Ataque

Ponte Jornalismo sai do ar quando Brasil registra 20 mil ataques cibernéticos por dia

O site do veículo ficou indisponível diversas vezes entre os dias 19 e 22 de agosto

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Os ataques chegaram a impedir o lançamento de uma campanha de membros - AFP

Em média, aproximadamente 20 mil ataques cibernéticos por dia ocorreram no Brasil entre os dias 19 e 22 de agosto, segundo a plataforma Kaspersky Lab. Uma destas investidas foi contra o veículo de comunicação Ponte Jornalismo, que cobre principalmente segurança pública e violência policial. Durante esses dias, o site ficou diversas vezes “fora do ar”. 

Tudo indica que a plataforma tenha sofrido um "ataque de negação de serviço", conhecido também como DoS Attack (Denial of Service Attack). Não chega a ser uma invasão, mas trata-se de uma tentativa de sobrecarregar o sistema a fim de inviabilizar a sua utilização, deixando a página, assim, indisponível.

Segundo Fausto Salvadori, um dos fundadores da Ponte, os ataques, virtuais ou não encarecem a manutenção do site. Ao longo dos últimos meses, o veículo também tem sido alvo de uma enxurrada de processos judiciais movidos, majoritariamente, por policiais militares. Resultado: os custos com advogados quadruplicou de 2019 para 2020. “Esses são os obstáculos que quem quer fazer jornalismo independente enfrenta”. 

Na mesma linha, no dia 20 de agosto, o veículo publicou que “o site da Ponte Jornalismo está saindo do ar porque vem sendo alvo de intensos ataques. (...) Nosso jornalismo incomoda gente poderosa e com recursos. Esses ataques são frutos disso”. 

Para Salvadori, o cenário é “muito frustrante”, uma vez que as reportagem da Ponte são de demandas imediatas, que precisam ser veiculadas em tempo hábil. “A gente recebe denúncias de pessoas que são vítimas da violência do Estado, agredidas pela polícia, que são mortas, presas por um crime que não cometeram. São denúncias muito fortes que queremos dar o quanto antes, porque sabemos que a publicação pode fazer diferença”, afirma o jornalista. 

Os ataques chegaram a impedir o lançamento de uma campanha de membros semelhante às realizadas pelos jornais britânico The Guardian e o espanhol El Diario, que aproximam os leitores dos veículos. No caso da Ponte Jornalismo, aqueles que participarem da campanha poderão participar do processo de construção de notícias do veículo.

Paralelamente, no entanto, os ataques despertaram expressivo apoio à Ponte Jornalismo. “A gente recebe muita solidariedade nas redes, vários programadores se ofereceram para ajudar a lidar com esse problema, muita gente começou a fazer doações no programa de catarse que temos”, relata Salvadori. 

Para o jornalista, esse é o retrato do Brasil hoje: em meio à infinidade de ataques virtuais e reais, há uma resistência vívida, “porque todo mundo sabe que se não resistir, a democracia não vai sobreviver. Mas essa é a boa notícia: a gente vive tempos muito difíceis, mas que também são tempos de muita resistência e de luta”.

Edição: Rodrigo Durão Coelho