Assista

Mesmo em queda nas redes, apoio político de Bolsonaro será disputado nos municípios

Lavajatistas impulsionaram perda de apoio do presidente no Twitter mas Datafolha indica respaldo popular

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |

Ouça o áudio:

Auxílio Emergencial é um dos fatores que explica respaldo popular de Bolsonaro em 2020, apesar de queda no apoio virtual - Sérgio Lima/AFP

O papel dos influenciadores não é novo. Na sociologia, desde os anos 40, é estudado que a formação da opinião pública não acontece de uma forma direta. Ela é mediada por pessoas com influência em suas comunidades, que processam as informações e repartem entre seus pares. 

Na política, a introdução das redes sociais e o surgimento de figuras públicas - especialmente em redes como o Twitter e o Facebook -, fizeram dos influenciadores digitais proeminentes no debate público sobre a crise e o contexto brasileiro, rivalizando até mesmo com o poder das grandes emissoras hegemônicas. 

“O fenômeno das mídias sociais, ao descentralizar a informação, ao fazer essas formas de comunicação mais distribuídas, apenas evidenciou o papel deste, e talvez tenha empoderados esses atores. é uma coisa que funciona na política, mas também no marketing”, explica Pablo Ortellado, professor de Gestão Pública da Universidade de São Paulo (USP). 

Em 2020, pesquisas recentes sobre o tema apontam que grande parte dos influenciadores políticos têm público mais à esquerda. Um levantamento feito pela Folha de São Paulo, por exemplo, que analisa a posição ideológica de mil figuras públicas no twitter desde maio do ano passado, constatou que 66% das contas se deslocaram da direita para o centro, em 2020.  

Ortellado avalia que lavajatistas impulsionaram a debandada, mas não vê o enfrentamento à pandemia pelo Governo como um elemento determinante. 

“Principal fator foi as disputas no PSL, que levaram a rompimentos no partido e saída do Sérgio Moro, que dissociou o lavajatismo do Governo, ou pelo menos parte dele. Acompanhando esse campo intermediário, eu não vejo o tema da covid como um elemento marcador, acho que tem mais haver sobretudo com os traços autoritários, que certos setores liberais rejeitam, e o envolvimento com a corrupção ou falta de compromisso para combater a corrupção, para esse setor mais lavajatista”, afirma o pesquisador, que também é colunista da Folha. 

A perda de apoio do presidente nas redes, no entanto, não significa uma queda de seu respaldo popular. Pelo menos é o que revela a última pesquisa do Datafolha de agosto, que mostra Bolsonaro no auge de sua popularidade, com 37% dos brasileiros considerando seu governo ótimo ou bom. 

Doutor em Ciências Políticas pela USP,  Vinícius do Valle minimiza o aumento da popularidade do presidente, apesar de acreditar que o bolsonarismo deve influir sobre as eleições municipais deste ano.

“Entre as faixas de renda mais baixas houve uma aproximação que não tinha antes. Quando a gente vai ver estes dados, a gente vê que o apoio dele ainda é muito reduzido se comparado a outros governos, comparado com outros políticos, inclusive. Eu tenho por certo que vai ter uma influência do presidente e da rede que o sustenta, pelo menos nas principais cidades brasileiras. Também vamos ver uma disputa dentro das próprias forças políticas para dizer quem é mais Bolsonaro”, afirma do Valle, que integra uma equipe que está pesquisando o bolsonarismo para a Fundação Friedrich Ebert Stiftung. 

A guerra criada pelo bolsonarismo, na opinião do cientista política, envolve a criação de uma política do imediatismo, um modo de governar que não permite planejar um futuro projeto de país.

“Eu acho que o objetivo final do Bolsonarismo é a destruição da institucionalidade brasileira. Para quem está preocupado com o que a sociedade conseguiu avançar nas últimas décadas, a gente vê isso como uma tentativa de destruição total dos avanços na área social, na área institucional, e ele tem como modelo uma sociedade de pessoas fazendo a sua própria segurança, e fazendo o seu próprio sustento, sem nenhum tipo de direitos. Um nível de integração social bastante degradado”, considera.

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho