Rio Grande do Sul

"Fora Bolsonaro"

Centrais e movimentos sociais protestam contra política genocida de Bolsonaro no RS

Ações em Porto Alegre e diversas cidades gaúchas fazem parte do Dia Nacional de Luta e de Luto

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Na Capital, manifestantes soltaram balões pretos em memória às quase 100 mil vítimas da covid-19 - Ezequiela Scapini

Com o país prestes a alcançar a trágica marca de 100 mil vítimas fatais causadas pelo novo coronavírus, centrais sindicais e movimentos sociais realizam em todo o país, nesta sexta-feira (7), o Dia de Luta e de Luto. De norte a sul do Brasil, faixas e atos simbólicos denunciam a postura negligente de Bolsonaro frente à pandemia e sua política econômica, que leva o país a atingir altas taxas de desemprego e desigualdade social.

No Rio Grande do Sul, as manifestações iniciaram cedo pela manhã, com atos simbólicos em frente a hospitais e empresas. Em São Leopoldo, os metalúrgicos madrugaram para dialogar com trabalhadores que iniciavam seu turno, em defesa da vida e do emprego. No Instituto de Cardiologia, em Porto Alegre, o Sindisaúde/RS aproveitou a troca de turno dos trabalhadores para cobrar dos governos a testagem para todos os profissionais da Saúde.


Ato em Porto Alegre cobra testagem para trabalhadores da Saúde / Divulgação CUT-RS

Outras diversas cidades registraram protestos pelo “Fora Bolsonaro”, como Rio Grande, Caxias do Sul, São Leopoldo, Erechim, Getúlio Vargas e São Valentim, com participação de diversos sindicatos e movimentos sociais. Outras lutas estiveram presentes, como a defesa do SUS, da Educação, da agricultura familiar. Durante as ações, foram tomados todos os cuidados de higiene e distanciamento.

Em Porto Alegre, o ato simbólico iniciou às 11h, no Largo Glênio Peres, junto ao Mercado Público, no centro da cidade, com fortes críticas também às políticas do governador Eduardo Leite e do prefeito Nelson Marchezan Junior com relação à covid-19. A manifestação, transmitida ao vivo pelo Brasil de Fato RS e pela Rede Soberania, foi realizada por centrais sindicais gaúchas e contou com uma celebração religiosa ecumênica e falas de lideranças das centrais, de sindicatos e de movimentos sociais. Ao final, os manifestantes soltaram 100 balões pretos em memória às 100 mil vítimas da covid-19.

 


Em Caxias do Sul, ato simbólico na Praça Dante Alighieri teve exposição de cruzes, lembrando as 100 mil mortes / Divulgação / CUT-RS

Moradora do Morro da Cruz e coordenadora do Conselho Municipal de Saúde de Porto Alegre Rosa Helena Cavalheiro Mendes resumiu o sentimento dos manifestantes: “O governo não dá bola para a população mais carente, para as pessoas abandonadas nos hospitais, para os profissionais da Saúde que estão na linha de frente, portanto esse ato pede fora Bolsonaro, fora Marchezan, fora Leite, por conta da destruição que está sendo feita em nosso país!”

Indignação compartilhada pelo diretor do Sindipetro-RS, Dary Beck Filho. “Temos que estar aqui demonstrando a indignação da categoria dos petroleiros e do povo brasileiro com essa irresponsabilidade e essa política genocida do Bolsonaro. Temos que tirar esse governo antes que ele mate mais brasileiros e brasileiras”, afirmou

Fernando Fernandes, da coordenação estadual do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB-RS), ressaltou ser inadmissível que tenha se chegado a esse número de mortes e o Brasil tenha se tornado epicentro no mundo dessa doença. “É inadmissível que Bolsonaro, Eduardo Leite e Marchezan não tomem medidas efetivas.”

O coordenador lembrou ainda a privatização da água, em andamento no país, após a aprovação do novo marco do saneamento no país, e também no RS. “O governo Leite está entregando barragens, vai provocar um tarifaço e com isso aumento abusivo. Nesse contexto de pandemia os trabalhadores deveriam ter medidas de diminuição dessas tarifas. Privatizar vai prejudicar a retomada da economia. É hora de colocar a vida acima do lucro das empresas e dos patrões.”


Agricultores familiares protestam em São Valentim / Divulgação Fetraf-RS

Daniele Cazarotto, dirigente estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST/RS), afirmou que o movimento se solidariza com as famílias que perderam seus entes queridos. “Nós do MST, estamos zelando por nossas vidas e produzindo alimentos para poder compartilhar com quem tanto necessita nesse período. Estamos desenvolvendo uma quarentena produtiva para repartir aquilo que produzimos, comida para a mesa dos trabalhadores”, afirmou.

Ela destacou ainda que tão importante quanto enfrentar o vírus é enfrentar a violência. “Também precisamos enfrentar o vírus da violência contra as mulheres, os negros e os LGBTs, que vêm sofrendo violência diária dentro de suas casas e também pelo Estado. Nesse dia de luta é importante vencer todas as formas de vírus. Precisamos investir em políticas públicas para que os trabalhadores possam permanecer em suas casas com segurança para que a gente possa enfrentar esse vírus.”

