FEMINISMO E INOVAÇÃO

Luzia Simões é a pedreira que desconstrói o machismo no Sertão do Pajeú (PE)

Pedreira atua em projetos tecnológicos da Casa da Mulher do Nordeste para a construção de fogões agroecológicos

Ouça o áudio:

Agricultora e pedreira encara o machismo para manter suas vontades - Foto: Ana Lira
Gosto de trabalhar e gostaria que outras mulheres tivessem a mesma opinião que eu

Luzia Simões é pedreira e compartilha força e saberes pela Agroecologia. Ela assumiu a construção de fogões agroecológicos no Sertão do Pajeú pernambucano. A tecnologia que está sendo feita e multiplicada entre mulheres da região colabora com o meio ambiente, gera renda e evita poluição nas residências. 

O fogão agroecológico aproveita melhor a queima da lenha, criando um sistema agregado por dois queimadores, forno e chaminé. A eficiência do fogão favorece a preservação da flora da caatinga. De acordo com a Casa da Mulher do Nordeste, organização que realiza a iniciativa, a tecnologia possibilita a redução em 45% no uso da lenha e 71% do carvão. 

Continua após publicidade

:: Papel de ferramentas tecnológicas durante a pandemia é destaque no programa Bem Viver :: 

Continua após publicidade

Pelas contas de Luzia Simões, que é também agricultora agroecológica no município de Carnaíba (PE), desde 2014 ela já construiu cerca de 300 fogões agroecológicos. Além de colocar a mão na massa, Luzia é responsável também por capacitar outras mulheres na multiplicação e apropriação da tecnologia, que está se espalhando pelas cidades do Pajeú pernambucano. 

Continua após publicidade

“Eu comecei só como se fosse uma brincadeira. Mas eu fui pegando gosto, gosto de trabalhar nessa profissão. E já trabalhei não só no meu município, mas eu posso dizer que já trabalhei em quase todo lugar, construindo fogão e cisterna também”, ressalta.  


Além de capacitar sobre a construção de tecnologias, Luzia participa de oficinas sobre Feminismo e Agroecologia / Foto: Ana Lira

Continua após publicidade

As cisternas em questão são as feitas de placas, que servem para captar e armazém água da chuva tanto para consumo humano, quanto para produção e criação de animais. Para se ter uma ideia da importância de cada uma das tecnologias em questão, o fogão agroecológico também evita uma contaminação dessa água captada pelas famílias pelas cisternas de placas. 

:: Documentário "Sertanejas" dá voz às histórias e lutas de mulheres cearenses :: 

Para acender o fogão agroecológico basta utilizar os gravetos caídos nos quintais produtivos. Ou seja, evita-se o desmatamento e reduz a jornada de trabalho de trabalho das mulheres. Lucineide Marinho foi uma das agricultoras que conquistou um fogão agroecológico feito pela pedreira Luzia Simões. Lucineide mora na comunidade de Laje dos Gatos, no município de Afogados da Ingazeira (PE). 

“É fácil de usar. Não precisa desmatar, quando podemos pegar os gravetinhos no quintal produtivo. Não precisa comprar gás na cidade, que o preço está muito caro, com preço muito caro. Então traz isso também, da questão da renda familiar. Melhora muito, com pouca madeira, não faz fumaça, as comidas ficam uma delícia. Ele é fácil de manusear e de construir”, explica.

:: Marcha de mulheres na Paraíba une luta contra violência e defesa da agroecologia ::  

Os materiais utilizados para construir o fogão agroecológico são tijolos, areia, cimento, cola e saibro, além de uma chapa de duas bocas, forno de ferro fundido, chaminé de ferro galvanizado, arame liso,  barras de ferro e tampas de ferro para as bocas da chapa. Luzia cita que fazer fogão agroecológico é fácil. Por outro lado, pelas palavras da pedreira, o complicado é desconstruir o machismo. Mas ela segue firme também nesta missão. 


Todo o processo de construção e capacitação da Casa da Mulher do Nordeste é feito mulheres / Foto: Arquivo pessoal 


“Logo no começo era muito difícil, por conta de aqui - e acredito que seja em todo lugar - há um grande preconceito com o trabalho da mulher, principalmente quando a mulher sai da sua residência e deixa a sua família para trabalhar em outros municípios. Havia uma grande rejeição por conta disso, tanto é que algumas mulheres que fizeram a oficina comigo não quiseram seguir a profissão por conta desse preconceito", afirma.

Continua após publicidade

Apesar da rejeição, ela garante que não mudará os planos. "Não ligo para o preconceito desse pessoal. Eu continuo trabalhando e gosto de trabalhar, e gostaria que outras mulheres tivessem a mesma opinião que eu”, destaca. 

Continua após publicidade

:: Guardiãs e guardiões de sementes crioulas partilham grãos como forma de resistência :: 

As atividades de construções e oficinas de fogões agroecológicos estão suspensas por conta da pandemia do novo coronavírus. As capacitações através da Casa da Mulher do Nordeste são feitas tanto com questões de construção e manuseio da tecnologia, como de temas de Agroecologia e Feminismo.

Edição: Douglas Matos