CINEMA

Cineclubes: espaço de debate, política e amor pelo cinema

Para historiador, encontros foram fundamentais para a popularização de diversos clássicos do cinema brasileiro

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Deus e o diabo na terra do sol
O filme "Deus e o diabo na terra do sol" (1964), de Glauber Rocha, que retrata a vida sofrida no sertão brasileiro, faz parte do acervo de muitos cineclubes do país. - Reprodução
O que faz com que eu me aproxime desse modo de ver cinema é justamente a conversa após o filme

O cineclube é um espaço democrático e sem fins lucrativos, que reúne pessoas em uma sessão cinematográfica seguida de uma roda de conversa entre o público para compartilhar suas percepções sobre a obra.

Cinéfilo ou não, o que importa é expressar a subjetividade sobre o que foi visto nas telas em harmonia com a pluralidade de ideias. O Movimento dos Cineclubes surgiu na França no começo dos anos 20 do século passado , e rapidamente se expandiu para outros países da Europa. 

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Inicialmente, tratavam-se de reuniões periódicas com intelectuais e cineastas para discutir cinema, mas logo as sessões semanais seguidas de debates se tornaram uma tradição mantida até hoje. 

E os cineclubes, onde predominava a burguesia, passaram a ocupar os subúrbios operários de Paris e promover acesso gratuito ao cinema e o debate crítico entre as camadas populares.

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Considerado o cineclube pioneiro no Brasil, o Chaplin Club, localizado no Rio de Janeiro, promoveu a estreia do longa "Limite", de Mário Peixoto, um marco do cinema brasileiro e mundial. 

Os cineclubes foram fundamentais para a popularização de diversos clássicos do cinema brasileiro, explica Orestes Augusto Toledo, historiador do Museu da Arte e do Som (MIS) de Campinas, interior de São Paulo. 

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“Eu morava na periferia de Campinas, da época, dos anos 60. Então eu frequentava, e acabei descobrindo que além do cinema comercial estadunidense - que eu assistia e gostava - havia um outro tipo de cinema diferente. Assim, eu acabei descobrindo, assistindo no bairro, por exemplo, filmes do Glauber Rocha”.

O diálogo após o filme é uma das características mais marcantes dos cineclubes e responsável por cativar grande parte dos frequentadores, como é o caso do Bruno Lopes de Paula, 29 anos, organizador de encontros cineclubistas. 

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“O que faz com que eu me aproxime bastante desse modo de ver cinema é justamente a conversa após o filme. Porque você rompe o caminho que a gente é educado a ver cinema, que é a questão do usufruto próprio. Você assiste ao filme numa sala escura, consome, e aquilo fica após a sessão para você ou para uma conversa muito restrita. Quando você amplia o debate para uma roda, você amplia as próprias percepções possíveis do filme”, destaca. 

Com a pandemia do novo coronavírus, algumas organizações de cineclubes disponibilizaram filmes online para o público. Mas, para o historiador Orestes Toledo, vale lembrar que o encontro presencial dos cineclubistas - nome dado aos frequentadores de cineclubes - é um fato cultural insubstituível.

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“O cineclube, nada substitui. E para ser cineclube tem que ser presencial. Você pode ter um cineclube virtual, conversar com as pessoas, discutir e tal, mas a essência do cineclube é presencial. Em relação à arte, uma coisa não substitui a outra, e nada é obsoleto. As coisas convivem entre si com objetivos diferentes e possibilitando realizações estéticas diferentes", ressalta. 

Segundo um levantamento divulgado pelo movimento #JuntosPeloCinema, na quarta-feira (15), para 75% dos entrevistados, o cinema será prioridade no retorno das atividades pós-quarentena. A pesquisa foi feita online e participaram mais de 27 mil pessoas, com idades que variam entre 16 e mais de 65 anos, de todas as regiões do Brasil.

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Enquanto os encontros nas sessões de cineclubes não são retomados, você pode acessar gratuitamente o Spcine Play para assistir clássicos do cinema brasileiro, como Hector Babenco, Zé do Caixão e Suzana Amaral. 

Para quem ainda não conhece, o Spcine Play é uma plataforma pública de streaming da Empresa de Cinema e Audiovisual de São Paulo (Spcine). Periodicamente, o circuito cineclubista da Spcine organiza debates online sobre obras que fazem parte do acervo da plataforma.

*Sob supervisão de Geisa Marques 

 

Edição: Douglas Matos