Presidente do Sindisaúde-RS, Julio Cesar Jesien, frisou o genocídio da população brasileira e o abandono dos profissionais de Saúde, relatando que diretores do sindicato se contaminaram fazendo atos em defesa dos trabalhadores. “São mais de 230 mil trabalhadores da Saúde contaminados. Aqui em Porto Alegre temos mais de uma dezena de trabalhadores da Saúde em CTI (Centro de Terapia Intensiva). Para quem não acredita na doença, está na hora de usar máscara e seguir medidas recomendadas. É preciso que cada um de nós saia daqui com compromisso de reforçar o SUS, o maior sistema de saúde do mundo. Sem ele, com certeza teríamos muito mais de 100 mil mortos”, afirmou.

Além do Brasil ter altas taxas de contaminação entre trabalhadores da Saúde, o país registra recorde mundial de mortes de profissionais de enfermagem, com 30% dos óbitos da categoria em todo o planeta. Não bastasse, Bolsonaro vetou, nesta quarta-feira (4), um projeto de lei aprovado pelo Congresso que concedia indenização de R$ 50 mil para trabalhadores da Saúde incapacitados pela covid-19.


Ato em Erechim (RS), em frente ao Hospital Santa Terezinha / Divulgação Fetraf-RS

Presidente do Sindicaixa, representando o Fórum Sindical, Popular e de Juventudes, Érico Corrêa, ressaltou a necessidade de exposição dos trabalhadores para realizar a manifestação. “Resolvemos sair de casa, cumprindo regras e cuidados, em memória dos 100 mil mortos pela covid. Temos governos pressionados pelo poder econômico, pelos capitalistas, que no nosso país aumentaram suas fortunas em 36 bilhões de dólares durante a pandemia."

Conforme relatou Ronaldo Souza, liderança da União de Vilas da Cruzeiro, nas periferias o povo já sabe sobre essa realidade vivida no dia a dia, que tem piorado. “Estamos conversando com o conselho distrital da região e o responsável da prefeitura. Os dados são alarmantes, já temos em torno de 15 óbitos na Grande Gruzeiro, esse é dado oficial, mas muita gente morre sem ser registrada.” Ele destacou que como o governo municipal não age, resta o esforço do movimento comunitário. “Estamos começando a criar agentes de saúde nos territórios. Vamos começar a cobrir um pouco o papel do Estado para não deixar as pessoas morrerem.”


Ato em Porto Alegre / Ezequiela Scapini

Ronaldo também lembrou do ato em defesa da Saúde realizado em frente ao Postão da Cruzeiro. De acordo com ele, os profissionais da Saúde reivindicam itens básicos como testagem e EPIs. “Nós, das lideranças estamos lá. Ainda temos problema de mobilizar o povo, conseguimos mobilizar no Postão, onde estão os piores dados em relação à covid. Estamos resistindo”, finalizou.

“É um momento de muita tristeza, ver o descaso das nossas políticas públicas com tantas pessoas morrendo nas filas por falta de Saúde pública”, destaca a conselheira do Movimento Fé e Política de Porto Alegre, Loiva Terezinha Dietrich. “Lutamos pela vida das pessoas. Fora Bolsonaro genocida, o governo não se importa com a população, principalmente com o povo da periferia que não tem acesso a nada”, criticou.

Representando os povos de terreiro, Baba Diba de Iyemonja também destacou o abandono da população mais vulnerável. “Primamos pela vida, estamos neste ato porque 100 mil mortos é um número assustador. Para nós da periferia, já estão tendo nomes, é o nosso povo que está tombando.” O líder religioso também criticou a política do prefeito da Capital, Nelson Marchezan Junior. “Estamos denunciando o descaso aos trabalhadores da Saúde com negação de EPI, a demissão dos trabalhadores do IMESF (Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família), não dá pra aceitar isso em plena pandemia”, ressaltou.

Além de reforçar a irresponsabilidade do governo frente à pandemia, o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, criticou a entrega da soberania nacional e o alinhamento do Brasil com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Se ele não for reeleito, “o Brasil vai ficar sozinho no mundo como único país a praticar intencionalmente a essa política de morte, porque para esse governo pouco importa o idoso, o doente, o vulnerável, o trabalhador que precisa trabalhar, se cuidar, e pouco importa a economia”.


Ato em Porto Alegre / Ezequiela Scapini

Ele criticou ainda a corrida pela reabertura apressada de setores econômicos não essenciais. “Não é verdade que se abrir a economia as coisas vão funcionar, para isso tem que ter uma política de preservação de emprego, renda, recurso para negócio que o pequeno e médio empresário não fechem suas portas, e se garanta o emprego.” Para Amarildo, a luta é cotidiana, “na família, local de trabalho, bairro, igreja, movimento, amigos. É preciso resistência contra a necropolítica bolsonarista e contra entrega do Brasil aos interesse do capitalismo norte-americano”.

Vitor Martinez, do Levante Popular da Juventude, destacou a soltura dos balões pretos “em luto contra a política de morte de Bolsonaro”. Ele contou que o Levante realizou diversas campanhas de solidariedade no RS, se somando às organizações populares que garantem um pouco de dignidade aos mais necessitados. “Fazemos arrecadação de alimentos e produtos de higiene e distribuímos junto às lideranças comunitárias. A solidariedade é a única forma que nosso povo tem de resistir a esse projeto genocida do Bolsonaro. Agora, dia 11, é o Dia do Estudante, a UNE está organizando um ato, a juventude não vai ficar quieta”, concluiu.

Atos pelo Brasil

Confira como foi a manifestação nas diversas cidades brasileiras, no minuto a minuto do Brasil de Fato:

 

* Colaboração de Fabiana Reinholz

 

Edição: Katia Marko