Eleições nos EUA

Mobilização negra é considerada decisiva para virada histórica de Biden na Georgia

Estado que tradicionalmente vota pelo partido republicano, de Trump, é palco de protestos antirracistas desde junho

Brasil de Fato | Florianópolis (SC) |
Assassinato de Rayshard Brooks, em junho, motivou protestos na capital Atlanta e nas principais cidades da Georgia - JOE RAEDLE / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

A mobilização negra é considerada determinante para a virada histórica de Joe Biden (Partido Democrata) contra Donald Trump (Partido Republicano) no estado da Georgia, Sudeste dos EUA. O candidato da oposição passou à frente na contagem com quase 99% das urnas apuradas, e está cada vez mais perto de ser eleito o 46º presidente do país. Ainda com a apuração em andamento, o secretário de Estado da Georgia, Brad Raffensperger, afirmou que haverá recontagem no estado por conta da margem reduzida de votos entre os candidatos.

O Partido Democrata não vence as eleições presidenciais na Georgia há 28 anos – a última vez foi com Bill Clinton, em 1992. Das últimas 12 eleições, os republicanos venceram nove. Se a virada apertada se confirmar, Biden chegará a 280 delegados, dez a mais que o necessário para assumir a Casa Branca.

Nos chamados “estados-chave” da corrida presidencial estadunidense, a Georgia é o que tem a maior porcentagem de eleitores negros: 32,6%, quase 20 pontos percentuais a mais que a média nacional.

Parte dessa estatística pode ser atribuída ao projeto New Georgia, articulado por líderes políticos como Stacey Abrams, candidata negra e democrata a governadora em 2018. Nos últimos dois anos, a iniciativa foi responsável por garantir o registro eleitoral de 800 mil cidadãos, em sua maioria negros, que eram excluídos das votações anteriores no estado por problemas com a documentação.

Abrams não foi eleita governadora por uma diferença de 2% dos votos, e é apontada como favorita nas eleições de 2022. Nos EUA, o voto não é obrigatório, e o carro-chefe de suas campanhas é justamente estimular que a população negra exerça seu direito nas urnas.

Questão racial

Com perfil rural e conservador, a Georgia tem sua história atravessada pela escravidão e pelo racismo. Até a década de 1960, havia segregação racial em todas as escolas – brancos e negros jamais estudavam juntos.

Segundo o Censo dos EUA de 2018, 31,6% da população é negra ou afro-americana, e cerca de 58,3% são brancos. A parcela de negros na Georgia cresceu 15,4% desde 2010, especialmente nos subúrbios das grandes cidades o que intensificou os conflitos raciais e as mobilizações antirracistas.

Este ano, em que a violência policial contra negros se tornou um dos principais temas da campanha, o estado também foi palco de protestos. Os mais intensos foram desencadeados pelo assassinato de um homem negro, Rayshard Brooks, durante uma abordagem policial no dia 12 de junho no estacionamento de uma lanchonete na capital Atlanta.

O episódio ocorreu em meio à comoção nacional pelo assassinato de outro homem negro, George Floyd, no estado de Minesotta, 17 dias antes.

As mobilizações na Georgia levaram à renúncia da chefe da polícia de Atlanta, Erika Shields, e cinco meses depois são consideradas por analistas locais como a principal explicação para a vitória do Partido Democrata no estado.

O atual presidente, Donald Trump, que critica a “violência do movimento negro” e não adota uma postura de repúdio à brutalidade policial, era um dos principais alvos dos protestos.

Cenário eleitoral

Cinco estados ainda não têm resultado confirmado, e Trump ameaça contestar uma suposta fraude na Suprema Corte. Para vencer nas urnas, o candidato republicano precisaria vencer na Carolina do Norte e na Pensilvânia e virar o resultado na Geórgia ou em Nevada.

As chances de uma virada do atual presidente, à esta altura, são consideradas remotas.

Edição: Leandro Melito