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Argentina: polícia de Buenos Aires despeja ocupação em Guernica durante a madrugada

Oficiais Incendiaram casas improvisadas e utilizaram gás lacrimogêneo; selfies de policiais na repressão geraram revolta

Brasil de Fato | Buenos Aires (Argentina) |
Despejo interrompe negociações em andamento com as famílias da ocupação em Guernica - Resumen Latinoamericano

A polícia de Buenos Aires executou a ação de despejo na ocupação da localidade de Guernica, localizada no município Presidente Perón, na província de Buenos Aires. A área de cerca de 100 hectares estava ocupada, desde julho, por centenas de famílias que ainda esperavam soluções por parte do governo da província, comandado por Axel Kicillof (Frente de Todos). O despejo foi autorizado e iniciado nesta madrugada (29), por volta das 4h da manhã, quando foi realizada por a queima das casas improvisadas no local, acompanhada de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha disparadas contra os presentes.

Os moradores tentaram resistir à força policial com pedras e pedaços de pau. O ministro de Segurança da província de Buenos Aires, Sergio Berni, afirmou, pouco antes das 8h, que "já está tudo desocupado". Ele acompanhou a ação presencialmente.


Uma criança moradora da ocupação brincando com cartuchos de balas utilizadas no despejo foi uma das imagens emblemáticas da manhã desta quinta-feira.  / Reprodução

A data limite firmada pelo juiz Martin Rizzo, responsável pelo caso, foi o dia 30 de outubro. Desde o dia 15, as negociações com o governo provincial avançaram, com acordos diretos com famílias instaladas no local. Cerca de 600 famílias entraram em acordo com o governo da província de Buenos Aires para deixar o terreno em Guernica em troca de materiais de construção e dinheiro de aluguel. Ao longo desses meses, diversas famílias relataram que os acordos não foram cumpridos, e muitos voltaram à ocupação.

Moradores da ocupação, que concederam entrevistas a diversos meios esta manhã, demonstravam medo e desespero. Muitos perderam colchões, roupas e documentos, queimados pela polícia. Eles relatam que não tem para onde ir.

Um dos policiais da operação, Juan Cruz Alcorta, publicou uma selfie com outros dois oficiais durante a repressão em Guernica. No fundo da foto, é possível visualizar a fumaça provocada pelo incêndio das casas das famílias na ocupação.


Tuíte da deputada do Frente de Izquierda, Myriam Bregman, sobre a selfie dos policiais em meio ao despejo / Reprodução

Em entrevista à rádio Futurock, Alcorta afirmou que tirou a foto "para mostrar estava tudo sob controle": "Foi um trabalho que realizei com meus colegas e tiramos uma foto para mostrar a situação. Não vejo falta de respeito", afirmou.

O governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, ainda não se pronunciou sobre o caso. Kicillof, da coalizão peronista do governo atual, Frente de Todos, recebe críticas por ordenar o despejo violento executado por seu ministro de Segurança, Sergio Berni.

Pelo menos 37 pessoas foram detidas e há rumores sobre o desaparecimento de um jovem de 18 anos e morte de duas mulheres, ainda sem confirmação. Nove efetivos policiais tiveram lesões leves.

 

 

Edição: Luiza Mançano