Rio Grande do Sul

Questão indígena

Artigo | Tutela ao reverso do presidente da Funai

O presidente da Funai atua a serviço de garantir o interesse dos especuladores, invasores e grileiros de terras

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
A caneta governamental está sendo conduzida por interesses predatórios - Reprodução

Houve, no passado recente, toda uma luta dos povos indígenas para se livrarem das amarras da tutela estatal, pois seguia na contramão do protagonismo dos povos, impedia sua liberdade e anulava a possibilidade de serem sujeitos de direitos - artigo 232 da Constituição Federal de 1988.

Esse ofício circular - 28/08 de 2020 - do presidente da Funai, Marcelo Augusto Xavier Silva, retoma a ideia da tutela do Estatuto do Índio de 1973, Lei 6.001, mas agora ao reverso, ou seja, não para protegê-los, mas para inibi-los, controlá-los, amedrontando-os a não agirem em sua defesa pelos seus direitos e pelas suas terras. Portanto, para proteger grileiros e fazendeiros invasores, o atual presidente da Funai propõe a tutela ao reverso.

Ofício circular - 28/08 de 2020 / Reprodução

Isso deveria ser questionado imediatamente pelo Ministério Público Federal, porque trata-se de uma evidente tentativa de coagir os indígenas e, ainda mais grave, a Funai se coloca, outra vez, contra os interesses públicos - já que as terras indígenas são patrimônio da União -  para atuar de forma expressa -  assim como fez com a Instrução Normativa de Número 09/2020 - na defesa dos interesses provados. Além disso, o presidente da Funai extrapolou os limites de sua função e atua, como servidor público, para intimidar os indígenas, aqueles a quem deveria defender e assistir. Portanto, abusa do poder que lhe foi dado, em função do cargo que ocupa, agindo à revelia das normas administrativas, com os intentos de causar medo e preocupação aos povos, e está disponibilizando as estruturas da Funai, seu aparato técnico e pessoal, para perseguir física e juridicamente as comunidades em luta pela terra.

Pelo que se nota, o atual presidente da Funai atua com o exclusivo interesse de garantir aos especuladores, invasores e grileiros de terras que não haverá demarcações e que todas aquelas áreas demarcadas serão postas à disposição para exploração. Os que ousarem atuar em sentido contrário sofrerão as sanções da Funai, especialmente os povos indígenas. Ou seja, é uma tutela ao reverso em curso, para privilegiar os predadores da natureza.

 

(*) Cimi Sul – Equipe Porto Alegre

Edição: Marcos Corbari