”, se queixa Dornelas, apontando leniência da gestão João Campos com os servidores. “A educação exige respeito, diálogo e valorização. Não aceitamos o silêncio como resposta”, completa. O Clube Português fica na avenida Rosa e Silva, nº 172, bairro das Graças.
Enfermeiros já estão em greve
Outra categoria que não tem tido o piso salarial respeitado são os trabalhadores da enfermagem. A Lei Federal 14.434 de 2022 define os valores de R$ 4.750 para enfermeiros com jornada de 44 horas semanais e R$ 3.325 para auxiliares de enfermagem e parteiras. A categoria também reivindica estrutura e segurança nas unidades de saúde. “Está faltando remédio para pressão alta e diabetes. Falta gaze para fazermos curativos”, discursou Ludmila Outtes, presidenta do sindicato da categoria, durante protesto nesta quinta-feira (8).


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No primeiro dia da greve, as profissionais da saúde municipal realizaram uma manifestação em frente à Policlínica e Maternidade Barros Lima, no bairro de Casa Amarela, zona norte da capital. A unidade tem sido alvo de denúncias da população e de figuras políticas da oposição. “O prefeito gasta mais de R$ 600 milhões em marketing para ficar dançando no Instagram em vez de vir aqui ver o que precisa na saúde. Vídeo no Instagram não salva vidas, João Campos”, dispara a presidenta do Sindicato dos Enfermeiros de Pernambuco (Seepe).
As enfermeiras também têm sofrido com dificuldades de avançar na mesa de negociação com a gestão do prefeito João Campos (PSB). “A gestão enrolou a categoria em diversas mesas, não trazem propostas decentes e na última segunda-feira (5) simplesmente desmarcaram sem uma proposta de nova data”, critica Outtes. Na terça-feira (6), as enfermeiras lotaram o auditório da Universidade Tiradentes (Unit), na Imbiribeira, onde aprovaram o início da greve para o dia 8. Uma reunião foi marcada pela prefeitura do Recife para a próxima segunda-feira (12).
A enfermagem tem data-base para o reajuste salarial em janeiro. A negociação está quatro meses atrasada. “Já estamos em maio e não há um apontamento da gestão por um reajuste salarial digno para essa categoria tão essencial para a saúde pública. Recebemos uma proposta ridícula de 1,5% de reajuste no salário base e de R$ 1 de aumento no vale alimentação. É tão ridículo que nem vale a pena discutir”, critica Ludmila Outtes. A categoria volta a protesta nesta sexta-feira (9), a partir das 9h, no pátio da prefeitura, no Cais do Apolo.


Outros servidores encerram greve
Também sofrendo com uma negociação que se arrasta há meses, os demais servidores do município – da assistência social, tecnologia e técnicos de diversas pastas – vinculados ao Sindicato dos Servidores Públicos do Recife (Sindsepre), deflagraram uma greve que começou no dia 30 de abril, às portas do feriadão do Dia do Trabalhador. Na segunda-feira (5), uma assembleia da categoria aconteceu na Câmara de vereadores do Recife, na tentativa de pressionar por diálogo com a gestão.
Com a sinalização de uma reabertura da mesa de negociação, a greve foi suspensa, mas novas assembleias foram convocadas para a terça, quarta e quinta-feira (6, 7 e 8), de modo que os serviços públicos seguiram funcionando, mas com um contingente menor de trabalhadores. Em todos os dias houve protestos com centenas de servidores em frente à prefeitura do Recife. Nesta quinta-feira (8), os trabalhadores aceitaram a proposta da gestão e encerraram a greve. O sindicato é liderado pelo servidor e vereador Osmar Ricardo (PT), base de apoio do prefeito João Campos.
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