Autocuidado

Alimento ultraprocessado é incoerente na escolha de uma vida vegana

A solução para comer melhor, segundo a nutricionista Mirella D'Ambrosio Guida é estreitar os seus laços com a cozinha

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Cuidar da alimentação é cuidar do seu bem-estar
Cuidar da alimentação é cuidar do seu bem-estar - Foto: AFP
Quando a gente está pensando na saúde do animal, a gente nunca pode esquecer da nossa saúde

A escolha por uma vida vegana pode estar associada a saúde, defesa dos animais e consciência da cadeia produtiva alimentar. Contudo, a opção por alimentos veganos ultraprocessados pode por abaixo esses ideais para o corpo, ambiente e sociedade. 

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A nutricionista Mirella D'Ambrosio Guida é especialista em transtorno alimentar, obesidade e mindful eating. Ela diz que a correria do dia a dia faz com que as pessoas – veganas ou não – recorram a comidas prontas e ultraprocessadas na tentativa de não "perder tempo". Na análise da especialista, esse hábito é incoerente com um modo de vida vegana.  

"Eu acho que quando a gente está pensando em cuidado com a saúde do animal, a gente nunca pode estar esquecendo também da nossa saúde e quando a gente está falando da nossa saúde, a gente está falando do ser humano com um todo e está falando em saúde do meio ambiente também", destaca. 

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A nutricionista diz que os alimentos ultraprocessados além de menos saudáveis geram mais resíduos sólidos, devido a embalagem. Outro ponto que na análise da especialista faz com as pessoas recorram mais aos ultraprocessados é o discurso da chamada indústria da dieta.

Um exemplo ressaltado é a sensação equivocada de que alimentos integrais são menos industrializados. Para termos uma ideia, Mirela D'Ambrosio Guida afirma que o pão francês é menos prejudicial que o pão de forma integral industrializado, ao contrário do que muitas pessoas imaginam.  

Processados e hábitos alimentares

Os famosos arroz e feijão perderam espaço na alimentação brasileira. Segundo dados da última Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2009 divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo de arroz caiu 40,5%, tendo passado da média de 24,5 para 14,6 quilos por pessoa ao longo de um ano. Já o feijão, teve redução de 26,4%, saindo de 12,4 para 9,1 quilos anuais. 

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Em compensação, houve aumento na compra de refrigerante de cola (39,3%, de 9,1 para 12,7 quilos). A nutricionista associa não só a correria da vida moderna a esses resultados, mas também a pressão feita pela "indústria da dieta". 

"Eu sinto que a alimentação vem mudando muito por conta de a gente usar muito essa palavra do 'terrorismo nutricional', então, começaram a demonizar o arroz com feijão para poder usar esses alimentos ultraprocessados, que é a alimentação americana, tudo de caixinha, de potinho. Eu nunca vou esquecer quando veio uma empresa super de respeito no consultório e me trouxe um purê em pó. Mas olha como é fácil: purê em pó. Como se purê fosse difícil de fazer", salienta. 

Amor à cozinha

Na avaliação da nutricionista o caminho é, então, manter uma relação mais próxima com a cozinha. Este seria o caminho para conhecermos melhor os alimentos, construindo uma relação mais harmoniosa com o nosso corpo. 

"Se eu quero ter uma boa relação com a comida. Essa relação passa pela cozinha. Eu concordo que a gente corre muito, trabalha muito, mas se não dedico um tempo a cozinhar ou para preparar eu mesmo o alimento e congelar coisas rápidas eu sempre vou deixando de lado. E o principal: eu deixo de lado a minha intenção pelo meu cuidado", defende.

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Uma dica para consumir alimentos mais saudáveis e menos processados é procurar feiras agroecológicas na sua cidade. Pelo país, as unidades do Armazém do Campo também oferecem produtos orgânicos e livre de processamentos. O Armazém do Campo possui lojas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Caruaru e São Luís.  

Edição: Daniel Lamir